SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

GRANDES NEGÓCIOS

Depois da Americanas, Ambev também é suspeita de rombo fiscal bilionário. O que elas tem em comum?

Depois do rombo de R$ 20 bilhões que colocou a Americanas à beira da bancarrota, nova suspeita agora paira sobre a Ambev. A maior cervejaria da América Latina tem em comum com a rede de lojas a presença da 3G Capital, dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sucupira e Marcel Telles.

A nova denúncia contra a Ambev partiu da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil). Conforme publicado na revista Veja nessa quarta-feira, 1º, o rombo estimado na companhia seria de R$ 30 bilhões, decorrentes de manobras tributárias por parte da gigante de bebidas. A CervBrasil contratou a consultoria AC Lacerda, que identificou dí­vida bilionária em impostos federais, estaduais e municipais. A associação acusa a Ambev de inflacionar, intencionalmente, os preços dos componentes usados na produção de bebidas, passí­veis de isenção e geração de créditos fiscais, na Zona Franca de Manaus.

De acordo com o diretor-geral da CervBrasil, Paulo Petroni, pelo menos desde 2017 relatórios de fiscalização da Receita Federal apontam bilhões e bilhões de ilí­citos tributários cometidos pelos fabricantes de concentrados de refrigerantes na Zona Franca de Manaus . Os balanços da Ambev, no entanto, não registram essas quantias devidas ao erário público. A Ambev nega a acusação, pois se coloca entre as cinco maiores pagadoras de impostos no paí­s. Calculamos todos os nossos créditos tributários estritamente com base na lei. Nossas demonstrações financeiras cumprem com todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário , disse a companhia, em nota.

Credibilidade em crise

Escaldados com o escândalo da Americanas, no entanto, os investidores da Ambev acusaram o golpe. Perto do fechamento do pregão, as ações da Ambev caiam 3,59% na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), após a divulgação da suspeita. Em comparação, as ações da Americanas, cotadas a R$ 12 antes do anúncio do rombo, caí­ram quase 80% em um mês.

Antes vistos como semideuses do capitalismo brasileiro, Lemann, Sucupira e Telles enfrentam uma grave crise de reputação. Além do ceticismo dos investidores individuais, o trio trava uma guerra judicial contra os maiores bancos do paí­s. O Bradesco, por exemplo, afirma que a Americanas, controlada há décadas pelos bilionários, foi palco para uma das maiores fraudes contábeis da iniciativa privada . Nesse sentido, as instituições financeiras tentam barrar na Justiça o pedido de recuperação judicial das Americanas.

Em outra ponta, as principais centrais sindicais do paí­s também entraram na Justiça para garantir os direitos dos mais de 44 mil trabalhadores do Grupo Americanas em todo o paí­s. Na ação civil pública, pedem o bloqueio de R$ 1,53 bilhão das contas pessoais dos empresários. Além disso, pediram a intermediação do governo federal com o objetivo de colocar os empregos e os pagamentos de fornecedores na frente do sistema bancáriojá que a cadeia envolve outra dezenas de milhares de empregos. A ação é urgente, pois a Lojas Americanas já começa a cortar trabalhadores terceirizados, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.

Falsificação

De acordo com o executivo Jean Van de Walle, da Sycamore Capital, a suspeita de rombo na Ambev, a estrela da 3G Capital , revela mais uma falsificação . Parece que tudo foi engenharia financeira, alavancagem e habilidades de administração escassas , disse ele, em postagem no LinkedIn.

Por outro lado, os bilionários da 3G Capital também são os principais beneficiários da privatização da Eletrobras. O processo, concluí­do pelo governo Bolsonaro em julho do ano passado, resultou em perdas para os cofres públicos de pelo menos R$ 63 bilhões, de acordo com relatório do Tribunal de Contas da União (TCU).

Perda de R$ 11,57 milhões do Funpresp do Executivo com rombo na Americanas é alerta para a servidores

O rombo bilionário identificado nas contas da Americanas gerou prejuí­zo direto ao fundo que cuida da Previdência de parte dos servidores e servidoras do Poder Executivo. A Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe) perdeu R$ 11,57 milhões com a queda das ações da empresa na bolsa. Frente ao montante do fundo é um valor pequeno, mas em se tratando de uma empresa considerada sólida e com contabilidade auditada a pergunta que cabe é o que mais está por vir? A segurança dos fundosou falta delaque deveriam garantir a aposentadoria de milhares de servidores e servidoras está em questão. Afinal, a aposentaria é um direito e não deve ser ameaçada por oscilações do mercado ou possí­veis fraudes. Mas é justamente sobre isso que este escândalo emite sinais.

Em dezembro de 2022, a Funpresp-Exe tinha 103 mil participantes ativos e R$ 6,49 bilhões em patrimônio, que administra em nome desses servidores e servidoras e cujos resultados irão gerar os valores que esses trabalhadores e trabalhadoras receberão ao se aposentar. A gestão é feita por meio da aplicação dos valores no mercado financeiro, sendo R$ 4,49 bilhões administrados pela própria Fundação; os outros R$ 2 bilhões são administrados por terceiros, contratados por licitação (Asset Managers). É nesse segundo grupo de recursos que foram feitos investimentos nas ações da Americanas. A perda, conforme reportagem da Rede Brasil Atual, foi de R$ 11,57 milhões, 77% do valor investido na empresa. Além disso, há exposição da Funpresp-Exe ao mercado de ações em geral. Conforme nota divulgada pela própria Funpresp-Exe, a exposição da Fundação ao mercado acionário se dá exclusivamente por meio de fundos de investimento que seguem o índice Bovespa. As ações da empresa Americanas S/A faziam parte da carteira do í­ndice em 11/01/2023dia em que a empresa revelou inconsistências nas suas demonstrações financeirase, portanto, havia uma exposição a estas ações. A exposição da Fundação às ações da Americanas totalizava 0,02% do patrimônio na data em questão. Já a exposição às debêntures [tí­tulos representativos de dí­vida emitidos por empresas com o objetivo de captar recursos] da Americanas totalizava 0,30% do patrimônio .

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: Rede Brasil Atual