SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

XENOFOBIA E PRECONCEITO

Não contratem mais aquela gente lá de cima , diz vereador de Caxias do Sul sobre trabalhadores baianos encontrados em situação análoga à  de escravidão na Serra

Em sessão da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul nesta terça-feira, 28, o vereador Sandro Fantinel (Patriota) aconselhou os empresários da Serra: Não contratem mais aquela gente lá de cima . Ele se referia aos 207 trabalhadores, oriundos da Bahia, resgatados de trabalho em condições análogas í s de escravidão em vindimas das empresas Salton, Garibaldi e Aurora, na Serra Gaúcha em Bento Gonçalves. O parlamentar inverteu a situação, culpando as ví­timas e destilando preconceitos. Sobre os baianos, afirmou: a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema .

Em outros trechos, Fantinel afirmou que os trabalhadores não cumpriam horário e iam bêbados para o trabalho. Seguindo com os conselhos aos empresários, disse que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo, que é acostumado com carnaval e festa, para vocês não se incomodar novamente . A sugestão dele contratar os argentinos [¦] são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e, no dia de ir embora, ainda agradecem o patrão .

Segundo relatos dos trabalhadores, eles sofriam violências fí­sicas e ameaças, cumpriam jornadas de até 15 horas, recebiam comida estragada, tinham de trabalhar com roupas molhadas, sem banho quente, e dormiam em lugares insalubres. Só podiam comprar itens básicos em um mercadinho a preços superfaturados, e esses valores eram descontados dos salários, o que gerava dí­vidas com o aliciador, pretexto por meio do qual eram impedidos de deixar o local, sob ameaças a eles próprios e aos familiares que vivem na Bahia. Em sua manifestação na Câmara, Fantinel ironizou: Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer a limpeza todo dia pros ˜bonito™ também? Temos que botar eles em hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho? .

Fantinel disse que o escândalo em que estão envolvidas as viní­colas não é um caso de trabalho análogo à  escravidão e, alinhado com manifestações de empresários, culpou a falta de mão de obra pela situação dos trabalhadores. O Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC), que reúne empresários de Bento Gonçalves, divulgou nota no sábado, 25, na qual afirma que as pessoas não procuram emprego porque há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade .

Xenobofobia e preconceito

Após a manifestação, a situação causou revolta e crí­ticas por parte de outros parlamentares. O vereador Lucas Caregnato (PT), presidente da Frente Parlamentar de Combate às Intolerâncias, posicionou-se logo na sequência da fala de Fantinel, em questão de ordem, e pediu ao vereador do Patriota a retirada dos trechos agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema e deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente dos anais da Câmara. A gente acabou de se deparar com uma situação de xenofobia e preconceito ao povo baiano nas palavras do vereador Fantinel, então solicito que o vereador suprima sua fala, não desresponsabilizando ele do ato que acabou de acontecer nesse parlamento , afirmou Caregnato, que teve seu pedido acatado por Fantinel.

Rafael Bueno (PDT) pediu que o Legislativo emita uma nota se desculpando pelas falas do vereador, pois, segundo ele, vai ficar ruim para a Câmara . Zé Dambrós (PSB), presidente da Casa, afirmou que não será feita nota, pois cada vereador tem livre arbí­trio para suas falas e deve responder pelo que fala e pelos seus atos .

Mais tarde na sessão, após ser criticado pelo vereador Caregnato, Fantinel afirmou não ter se referido a todo o povo da Bahia, de quem não tem absolutamente nada contra . Sobre a retirada de partes da fala dos anais, tentou contornar o que havia afirmado anteriormente: muitas vezes aqui, no calor da emoção, dizemos uma palavra ou outra que não deverí­amos, somos humanos e cometemos erros. Conheço situações parecidas no interior, e sei que muitas são forjadas e a culpa muitas vezes não é nem sequer dos trabalhadores, mas daqueles que forjam para ganhar nas costas deles. Temos sindicatos que não trabalham, fiscais que não trabalham .

Sintrajufe/RS, com informações de GZH