SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DESTAQUE

750 mil: é o número de vidas perdidas para que se alcance a imunidade de rebanho, se for mantida a polí­tica atual em relação à Covid-19

Na quinta-feira, 25, o Sintrajufe/RS promoveu uma live com o tí­tulo  Minha vacina chega quando? . E esse foi o tema da live realizada no final da tarde dessa quinta-feira, 25, pelo Sintrajufe/RS. A live contou com a participação do médico e professor da USP Gonzalo Vecina Netofundador e ex-presidente da Anvisa, um dos idealizadores do SUS e também exerceu os cargos de secretário municipal da Saúde de São Paulo e secretário nacional da Vigilância Sanitária. Ele alertou que, se não houver mudanças na forma de combate à pandemia, para o Brasil chegar à chamada imunidade de rebanho , morrerão 750 mil pessoas por Covid-19 no paí­s.

Gonzalo Vecina explicou que há duas formas de uma pandemia acabar. Uma é acabando com as pessoas suscetí­veis , aquelas que podem ter a doença. Para se chegar à chamada imunidade de rebanho, quando o ví­rus para de circular, é preciso de que 70% da população tenha tido a doença. No Brasil, cerca de 20% de pessoas tiveram contato com a doença; para isso, morreram 250 mil brasileiros; para se chegar aos 70%, teriam que morrer 750 mil pessoas. É isso que o nosso presidente quer , afirmou.

O médico afirmou que essas pessoas [750 mil] não precisam morrer, assim como não precisariam ter morrido 250 mil . Outros paí­ses conseguiram atravessar essa situação com menos mortes, aplicando medidas de prevenção e auxí­lio financeiro a pessoas mais vulneráveis e pequenas e médias empresas.

O segundo modo de acabar com uma pandemia, disse Vecina, é a vacinação. Esta, no entanto, não é um ato individual, mas coletivo, pois todos têm que se proteger para evitar a circulação do ví­rus. Quem tem que tomar vacina? De acordo com o médico, todos acima de 18 anos, cerca de 160 milhões de pessoas. Como são duas aplicações, o Brasil precisa de 320 milhões de doses. No entanto, para ter vacina, tem que comprar , enfatizou Vecina, explicando que os paí­ses que estão agora vacinando começaram a comprar no ano passado as então promessas de vacina. E o governo brasileiro não fez isso: o Brasil não jogou o jogo .

  Por falta de investimento, Brasil parou de produzir vacinas

O Brasil poderia ter produzido a vacina, no entanto, faz uns 20 anos que não estamos pondo dinheiro na Fiocruz e no Instituto Butantan , afirmou o ex-presidente da Anvisa. Além disso, outras quatro instituições também pararam de produzir vacinas no paí­s, tudo isso por falta de investimento.

O médico informou que o Brasil parou de produzir vacinas como BCG (tuberculose) e contra difteria por falta de dinheiro para atualizar as fábricas. O paí­s mudou de produtor para importador. Segundo o Gonzalo Vecina, as brigas do ministro das Relações Exteriores e ofensas públicas à China atrasaram em um mês a importação de insumos e, por conseguinte, a produção de vacinas no Brasil. Vecina acredita que, a partir de março, se não acontecer nenhuma desgraça , teremos a produção de cerca de 30 milhões de doses por mês. Seguindo esse ritmo, a vacinação estaria finalizada em dezembro ou janeiro de 2022.

Novas cepas do coronaví­rus

Gonzalo Vecina também falou sobre as novas cepas do coronaví­rus que estão surgindo em vários paí­ses e já circulam no Brasil. Ele explicou que os novos ví­rus são resultado de estamos permitindo que o coronaví­rus circule violentamente entre nós, sem o mí­nimo de isolamento social.

Enquanto o ví­rus circular, vai fazer mutações. O médico disse que as cepas que apareceram até agora são mais brabas , mas não são mais resistentes. No entanto, as resistentes podem aparecer. E mudar uma das vacinas já existentes para que possa responder a uma mutação não é algo rápido. Por isso, reforçou: o uso de máscara é fundamental, de três camadas de tecido; se for o caso, que se usem duas máscaras. Importante não ficar em lugar fechado sem arejamento.

O médico ressaltou que é muito difí­cil fazer isolamento em uma sociedade tão desigual. Não é dá para fazer lockdown com gente passando fome , afirmou. Mas quem pode ficar em casa deve fazê-lo.

A live teve como mediador o médico especialista em saúde pública e integrante da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS, Geraldo de Azevedo e Souza Filho. Confira, nesta terça-feira, 2, matéria destacando a fala da outra debatedora, a médica infectologista, diretora do Sindicato dos Médicos de SP e da CUT/SP, Juliana Salles, que afirmou que o caos na saúde pública é resultado da falta de investimento.