No último sábado, 17, mais um caso de racismo provocou indignação em Porto Alegre. Um motoboy negro foi detido após denunciar uma tentativa de homicídio cometida por um homem branco, que o atacara com uma faca. Movimentos sociais realizaram ato para denunciar o caso no domingo; por sua vez, o governador Eduardo Leite (PSDB) reiterou sua absoluta confiança na Brigada Militar .
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A situação ocorreu na rua Miguel Tostes, no bairro Rio Branco. Conforme relatos publicados na imprensa, o agressor, Sérgio Camargo Kupstaitis, estaria incomodado com a presença de motoboys na calçada em frente ao prédio onde ele mora. E atacou um dos trabalhadores, Éverton Guandeli, com ao menos dois golpes de faca. Chamada, a Brigada Militar utilizou a força para deter o motoboy, e não seu agressor, que, como mostram imagens captadas por testemunhas, ria logo ao lado.
Não é caso isolado
No Rio Grande do Sul e no Brasil, os casos de violência racista praticada pela polícia se sucedem. Em agosto do ano passado, por exemplo, ato público em Porto Alegre, realizado pelo movimento negro e com participação do Sintrajufe/RS, foi organizado para denunciar uma série de operações que resultaram em dezenas de mortes nos meses anteriores, com destaque para o massacre no Guarujá (SP) e episódios na Bahia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) sobre o índice de mortes violentas intencionais em todo o país mostram que, em 2022, foram registrados 47.508 casos e 76,5% das vítimas eram negras. Os números constam da última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Já uma pesquisa realizada pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) sobre a abordagem policial em seis territórios da Região Metropolitana de Porto Alegre apontou, também em 2023, que ser negro, jovem e ter tatuagem são as três principais características que levam uma pessoa a ser considerada suspeita.
Protesto
Com a denúncia de diversas testemunhas que apontaram o racismo na situação deste sábado e divulgaram vídeos e fotos da abordagem, o caso ganhou forte repercussão nacional. Já no domingo, 18, um ato organizado pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do RS reuniu centenas de pessoas na esquina da avenida Osvaldo Aranha com a rua José Bonifácio, junto ao Parque da Redenção. O ato contou com a presença de lideranças sindicais, representantes de movimentos estudantis e parlamentares.
Governo federal vai acompanhar o caso; Leite reitera confiança na Brigada Militar
Ao longo do final de semana, os ministros Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e da Cidadania, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, se manifestaram sobre o caso. O caso do trabalhador negro, no Rio Grande do Sul, que tendo sido vítima de agressão acabou sendo tratado como criminoso pelos policiais que atenderam a ocorrência, demostra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes , escreveu Silvio Almeida. Anielle Franco disse que recebeu com indignação as imagens da abordagem policial no Rio Grande do Sul, onde um motoboy denunciou uma tentativa de homicídio e foi ele, o denunciante, quem saiu algemado, enquanto o homem que teria cometido a agressão dialogava com os agentes, sorrindo. As imagens causaram revolta, com razão, pelos indícios de racismo institucional . Ambos disseram que o governo federal irá acompanhar as investigações.
O governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), também se manifestou. Ele determinou a abertura de uma sindicância para apurar uma abordagem. E reforçou, por outro lado, sua absoluta confiança na Brigada Militar e nos homens e mulheres que compõem nossas forças de segurança . Já nesta segunda-feira, 19, em entrevista à Rádio Gaúcha, o governador disse que não se pode reagir a isso de forma precipitada e de preconceito contra a polícia .
Movimento negro convoca plenária para esta terça-feira, 20
O Movimento Negro Unificado convocou para o dia 20, terça-feira, uma plenária para o alinhamento de demandas a serem entregues ao governo do estado. A convocação foi desencadeada justamente pelo caso deste sábado, e terá como pauta Violência Policial e Racismo no Sistema de Justiça e Segurança . A atividade acontece às 19h, no Espaço de Convergência Adão Pretto, na Assembleia Legislativa, e também pode ser acompanhado por videochamada, AQUI.
Carta do 1º Encontro de Negros e Negras do Sintrajufe/RS reforçou importância do combate ao racismo
Em outubro de 2023, o Sintrajufe/RS realizou seu 1º Encontro de Negros e Negras, quando foram debatidos diversos temas relativos às lutas antirracistas. Entre esses temas, esteve o combate às diversas formas de racismo. A carta final do Encontro aponta que o combate ao racismo (estrutural, institucional, recreativo, cultural, religioso, etc) é uma responsabilidade coletiva, e é essencial que toda a nossa categoria esteja engajada nessa luta. O SINTRAJUFE/RS reconhece a importância de trazer à tona essa discussão, pois o racismo – uma construção da branquitude – afeta a vida de todos e todas. A questão racial é uma preocupação que deve unir a todos nós, independentemente de nossa cor ou origem étnica , diz o texto.