SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

VENENOS

Gaúchos protestam contra projeto do governo Leite que libera venda de agrotóxicos proibidos em seus paí­ses de origem

Ecologistas, centrais sindicais e movimentos sociais realizaram ato simbólico nesta segunda-feira, 28, em frente ao Palácio Piratini, contra o projeto de lei 260/2020. De autoria do governo Eduardo Leite (PSDB), o PL flexibiliza a legislação para a venda de agrotóxicos proibidos no Rio Grande do Sul, em sintonia com a polí­tica nefasta do governo Bolsonaro (sem partido). O Sintrajufe/RS esteve presente no protesto.

A proposta suprime do texto da pioneira lei estadual 7.747/1982 a proibição de comercialização de produtos importados que não tenham autorização de uso em seu paí­s de origem. Caso seja aprovada pela Assembleia Legislativa, que poderá votar o PL 260 em plenário na terça-feira, 29, bastará que as substâncias agroquí­micas sejam registradas em órgão federal e cadastradas na Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam), para que possam ser vendidas no Rio Grande do Sul.

Para a secretária de Meio Ambiente da CUT-RS, Eleandra Koch, “a aprovação do PL 260 está no contexto de desproteção ambiental que vivemos no RS, a exemplo da expansão da megamineração, da destruição do Código Ambiental em 2019 e, agora, o governo estadual tenta ˜passar a boiada™ com a liberação de agrotóxicos . Na avaliação da sindicalista, o que o governo Leite propõe votar, em regime de urgência, é um grande retrocesso na conservação ambiental do Estado . Eleandra destaca que o Brasil é lí­der mundial no uso de agrotóxicos, com o uso de cerca de 550 mil toneladas de venenos por ano. O governador Leite parece não se importar com o perigo que os agrotóxicos representam para a vida das pessoas , ressalta Eleandra.

A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) lembra que a atual legislação foi aprovada após um grande debate na sociedade. O texto da lei indica que só serão admitidas a distribuição e comercialização em solo gaúcho de produtos já registrados no órgão federal competente e que, se resultantes de importação, tenham uso autorizado no paí­s de origem, abordando ainda outros pontos, como rigoroso controle da rotulagem daqueles cuja comercialização é permitida. A redação tornou o Estado precursor no paí­s na regulamentação da utilização de insumos quí­micos industriais nas lavouras.

A tentativa de alteração da lei gaúcha, conforme a Agapan, ocorre no momento em que famí­lias assentadas de Nova Santa Rita e Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, vêm denunciando os graves efeitos da aplicação de agrotóxicos por aviões de fazendeiros da região.

Desde novembro do ano passado, a situação vem se repetindo, gerando fortes impactos em lavouras, hortas, pastagens, moradias e vegetação nativa, com grandes perdas de produção e contaminação em moradores, animais e plantações. Em março deste ano, um avião surpreendeu os moradores do assentamento Santa Rita de Cássia II ao sobrevoar somente as residências e galpões, jogando veneno propositalmente sobre as construções e plantações. O caso foi parar na Justiça.

Governo Leite reproduz polí­tica nociva de Bolsonaro

Conforme a Agapan, o volume total de agrotóxicos utilizados no Brasil em relação à sua população corresponderia a 7,6 litros de agrotóxicos por ano por pessoa. O cálculo é uma proporção de uso comercializado para fins de ilustração e foi feito pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), tomando como base os dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de 2015 sobre a quantidade de princí­pios ativos de agrotóxicos e a receita anual da indústria agroquí­micacerca de R$ 36,6 bilhões.

Na esfera federal, a aprovação de um novo marco legal dos agrotóxicos é tida como prioridade para a bancada ruralista. Um dos pontos mais controversos do projeto de lei 6.299/2002, o chamado PL do Veneno, é dar maior poder ao Ministério da Agricultura, que passaria a autorizar o registro de um agrotóxico, mesmo se a Anvisa e o Ibama ainda não tiverem concluí­do as análises.

Desde o começo do mandato, em janeiro de 2019, o governo Bolsonaro publicou a aprovação de 1.165 novos agrotóxicos. Existem hoje 3.231 produtos quí­micos para uso no setor agrí­cola comercializados em todo o Brasil.

Os agrotóxicos surgiram na Segunda Guerra Mundial, tendo como propósito seu uso como arma quí­mica. Com o pós-guerra, o produto passou a ser utilizado como defensivo agrí­cola, ficando conhecido também como pesticida, praguicida ou produto fitossanitário. Na legislação brasileira, o termo utilizado é agrotóxico, apesar de inúmeras tentativas de mudanças da nomenclatura por parte do setor ruralista e indústrias quí­micas.

Mais vida, menos veneno

A “campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida” divulgou uma carta aberta nas redes sociais, que já conta com o apoio de mais de 240 entidades.

“A lei gaúcha de agrotóxicos está ameaçada por corporações transnacionais e pelo agronegócio, que luta para liberar o uso de venenos já banidos nos paí­ses exportadores”, destaca o texto.

Além de solicitar novas adesões, a campanha pede o envio de e-mails à assessoria, ao gabinete e ao governador Eduardo Leite.

Fonte: CUT-RS