SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

PROMESSAS AO VENTO

Diferente das promessas, governo envia ao Congresso proposta de Orçamento sem correção do IR, sem aumento real do salário mí­nimo, sem auxí­lio de R$ 600 e com fortuna para orçamento secreto

Nesta quarta-feira, 31 de agosto, o governo de Jair Bolsonaro (PL) enviou ao Congresso Nacional sua proposta de Orçamento para 2023. A proposta não prevê correção da tabela do Imposto de Renda, nem aumento real do salário mí­nimo. Também não está prevista a manutenção do Auxí­lio Brasil no valor de R$ 600. Por outro lado, há um crescimento de quase 9% no valor previsto para emendas parlamentares, inclusive as que fazem parte do orçamento secreto.

Tabela do Imposto de Renda desatualizada

Mais uma vez, Bolsonaro não prevê a atualização da tabela do Imposto de Renda. Mesmo que tenha prometido, na campanha de 2018, fazer essa correçãocomo volta a prometer agora, buscando a reeleição. O prejuí­zo dessa decisão para a população é enorme: em julho, estudo do Sindifisco Nacional, que representa os auditores fiscais da Receita Federal, apontou que quem ganha menos está pagando até 2000% a mais de Imposto de Renda por causa do congelamento da tabela. Bolsonaro não corrigiu a tabela nenhuma vez em todo o seu mandato, gerando uma defasagem que já ultrapassa os 30%, maior do que qualquer outro presidente desde o Plano Real.

Uma simulação feita pelo Sindifisco e detalhada pela Folha de S. Paulo apontou que um trabalhador ou trabalhadora que recebe R$ 5 mil paga, atualmente, R$ 505,64 de Imposto de Renda (IR). Se toda a defasagem da tabela fosse corrigida, esse valor cairia para R$ 24,73, uma diferença de quase 2.000%. Além disso, em caso de correção, apenas quem ganha acima de R$ 4,670,23 seria obrigado a pagar o IR, o que faria com que mais 12,75 milhões de brasileiros e brasileiras estariam isentos. Hoje, a isenção vale apenas para quem ganha até R$ 1.903,98, contemplando cerca de 11 milhões de pessoas.

Até 1996, a tabela era corrigida automaticamente por um indexador chamado Unidade Fiscal de Referência (Ufir), que foi extinto no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A partir daí­, a correção passou a acontecer de forma inconstante, mas, entre 2005 e 2015, a tabela do IR sempre foi corrigidadurante os governos Lula e Dilma Rousseff (PT). O ano de 2015 foi o último em que isso aconteceu.

Salário mí­nimo sem aumento real

Em relação ao salário mí­nimo, passa-se de R$ 1.212 para R$ 1.302, apenas com a correção da inflação prevista. Desde 2020, primeiro ano fiscal para o qual Bolsonaro enviou proposta Orçamentária, não há aumento real do salário mí­nimo, ao contrário do que vinha acontecendo anteriormente. A polí­tica de aumento real foi implementada durante os governos do PT, com aumentos ininterruptos até 2016chegando a í­ndices como 8,23% de aumento real em 2005, 13,04% em 2006 e 7,59% em 2012.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatí­stica e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mí­nimo deveria ser de R$ 6.388,55 em julho deste ano, 5,2 vezes mais do que o atual.

O cálculo considera o mí­nimo necessário para suprir as despesas de um trabalhador com uma famí­lia de quatro pessoas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O salário mí­nimo serve de referência para 56,7 milhões de pessoas no Brasil, das quais 24,2 milhões de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Auxí­lio Brasil reduzido

Outra promessa que Bolsonaro tem feito é a de manter o Auxí­lio Brasil de R$ 600, programa que substituiu o Bolsa Famí­lia. Porém, o Orçamento enviado pelo governo não prevê a manutenção desse valor, e sim a redução para apenas R$ 405 (valor médio).

O Auxí­lio Brasil foi criado em substituição ao Bolsa Famí­lia e ao Auxí­lio Emergencial, criado no contexto da pandemia. Quando o Auxí­lio Emergencial foi implementado, a proposta do governo era a de fazer apenas três pagamentos, de R$ 200 cada. O valor foi ampliado para R$ 600 durante a tramitação no Congresso e, posteriormente, o perí­odo do pagamento foi ampliado, tornando-se, enfim, o Auxí­lio Brasil, em junção com o Bolsa Famí­lia, em novembro de 2021com redução do total de beneficiários dos dois programas anteriores.

Mais dinheiro para parlamentares e no orçamento secreto

Por outro lado, o Orçamento proposto pelo governo amplia as verbas destinadas para emendas parlamentares. São R$ 38 bilhões com esse destino, 8,7% a mais do que está previsto para ser executado em 2022. Desse montante, R$ 19,4 bilhões foram reservadas para as emendas do relator, conhecidas como orçamento secreto .

O orçamento secreto foi criado em 2019, já no governo Bolsonaro. Nelas, os valores não são distribuí­dos de forma igualitária entre os parlamentares. É o relator-geral da Lei Orçamentária quem inclui as emendas, em seu nome. Para que o faça, ocorre uma negociação informal , de bastidores, que envolve o governo, lideranças parlamentares e deputados. As emendas de relator não obedecem sequer a critérios técnicos, não são distribuí­das de forma igualitária e não oferecem transparência sobre a destinação de recursos públicos. Assim, servem a dois propósitos: a compra de votos de deputados e deputadas em projetos de interesse do governo, em uma ponta; e, em outra, o desvio de recursos destinados via esse tipo de caminho.