SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DESTAQUE

Com perseguição polí­tica, assédio moral na gestão federal tem disparada sob governo Bolsonaro

Levantamento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo junto à Controladoria-Geral da União (CGU) demonstra que, no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), os servidores públicos vivem uma onda de práticas de assédio moral na gestão federal. Em ministérios, universidades e outras instituições vinculadas à administração do governo, os casos explodiram em relação aos governos anteriores, tendo como alavanca as perseguições polí­ticas.

No governo Bolsonaro, já são 680 denúncias de assédio moral apresentadas por funcionários públicos federais à CGU, uma média de 1,2 denúncia por dia. De janeiro a julho deste ano, foram 254 denúncias. Em todo o ano passado, 426, um aumento de 20% em relação às 356 registradas em 2018 e de 49% em comparação com as 285 denúncias registradas em 2017, em ambos os casos sob o governo de Michel Temer (MDB). Em 2016, primeiro com Dilma Rousseff (PT) e depois com Temer, foram 137 denúncias. Ou seja, de janeiro de a julho de 2020, já temos quase o dobro de denúncias em comparação com o ano de 2016 inteiro.

Ministérios e universidades como destaques negativos

Entre os órgãos e instituições com mais denúncias, destacam-se a Universidade Federal de Goiás (44 casos registrados), a própria CGU (41), o Ministério da Mulher (22) e o Ministério da Educação (20). O Ministério da Saúde vem logo atrás, com 17 registros. Ali, sob o comando crescente de militares, o problema da perseguição a servidores e servidoras já vinha sendo registrado. Em junho, o Sintrajufe/RS noticiou que servidores do Ministério, sob o comando do general Eduardo Pazuello, vêm sendo ameaçados de censura, com mensagens das chefias afirmando que a ascensão profissional pode ser definida de acordo com o que se divulga nas redes socais.

O controle da opinião dos servidores e das servidoras também tem sido preocupação na CGU, como mostrou outra matéria divulgada nos meios de comunicação do Sintrajufe/RS. Em junho, a Controladoria distribuiu publicação avisando seus servidores que “não é legal nem ético fazer postagens inapropriadas em redes sociais que atinjam a credibilidade do órgão”. A campanha adverte que o servidor deve ficar “atento” e que “condutas impróprias são passí­veis de apuração disciplinar”.

Algumas das instituições com mais denúncias de assédio moral são universidades públicas, outro setor cuja liberdade e autonomia vem sendo constantemente atacadas sob Bolsonaro. Tentativas de modificar a forma de escolha de reitores e desrespeito às decisões das comunidades universitárias são apenas parte da polí­tica de desmonte da educação pública e da ciência, formulada a partir da agenda negacionista que o governo aplica, por exemplo, frente à pandemia do novo coronaví­rus.

Monitoramento de opositores

Na última semana, reportagem do jornalista Rubens Valente, do portal UOL, revelou que o governo, por meio do Ministério da Justiça, vem produzindo relatórios sigilosos sobre opositores polí­ticos de Bolsonaro, incluindo um dossiê contra 579 servidores federais e estaduais da área de segurança e professores. O dossiê foi repassado a outros órgãos, inclusive estaduais, e há relatos de servidores que já vêm sofrendo retaliações.

Na nova reportagem da Folha de S. Paulo, sobre o aumento dos casos de assédio moral, o jornal informa que termos como esquerda , petista e Lula livre vêm sendo usados por superiores hierárquicos para questionar o posicionamento polí­tico de servidores e servidoras.

O que é assédio moral

É considerado assédio moral a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas. O assédio tem adquirido, em muitas situações, caracterí­stica de prática de gestão, transformando-se em um recurso utilizado por alguns gestores e chefias para ampliar a exploração do trabalho, gerando piora nas condições de trabalho e de saúde fí­sica e mental dos trabalhadores e das trabalhadoras. Há diversas faces do assédio moral e diversas formas em que pode ocorrer, inclusive a perseguição a preferências pessoais de trabalhadores e trabalhadorasentre elas, as preferências polí­ticas.

O combate ao assédio moral é uma tarefa coletiva. A rede de apoio e solidariedade deve estar estrutura nas instituições para que casos sejam evitados e para que práticas de assédio já em andamento sejam freadas. O apoio de colegas e a denúncia são caminhos centrais para que condições de trabalho saudáveis sejam estabelecidas, impedindo a ação de assediadores.

Sintrajufe/RS integra ações de combate ao assédio

No Judiciário Federal e no Ministério Público da União do Rio Grande do Sul, o Sintrajufe/RS atua em diversas frentes no combate ao assédio moral. Diversas pesquisas de saúde já realizadas pelo sindicato apontam a gravidade do problema nos locais de trabalho e, em defesa de servidores e servidoras, a entidade participa de comitês e conselhos dos tribunais para monitoramento de casos e busca de soluções tanto para situações especí­ficas quanto para o combate ao assédio moral em geral, como prática institucionalizada.

Com essa pauta como um de seus centros de atuação, o Sintrajufe/RS preocupa-se, também, com o aumento dos casos de assédio moral na gestão federal. A diretora do sindicato Mara Weber comenta a situação: Os dados de denúncias trazidos pela matéria não surpreendem. Esse governo já desde a eleição elegeu os servidores públicos como inimigos e tem como plano de governo a privatização de tudo que é bem público, até saúde e educação. Os servidores e servidoras são entraves para esse projeto. Além disso, ideologicamente o governo Bolsonaro não tem capacidade para uma gestão republicana. Governa pra sua famí­lia e seus apoiadores e não para a maioria do povo. Essa é uma visão antiestado e antidemocracia que incontornavelmente entrará em choque com um corpo de servidores e servidoras do Estado e não do governo de plantão. Ataca a estabilidade porque quer no lugar de servidores e servidoras concursados contratar, sem concurso, aliados seus. Ataca os servidores e servidoras porque quer entregar à ganância do lucro o que é público. Não temos saí­da com esse governo e ele significa não só mais sofrimento e assédio moral no serviço público, mas o fim do serviço público. Por isso, para o serviço público e para o Brasil a saí­da é: fora governo Bolsonaro .

Também diretora do Sintrajufe/RS, Clarice Camargo comenta que o assédio moral está muito presente nas relações de trabalho no serviço público como um todo, mas a nossa preocupação tem sido no âmbito federal, principalmente. Agora, vivemos tempos de pandemia, um perí­odo totalmente atí­pico, e, ainda assim, temos exigências, cobranças de metas e assédio virtual mesmo. Temos recebido várias dessas denúncias da categoria, de todos os ramos, e trabalhamos com mais essa dor que acomete os servidores . Clarice defende que precisamos discutir, inclusive, a responsabilidade das administrações, porque alguns núcleos de saúde são extremamente enxutos, sem que se dê o devido atendimento às demandas daqueles que necessitam. Há um enorme adoecimento dos servidores e isso não tem o olhar da administração. O assédio moral está muito presente no dia a dia dos servidores, o que é visí­vel pela quantidade de atendimentos que fazemos no sindicato , completa.