SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

RACISMO

Motoboy negro é preso em Porto Alegre após denunciar tentativa de homicí­dio da qual foi ví­tima; Leite diz ter absoluta confiança na Brigada Militar

No último sábado, 17, mais um caso de racismo provocou indignação em Porto Alegre. Um motoboy negro foi detido após denunciar uma tentativa de homicí­dio cometida por um homem branco, que o atacara com uma faca. Movimentos sociais realizaram ato para denunciar o caso no domingo; por sua vez, o governador Eduardo Leite (PSDB) reiterou sua absoluta confiança na Brigada Militar .

A situação ocorreu na rua Miguel Tostes, no bairro Rio Branco. Conforme relatos publicados na imprensa, o agressor, Sérgio Camargo Kupstaitis, estaria incomodado com a presença de motoboys na calçada em frente ao prédio onde ele mora. E atacou um dos trabalhadores, Éverton Guandeli, com ao menos dois golpes de faca. Chamada, a Brigada Militar utilizou a força para deter o motoboy, e não seu agressor, que, como mostram imagens captadas por testemunhas, ria logo ao lado.

Não é caso isolado

No Rio Grande do Sul e no Brasil, os casos de violência racista praticada pela polí­cia se sucedem. Em agosto do ano passado, por exemplo, ato público em Porto Alegre, realizado pelo movimento negro e com participação do Sintrajufe/RS, foi organizado para denunciar uma série de operações que resultaram em dezenas de mortes nos meses anteriores, com destaque para o massacre no Guarujá (SP) e episódios na Bahia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) sobre o í­ndice de mortes violentas intencionais em todo o paí­s mostram que, em 2022, foram registrados 47.508 casos e 76,5% das ví­timas eram negras. Os números constam da última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Já uma pesquisa realizada pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) sobre a abordagem policial em seis territórios da Região Metropolitana de Porto Alegre apontou, também em 2023, que ser negro, jovem e ter tatuagem são as três principais caracterí­sticas que levam uma pessoa a ser considerada suspeita.

Protesto

Com a denúncia de diversas testemunhas que apontaram o racismo na situação deste sábado e divulgaram ví­deos e fotos da abordagem, o caso ganhou forte repercussão nacional. Já no domingo, 18, um ato organizado pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do RS reuniu centenas de pessoas na esquina da avenida Osvaldo Aranha com a rua José Bonifácio, junto ao Parque da Redenção. O ato contou com a presença de lideranças sindicais, representantes de movimentos estudantis e parlamentares.

Governo federal vai acompanhar o caso; Leite reitera confiança na Brigada Militar

Ao longo do final de semana, os ministros Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e da Cidadania, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, se manifestaram sobre o caso. O caso do trabalhador negro, no Rio Grande do Sul, que tendo sido ví­tima de agressão acabou sendo tratado como criminoso pelos policiais que atenderam a ocorrência, demostra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes , escreveu Silvio Almeida. Anielle Franco disse que recebeu com indignação as imagens da abordagem policial no Rio Grande do Sul, onde um motoboy denunciou uma tentativa de homicí­dio e foi ele, o denunciante, quem saiu algemado, enquanto o homem que teria cometido a agressão dialogava com os agentes, sorrindo. As imagens causaram revolta, com razão, pelos indí­cios de racismo institucional . Ambos disseram que o governo federal irá acompanhar as investigações.

O governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), também se manifestou. Ele determinou a abertura de uma sindicância para apurar uma abordagem. E reforçou, por outro lado, sua absoluta confiança na Brigada Militar e nos homens e mulheres que compõem nossas forças de segurança . Já nesta segunda-feira, 19, em entrevista à Rádio Gaúcha, o governador disse que não se pode reagir a isso de forma precipitada e de preconceito contra a polí­cia .

Movimento negro convoca plenária para esta terça-feira, 20

O Movimento Negro Unificado convocou para o dia 20, terça-feira, uma plenária para o alinhamento de demandas a serem entregues ao governo do estado. A convocação foi desencadeada justamente pelo caso deste sábado, e terá como pauta Violência Policial e Racismo no Sistema de Justiça e Segurança . A atividade acontece às 19h, no Espaço de Convergência Adão Pretto, na Assembleia Legislativa, e também pode ser acompanhado por videochamada, AQUI.

Carta do 1º Encontro de Negros e Negras do Sintrajufe/RS reforçou importância do combate ao racismo

Em outubro de 2023, o Sintrajufe/RS realizou seu 1º Encontro de Negros e Negras, quando foram debatidos diversos temas relativos às lutas antirracistas. Entre esses temas, esteve o combate às diversas formas de racismo. A carta final do Encontro aponta que o combate ao racismo (estrutural, institucional, recreativo, cultural, religioso, etc) é uma responsabilidade coletiva, e é essencial que toda a nossa categoria esteja engajada nessa luta. O SINTRAJUFE/RS reconhece a importância de trazer à tona essa discussão, pois o racismo – uma construção da branquitude – afeta a vida de todos e todas. A questão racial é uma preocupação que deve unir a todos nós, independentemente de nossa cor ou origem étnica , diz o texto.