SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

FRAUDE

Centrais sindicais realizam ato cobrando que trabalhadores não paguem pelo rombo bilionário na Americanas

Na próxima sexta-feira, 3, às 10h, as centrais sindicais e confederações do comércio realizam ato público no Rio de Janeiro, em frente a sede da Americanas. O protesto será em defesa dos milhares de postos de trabalho que podem ser fechados após rombo da varejista vir à tona. O ato é organizado pela CUT, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviço (Contracs-CUT), a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC), a UGT, a CTB, a Força, a CSB e a NCST.

Entenda o caso

Na virada de ano, o CEO Sergio Rial assumiu a Presidência da Americanas. Porém, apenas dez dias depois, Rial renunciou ao cargo. O motivo? Ele descobriu um rombo de R$ 20 bilhões nas contas da empresa. Esse valor refere-se a dívidas que estavam sendo erroneamente contabilizadas: a empresa pediu empréstimos para pagar os fornecedores (em operações chamadas de “risco sacado” e, em vez de essas dívidas serem contabilizadas como tal, foram registradas como despesas com fornecedores. Isso esconde as dívidas acumuladas, apresentando a potenciais acionistas e possíveis credores uma realidade financeira que não existe, como se a empresa tivesse menos dívidas do que na realidade possui. Chamada de “inconsistência contábil” por alguns, a prática foi caracterizada como uma “fraude multibilionária” pela Abradin, associação que reúne acionistas minoritários de empresas de capital aberto.

44 mil empregos em risco

A crise bilionária não pode causar prejuízo para os trabalhadores e suas famílias e fornecedores, que também possuem funcionários que estão na eminência de serem demitidos, entendem os sindicalistas, que nesta segunda-feira, 30, alertaram o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, quanto ao risco de demissões em massa na Americanas. “É preciso muita sensibilidade. O problema dos bancos (credores) não pode ser maior do que os problemas relacionados ao tema trabalho e emprego”, afirmou Marinho ao defender que a solução deve preservar a continuidade da atividade econômica da Americanas, independentemente de quem seja o seu controlador.

O presidente da Contracs-CUT, Julimar Roberto, afirma que esta é uma luta conjunta para que os responsáveis pela crise sejam responsabilizados. “O que as entidades sindicais defendem é que aqueles — empresários — que fizeram o rombo sejam obrigados a pagar todos os encargos financeiros ao conjunto dos trabalhadores”.

O presidente da CUT-Rio, Sandro Cezar, acredita que o governo tem que intervir nessa situação. “Mais uma vez os empresários que gostam de fazer investimento no mercado financeiro jogaram com a Bolsa. Dias antes de se tornar pública a fraude que coloca em risco milhares de empregos, retiraram os negócios da Americanas”, afirma. Sandro relembra que esses são os mesmos empresários que queriam participar da privatização dos Correios e de outras empresas públicas brasileiras. “Esse é um exemplo de que o setor privado não é exatamente como dizem por aí, que funciona muito bem. Pelo contrário, tem muitos problemas, inclusive especulam com o dinheiro dos trabalhadores e trabalhadoras”, conclui.

A Contracs-CUT, a CUT, a UGT, a CTB, a Força, a CSB, a NCST e a CNTC, já entraram na Justiça para que os direitos trabalhistas sejam respeitados.


Histórico de suspeitas e escândalos

No contexto da crise da Americanas, o portal Uol publicou reportagem lembrando outras situações do mesmo tipo em que o trio de controladores da empresa – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – esteve envolvido. Lembrou, por exemplo, que, em 1998, o banco Garantia, criado por eles e responsável pela primeira parceria entre os três, esteve perto da falência antes de ser vendido. Já em 2014, diz a reportagem, “a Cosan, que adquiriu a ALL (América Latina Logística), afirmou ter encontrado a malha ferroviária da companhia em frangalhos e práticas fraudulentas para inflar resultados. A percepção era que o grupo, que havia deixado o controle da ALL havia 10 anos, mantivera um estilo de gestão ao qual são atribuídos muitos desses escândalos”. Em 2021, “o trio teve de fazer um acordo com a SEC, equivalente americana à CVM (Comissão de Valores Imobiliários), para encerrar uma investigação sobre má-conduta contábil na Kraft Heinz entre 2015 e 2018. A multa paga foi de US$ 62 milhões”. E mais: “Ainda em 2021, a Stone, ‘unicórnio’ (startup que vale mais de US$ 1 bilhão) da qual o grupo detém 4% das ações, teve problemas enormes de concessão de crédito, por ‘erros de experiência com recebíveis’, segundo o CEO da empresa. Naquele ano, a fintech perdeu 80% de valor de mercado”.

Privatização da Eletrobras

Os três também atuaram diretamente para a privatização da Eletrobras, da qual também são acionistas. Reportagem do jornalista Luis Nassif denuncia, sobre Lemann, que “a forma como se apropriou da Eletrobras é indecente, fruto de lobby direto na veia do poder público. Entrou como minoritário, no golpe do impeachment passou a ter poder de indicação dos gestores. Estes reduziram investimentos – que eram relevantes para o país – para garantir dividendos polpudos. A 3G, controlada por ele, produziu uma avaliação do preço da Eletrobras indecente, tomando como base o valor contábil da empresa. O golpe da privatização ocorreu com a empresa emitindo ações, que diluíram a participação estatal, e impuseram um acordo de acionistas pelo qual a União só tem direito a 10% dos votos, independentemente de sua participação acionária”.

Dividendos recordes, o dobro das concorrentes

Em meio à fraude, a Americanas pagou, no ano passado, dividendos recordes a seus acionistas. Conforme levantamento do TradeMap, a empresa distribuiu, de janeiro a setembro do ano passado, R$ 333,205 milhões em dividendos, o maior valor distribuído pela companhia na última década. Além disso, nos últimos dez anos, foram R$ 2,1 bilhões distribuídos aos investidores, mais do que o dobro do que concorrentes como a Magazine Luiza e a VIA.

Diretores venderam ações antes de anúncio de rombo

O portal Metrópoles publicou levantamento que aponta outra situação no mínimo suspeita: “Meses antes de a Americanas anunciar publicamente a descoberta de um rombo contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço financeiro, diretores da varejista fizeram um movimento relevante de venda de ações”, diz a reportagem. Conforme o levantamento, a diretoria da empresa vendeu R$ 241 milhões em ações entre julho e outubro, com especial crescimento desse volume em setembro, um mês depois do anúncio de que Sergio Rial seria o novo presidente. A reportagem aponta que “chamou a atenção de investidores a decisão da diretoria de vender ações justo quando uma guinada parecia ter começado a acontecer. A saída estratégica levantou no mercado as suspeitas de que os problemas contábeis da Americanas poderiam já ser conhecidos internamente”.

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: CUT