SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

CRÍTICAS E DESAFIOS

Na manhã de sábado, painelistas do 10º Congresso do Sintrajufe/rs defendem medidas para democratizar o Judiciário e o MPU

O segundo painel da manhã de 1º de julho, sábado, no 10º Congresso Estadual do Sintrajufe/RS, tratou da democratização do Judiciário e do Ministério Público da União (MPU). Participaram, como painelistas, o desembargador do TRF4 e diretor da Escola de Magistratura do mesmo tribunal, Rogério Favreto, e a professora do Departamento de Direito Público e Filosofia do Direito e dos Programas de Pós-Graduação em Direito e em Ciência Polí­tica da Ufrgs, Juliane Sant™Ana Bento.

A mesa foi mediada pela diretora do Sintrajufe/RS Márcia Coelho e pelos diretores Anderson Mangine e Walter Oliveira e tratou dos problemas da atual estrutura do Poder Judiciário e do MPU tanto para a sociedade quanto para a categoria. Também discutiu possibilidades de transformação desse quadro para melhorar as condições de trabalho de servidores e servidoras e qualificar os serviços oferecidos à população.

Diversidade, perspectivas emancipatórias e aproximação às demandas da sociedade

A professora Juliane Sant™Ana Bento apresentou um amplo panorama da situação de disputa em torno das estruturas da Justiça, com foco na defesa da redemocratização das instituições. Para ela, há grandes expectativas em relação a esse processo, mas também obstáculos importantes. O acesso à justiça é, para a painelista, um caminho necessário para a democratização, ao mesmo tempo em que se impõem reflexões sobre a autonomia e o fortalecimento do Judiciário, com a construção interna das carreiras como um requisito para que se zele pela não interferência dos poderes polí­ticos.

Conforme a pesquisadora, vivemos, no momento, o fim do ciclo reformista, com dificuldades para democratizar as instituições da Justiça por conta de deficiências estruturais e também de outros fatores, como a pouca flexibilidade das hierarquias, a precarização do trabalho e da oferta de Justiça, a elitização e a pouca transparência de alguns espaços. A painelista defendeu a importância da diversificação na composição do sistema de Justiça e da busca de perspectivas emancipatórias, com a aproximação do Direito às demandas da sociedade, a mudança de culturas institucionais e a ampliação do acesso a pequenas causas.

Juliane Sant™Ana Bento criticou o perí­odo de ativismo repressivo que temos vivido no paí­s, o que, para ela, carrega um caráter desestabilizador e antidemocrático, inclusive disposto a flexibilizar garantias individuais , que é contrário a instituições representativas e que atua a partir de coalizões com a opinião pública para construir ativismo . Dessa forma, lamentou, certos braços da Justiça colaboraram para o projeto de retrocesso de direitos , com a flexibilização de garantias, saí­das arbitrárias sendo compreendidas como legí­timas, entre outras estratégias. O caminho oposto, defendeu, deve ser construí­do via autonomia e fortalecimento, com a consolidação de estruturas internas que resistam às pressões polí­ticas e democratização das instituições de Justiça, como forma de se fazer com que os ganhos democráticos prevaleçam sobre os limites culturais e institucionais.

Democracia fragilizada pela jurisdição de exceção

Em sua apresentação, o desembargador Rogerio Favreto tratou de diversos temas que perpassam as práticas e possibilidades de ação dentro da estrutura do Judiciário, como a judicialização da polí­tica, a postura dos agentes de Justiça, a questão da imparcialidade, a jurisdição de exceção, o descrédito do Judiciário e do MPU, os retrocessos no sistema de Justiça, bem como a busca por reconquistar direitos e os desafios que o momento impõe. Em relação à judicialização da polí­tica, Favreto apontou como parte das razões a ocupação de espaços pela omissão do Legislativo e pela inoperância do Executivo, em seguida criticando a postura de agentes de Justiça nesse contexto: classificou a posição da magistratura como tí­mida, conservadora e oficialista, preconceituosa com as organizações e movimentos sindicais e sociais, corporativa e autoconcessiva . Para ele, na disputa polí­tica, tem se visto desrespeito à legitimidade polí­tica e eleitoral e interesse pelo apelo social e midiático, gerando perda de equilí­brio e imparcialidade.

Para quebrar essa lógica, apontou, é necessário um compromisso com a observância de valores éticos, humanos e de imparcialidade. Mas a crise polí­tica tem andado junto com certo encanto pelos holofotes por parte de agentes da Justiça, excessiva exposição midiática, busca de falsos heróis e personalismo, que acaba por enfraquecer o papel institucional e desaguar em autoritarismo e populismo. Nesse caminho, a perda da imparcialidade tem gerado consequências, como a fragilização da credibilidade do direito e da jurisdição e a perda da confiabilidade pelo cidadão. Para o desembargador, a atuação do Judiciário em alguns casos vem sendo marcada por uma jurisdição de exceção , que inclui violações a direitos, conduções coercitivas sem motivação prévia, vazamento ilegal e seletivo de atos e decisões e uso abusivo e desviado da deleção premiada e de acordos de leniência, gerando um lawfare brasileiro com o uso do Direito e das instituições como arma na disputa polí­tica, perseguição a polí­ticos, cidadãos e empresas por meio, até mesmo, de inquéritos e prisões ilegais, processamento judicial seletivo e operações midiática.

Há, caracterizou Favreto, uma série de retrocessos nesse contexto, com efeitos ao sistema de Justiça: fragilização das garantias dos agentes da Justiça, redução da autonomia polí­tica e financeira das instituições e a construção de uma Justiça oficialista em contraposição à concretização dos direitos sociais e fundamentais. Além de efeitos externos, como a fragilização da democracia, o desequilí­brio entre Poderes e a facilitação dos recentes movimentos golpistas. O desembargador trouxe, por fim, perspectivas e desafios que se colocam, citando o resgate de direitos básicos de liberdade de manifestação, organização e reivindicação sindical e dos servidores e a construção de mecanismos de controle e participação social nas instituições do sistema de Justiça: o Judiciário deve ser o contrapeso no desequilí­brio entre os demais Poderes e as violações de direitos, não um protagonista , defendeu, sublinhando a importância da retomada de preceitos básicos da democracia, como a independência dos Poderes, a imparcialidade, a presunção de inocência e o direito ao processo justo . Para isso, apontou, também é fundamental a responsabilização dos agentes da Justiça que tiveram atuações ilegais e, dessa forma, geraram danos às instituições e à democracia.

Disputas para democratizar o Judiciário

Após as falas dos painelistas, foram abertas inscrições para intervenções dos delegados e das delegadas do Congresso. Algumas explanações apontaram para a urgência de incluir mais negros e negras no Judiciário, inclusive com a defesa de cotas no Poder como forma de combater as diversas formas de racismo. Também foram destacadas outras questões centrais para a democratização do Judiciário, como a participação de servidores e servidoras nos processos de escolha das administrações. Ainda, foram tecidas crí­ticas à atuação de agentes do Judiciário no caso do golpe de 2016 e da prisão de Lula. Outro tema que perpassou as falas foram os ataques de Jair Bolsonaro (PL) aos servidores e servidoras da Justiça Eleitoral, em relação aos quais o Sintrajufe/RS possui ações judiciais aguardando decisão no TRF4. A resolução 296, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), que ameaça de fechamento diversas varas trabalhistas, também foi lembrada como exemplo de ataques que vem de dentro do próprio Judiciário e enfraquecem a Justiça.

O 10º Congresso Estadual do Sintrajufe/RS continua na tarde deste sábado, 1º de julho, e no domingo, 2, com painéis sobre organização sindical; e polí­ticas permanentes, saúde e condições de trabalho; além da plenária deliberativa. A cobertura completa estará disponí­vel nos meios de comunicação do Sintrajufe/RS.