SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

8 DE MARÇO

Milhares de pessoas ocupam as ruas de Porto Alegre na celebração do Dia Internacional de Luta das Mulheres

Ato público, caminhada, rodas de conversa, ações de solidariedade e atividades culturais marcaram a celebração do 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, em Porto Alegre. As atividades foram realizadas ao longo de todo o dia, sob o mote Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, racismo e fome , contando com organização unificada de centrais sindicais e movimentos feministas, sociais e populares. O Sintrajufe/RS participou da mobilização.

A data foi também celebrada no interior do estado, em cidades como em Bagé, Caxias do Sul, Rio Grande, Pelotas, Santa Maria e São Leopoldo, entre outras cidades.

As atividades começaram pela manhã, com a ocupação do pátio da Secretaria de Agricultura por mais de 200 mulheres camponesas, que reivindicavam medidas concretas que busquem amenizar os impactos da estiagem no estado. À tarde, elas doaram cerca de quatro toneladas de alimentos para cozinhas comunitárias de Porto Alegre. Diante da pressão, uma comitiva de dez mulheres será recebida, na manhã desta quarta-feira, 9, pela secretária da Agricultura, Silvana Covatti.

Tendas debateram e informaram sobre trabalho digno, direitos, combate à fome e à violência

No Largo Glênio Peres, onde se concentrou boa parte das atividades, movimentos feministas, sindicais e populares montaram a Tenda Elza Soares. No local, houve rodas de conversas sobre temas como Combate à fome e à miséria com trabalho digno no campo e na cidade , Defesa da democracia, controle social e participação popular na defesa das polí­ticas públicas e Combate à violência de gênero, polí­tica, racismo estrutural, LGBTfobia e feminicí­dio . Também foram realizadas palestras, apresentações musicais e arrecadação de absorventes.

Várias organizações tinham tendas no Largo Glênio Peres, para informar e discutir diversos assuntos. Na tenda do Sintrajufe/RS, as diretoras explicavam para a população os efeitos nefastos da reforma administrativa (PEC 32/2020) e como a proposta, se aprovada, afetará as polí­ticas públicas para as mulheres. Foi feita panfletagem, com distribuição da revista em quadrinhos As desventuras da famí­lia Silva , que mostra como a reforma afetaria as famí­lias brasileiras. Na tenda, também foi feita a divulgação do 1º LesboCenso, pesquisa que busca mapear o perfil sociodemográfico de lésbicas no Brasil.

Combate ao feminicí­dio

Em memória às ví­timas de feminicí­dio, mulheres colocaram cruzes na escadaria da Prefeitura de Porto Alegre. Apenas entre março de 2020 e dezembro de 2021, o Brasil registrou 2.451 feminicí­dios e 100.398 casos de estupro e estupro de vulnerável de ví­timas do gênero feminino, de acordo com levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado na segunda-feira, 7, véspera do Dia Internacional da Mulher.

Segundo o relatório, o Rio Grande do Sul aparece no ranking como o terceiro estado do paí­s que mais registrou estupro por 100 mil habitantes. Em 2019, primeiro ano da gestão de Bolsonaro como presidente, o número de estupros de mulheres e vulneráveis foi recorde, chegando a 69.886 registros.

água é um direito de todas e todos

Houve também protestos em frente à prefeitura devido à falta de água em vários bairros de Porto Alegre. O Morro da Cruz, por exemplo, região com cerca de 100 mil habitantes, desde o começo do ano tem enfrentado problemas de desabastecimento. Estamos com um ônibus cheio de mulheres. A gente veio lutar pelos nossos direitos, principalmente pela questão da falta de água, tem famí­lias há mais de 60 dias sem água no Morro da Cruz , disse a moradora Angela Comunal. Luta contra a violência de gênero e raça. O Levante Popular da Juventude fez um escracho, derramando água suja para denunciar a péssima qualidade da água que chega às torneiras das periferias da cidade.

A crise em relação à água reflete a falta de investimentos e o sucateamento de empresas públicas, o que já foi visto em outros setores. No entanto, ao contrário do que tentam fazer crer os defensores das privatizações, estas não são a solução. Exemplo é a atual falta de luz em parte do Rio Grande do Sul. A CEEE Equatorial, privatizada em julho de 2021, agravou o problema do fornecimento de energia, com demora no restabelecimento do serviço e frequentes cortes de energia.

Bolsonaro nunca mais

No final da tarde, teve iní­cio a caminhada, que partiu do Paço Municipal. As e os manifestantes fizeram uma parada na Esquina Democrática, onde se foi aberto espaço para fala de várias representações de movimentos feministas, sindicais e populares, além de parlamentares.

Machismo, racismo, desemprego e violência contra as mulheres foram denunciados pelas mulheres, que pediram mais saúde e educação. Houve referências à vereadora carioca Marielle Franco (PSol), cujo assassinato completa quatro anos no próximo dia 14 sem que os nomes dos mandantes tenham sido revelados. O conflito Rússia-Ucrânia também foi lembrado, com faixas de protesto com a frase Não à guerra .

O tema da água voltou a ser abordado pela representante da Marcha Mundial das Mulheres, Maria do Carmo. A luta por água hoje é mundial. O agronegócio está tirando uma das coisas mais importantes para se viver. Essa é uma das lutas centrais das mulheres , afirmou.

Diretoras do Sintrajufe/RS avaliam atividades do 8 de Março

O Sintrajufe/RS, juntamente com a Jornada Feminista Plurissindical, foi uma das entidades presentes na organização do 8 de Março em Porto Alegre. Diretoras do sindicato avaliam as atividades.

No dia de ontem, mostramos, com a entrega da cartilha ˜As desventuras da Famí­lia Silva™, que a reforma administrativa atingirá em cheio as polí­ticas públicas voltadas para as mulheres , contou a diretora do Sintrajufe/RS Arlene Barcellos. Ela destacou que outro momento muito importante ocorreu durante as manifestações artí­sticas: por meio da arte, foi mostrado como as violências contra a mulher ocorrem muitas vezes de forma tão sutil quase imperceptí­vel que acreditamos até estar ˜imaginando coisas™. Se você perceber que pode estar sendo ví­tima de qualquer tipo de violência pelo fato de ser mulher, converse com uma amiga, busque contato com as diretoras do sindicato. Precisamos dar um basta a essas violências .

Para a diretora Cristina Viana, ontem foi um dia muito importante de luta, em que as mulheres ocuparam o Centro de Porto Alegre e de muitas cidades do interior do RS também . Na avaliação da dirigente, foi potente, com a presença dos sindicatos, centrais, partidos polí­ticos e movimentos sociais , para denunciar, entre outras pautas, que as mulheres foram as que mais sofreram durante a pandemia, com a sobrecarga de trabalho e a enorme dificuldade econômica. Essas questões foram somadas à falta de investimentos em polí­ticas públicas por governos que objetivam acabar com os serviços públicos, caso de Bolsonaro (PL), Eduardo Leite (PSDB) e Sebastião Mello (MDB). Cristina lembra que a pandemia aumentou ainda mais a desigualdade na nossa sociedade patriarcal, e foi o serviço público que amenizou esses efeitos, embora precarizado pelos governos . Ela também destacou a denúncia do descaso da administração da Ufrgs com as estudantes e mães indí­genas. Estar ali, cercada das companheiras, renovou nossas forças para a construção de uma sociedade melhor, sem machismo, sem racismo, sem preconceitos e sem fome , concluiu.

Em sua fala, a diretora Luciana Krumenauer disse que é fundamental gritar o Fora Bolsonaro , porque esse governo vem aprofundando a já nefasta reforma trabalhista, destruindo a vida das mulheres trabalhadoras. A dirigente falou também da reforma da Previdência de Bolsonaro e que, agora, o governo quer empurrar uma reforma administrativa, que vai destruir o serviço público , atingindo principalmente os setores mais vulneráveis. Luciana destacou que, apesar dos ataques, o serviço público se mantém imprescindí­vel, e um exemplo é a vacinação da população contra a Covid-19.

Ontem foi dia de conscientização em Porto Alegre, foi dia de irmos para a rua e dialogarmos sobre as mudanças que queremos. Foi dia de exigirmos mudanças de comportamentos e, principalmente, de mudanças nas polí­ticas públicas em relação às mulheres , afirmou a diretora Márcia Coelho. De acordo com a dirigente, ouvir os relatos das companheiras, mães solo, negras, que perderam empregos, casas, fontes de alimentação, foi aterrador, mas vê-las unidas nas ruas e tendo consciência de que um desgoverno como o que está aí­ não pode permanecer, que são necessárias medidas que garantam segurança a essas mulheres, dá esperança e motivação . Márcia ressaltou que é preciso lembrar que os órfãos da Covid-19 precisarão muito dos serviços públicos, um sistema que está sofrendo desmonte diário em suas estruturas e pessoal. Devemos cobrar dos governos das três esferas que desempenhem suas obrigações para com essa parcela da população, que mesmo jovem já perdeu muito, para que não sejam abandonados, para que possam também ter esperanças num futuro melhor .

O 8 de Março de 2022 ficará marcado pelo reencontro das mulheres com atos de rua, pelo reencontro afetivo com as companheiras que sobreviveram à pandemia e à violência imposta pelo governo Bolsonaro que piorou muito a vida das mulheres no Brasil , afirmou a diretora Mara Weber. Para ela, a data também foi marcada com um profundo comprometimento de combate ao patriarcado, que nos oprime, e contra o capitalismo neoliberal, responsável pela pobreza, pela destruição do nosso planeta, promotor de racismo, homofobia e pela destruição das democracias no mundo . Na avaliação da diretora, tudo isso afeta de forma violenta as mulheres. Bolsonaro aqui é produto dessa lógica do capitalismo selvagem. Por isso, gritamos ˜Bolsonaro nunca mais!™ Estamos firmes e fortes e seremos decisivas na virada que este ano anuncia .

A diretora Naiara Malavolta destacou que o 8M abre, historicamente, as ações de rua dos movimentos sociais e costuma dar o tom dessas manifestações, especialmente em anos eleitorais. O estrago feito pelo governo Bolsonaro e Mourão nos equipamentos que já tí­nhamos conquistado para o combate à violência contra as mulheres, a mudança da linha de atuação da extinta Secretaria da Mulher, o descaso com a saúde e o desmonte de serviços públicos, que atingem diretamente e são essenciais para a sobrevivência de muitas de nós, em especial as em maior situação de vulnerabilidade, como as pretas e as LBTs, foram o foco das manifestações deste ano , ressaltou a dirigente. Ela lembrou que as atividades também trataram de empoderamento das mulheres na polí­tica, um dos quatro eixos analisados pelo Relatório de Desigualdade de Gênero (Global Gender Gap Index), recentemente publicado, e no genocí­dio pelo descaso com a pandemia. Foi um iní­cio importante, mas sabemos que teremos de estar nas ruas muitas vezes este ano para recuperar o que perdemos em termos de polí­ticas públicas, renda e estrutura econômica e social , avaliou Naiara.

Sintrajufe/RS, com informações de Brasil de Fato e CUT/RS