Na semana em que foi aberta oficialmente a campanha eleitoral de 2022, o Exército realizou um exercício militar em que teve como inimiga uma organização política fictícia chamada Ideal Proletário Pantaneiro . O exercício, nomeado Guardião Cibernético 4.0 , foi organizado pelo Comando de Defesa Cibernética do Exército e simulou uma guerra cibernética.
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No contexto geopolítico imaginário criado pelo Exército, o suposto regime com ideais proletários demanda de seus oponentes a demarcação de reservas que pertenceriam a seu território originalmente. De acordo com a narrativa, o não-reconhecimento desse alegado direito histórico fez com que o Ideal Proletário Pantaneiro (IPP) ocupasse militarmente a região disputada. A investida militar dos proletários , segundo o exercício, levou o Conselho de Segurança da ONU a encerar as negociações diplomáticas e a aprovar uma resolução que prevê uma intervenção militar , comandada por uma força militar multinacional com o intuito de derrotar o grupo paramilitar IPP .
Simulações tendo como inimigas organizações fictícias de esquerda não são novidade sob Bolsonaro
O ambiente simulado de guerra com referências a ideias de esquerda como inimigas foi concebido pelo Ministério da Defesa para outro exercício, a Operação Meridiano, uma simulação conjunta do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que ocorreu no Pará, em outubro de 2021. Uma outra simulação das Forças Armadas, realizada em 2020 e revelada pelo site The Intercept Brasil no final de 2021, teve objetivo combater uma organização armada clandestina que teria surgido de uma dissidência do Partido dos Operários , o PO , que recruta e treina militantes do MLT , o Movimento de Luta pela Terra . À época, em resposta via Lei de Acesso à Informação, o Exército disse que o exercício que pintou alvos em organizações legítimas e militantes de esquerda não teve nenhuma conotação político-ideológica nem de nacionalidade .
Benefícios e ameaças
As relações do Exército com Jair Bolsonaro (PL) vêm sendo movidas a benefícios e a ameaças à democracia. Durante todo o seu mandato, Bolsonaro distribuiu afagos aos militares, com proteção previdenciária, aumentos salariais que não ofereceu a mais ninguém e muitos cargos no governo federalinclusive cargos de civis. Recentemente, o Sintrajufe/RS denunciou que, entre janeiro e maio deste ano, 1.559 oficiais tiveram pagamentos líquidos mensais de mais de R$ 100 mil.
Os supersalários não são as únicas benesses de Bolsonaro para os militares durante seu governo. Os gastos com o setor vêm crescendo ano a ano, e os militares ficaram de fora de ataques sofridos pelos servidores federais, como a reforma da Previdênciaque também atingiu os trabalhadores e as trabalhadoras do setor privadoe a política de congelamento salarial. Em maio deste ano, o Sintrajufe/RS publicou matéria apontando que, em uma década, a renda dos militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica aumentou 29,6%, descontada a inflação do período, quase cinco vezes a média das carreiras federais (6,3%) e o dobro do que todas as categorias do funcionalismo brasileiro, incluindo União, estados e municípios, que registraram alta de 13,8%, em média.
Entre 2018, ano anterior à posse de Bolsonaro, e 2021, houve queda de 8,4% no gasto do governo com servidores civis ativos e de 3,3% com inativos. Em relação aos militares, o sentido é oposto: aumento de 5,7% no gasto com ativos e de 4,2% com inativos. Esses percentuais consideram os valores corrigidos pelo IPCA. Nos valores nominais, o crescimento dos gastos com militares ativos e inativos ultrapassa 25%, enquanto com os civis fica em 9,9% (ativos) e 16,1% (inativos). Os militares também vêm ocupando cada vez mais espaço no governo: com Bolsonaro, já são 6 mil em cargos civis, mais do que o dobro registrado durante o governo de Michel Temer (MDB).
Em meio a tantos ganhos, Bolsonaro tem estimulado uma tutela militar nas eleições de outubro. Alinhados com Bolsonaro, os militares querem até mesmo utilizar boletins impressos de urna para uma apuração paralela . O programa de fiscalização próprio do Exército vem sendo denunciado pelo Sintrajufe/RS e por outras entidades também porque ataca a idoneidade dos servidores e servidoras da Justiça Eleitoral. A cada veze são muitasque Bolsonaro tenta desacreditar o processo eleitoral, ele desrespeita os servidores e coloca em dúvida a honestidade e a seriedade da categoria.
Ovelha não é pra mato! Cada coisa deve estar em seu devido lugar
Contra os ataques de Bolsonaro e em defesa dos servidores e servidoras da Justiça Eleitoral, o Sintrajufe/RS lançou na primeira quinzena de agosto a campanha Ovelha não é pra mato . O mote refere-se a um ditado popular sobre a necessidade de que cada coisa deva estar no seu devido lugar. A campanha, com outdoors, publicações nas redes sociais e spot de rádio, alerta: Quem cuida das eleições são os servidores e as servidoras da Justiça Eleitoral . E completa: O Brasil não aguenta mais nenhum golpe! .
Com informações do Brasil de Fato.