SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

NOTIFICAÇÃO DO MPF

Banco do Brasil é chamado à reparação histórica por envolvimento na escravidão

O Banco do Brasil tem até o dia 17 de outubro para responder a uma série de questões à Justiça sobre sua participação ou fomento na escravidão no paí­s. A data foi estipulada pelo Ministério Público Federal (MPF), em notificação sobre abertura de um inquérito civil público para investigar o envolvimento da instituição.

A escravização de seres humanos foi praticada no Brasil durante quase três séculos e meio. Historiadores calculam que, durante o perí­odo, cerca de 5 milhões de pessoas foram compulsoriamente retiradas de suas terras e comercializadas no paí­s. O auge do crime humanitário se deu entre o século 18 e meados do século 19. Somente no perí­odo de 1830 e 1850, foram cerca de 753 mil seres humanos retirados ilegalmente do continente africado e trazidos ao Brasil.

O pedido de reparação histórica ao BB não é novidade e faz parte de um movimento global. Na Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, o Bank of England e as universidades Harvard e Brown University já foram chamados a reconheceu seu papel na escravidão e apresentarem ações de reparação.

Nota do BB sobre movimento de reparação histórica

Em nota, o Banco do Brasil afirmou que irá responder aos questionamentos do MPF e ainda que, como empresa que busca promover a igualdade racial (¦) está à disposição do Ministério Público Federal para continuar protagonizando e envolver toda a sociedade na busca pela aceleração do processo de reparação .

Ainda em nota, o BB destacou que mantém grupo de discussão sobre diversidade, através do qual se reúne com movimentos representativos dentro da empresa, incluindo do BB Black Power, como forma de unir esforços em ações direcionadas à superação da discriminação racial .

Escravizados como garantia em empréstimos

A ação civil pública que motivou a notificação do MPF ao Banco do Brasil é assinada por um grupo de pesquisadores e historiadores que lançaram à luz a forma como a instituição BB se alimentou e fomentou o tráfico de pessoas. A primeira relação entre o BB e a escravidão se deu logo quando foi criado, em 1808, com a vinda do rei D. João VI ao Brasil. Na época, parte do dinheiro da instituição vinha de taxas cobradas de embarcações dedicadas ao tráfico de pessoas. Outra forma de incentivo ao comércio de seres humanos era a concessão de tí­tulos de nobreza, pelo governo imperial, a escravocratas e comerciantes ilegais que colocavam dinheiro no banco.

Em 1829, o BB foi dissolvido por problemas financeiros. Sua refundação ocorreu em 1833, e a partir dali sua relação com a escravidão se tornou mais intensa, começando pela participação de grandes traficantes no grupo de empresários que assinaram o termo de refundação do BB, entre eles José Bernardino de Sá, maior acionista do BB, em 1853.

Estima-se que Bernardino de Sá tenha contrabandeado 20 mil africanos entre 1825 e 1851, grande parte teria passado por um barracão que manteve no norte de Luanda, capital de Angola, onde deixava os africanos sequestrados até o embarque para o Brasil. Outros nomes de traficantes ligados ao BB são João Pereira Darigue Faro e João Henrique Ulrich, que foram, respectivamente, vice-presidente e diretor do banco. João Pereira Darigue Faro, conhecido também como Visconde do Rio Bonito, foi um dos maiores proprietários de escravizados no Império, com 540 seres humanos detidos em nome de sua famí­lia. João Henrique Ulrich chegou a ser flagrado pelo governo de Angola, em 1842, comandando um barracão de escravizados em Luanda.

Os historiadores descobriram ainda que foram os traficantes de pessoas que financiaram o Estado, com tí­tulos da dí­vida pública e capital societário nos bancos. Mais de 3 mil execuções de dí­vidas no Rio de Janeiro, entre 1830 e 1860, revelaram também que escravizados eram utilizados como garantia de pagamento de empréstimos no Banco do Brasil.

Sintrajufe/RS promove 1º Encontro de Negro e Negras

O Sintrajufe/RS promove, no dia 28 de outubro, o 1º Encontro de Negros e Negras: pensando a interseccionalidade a partir da raça. A proposta partiu do Núcleo de Negros e Negras do sindicato, com o objetivo de promover, a partir da questão racial, uma discussão interseccional que envolva gênero, capacitismo, orientação sexual e etarismo, aprofundando o debate sobre as estruturas racistas e excludentes da sociedade que impactam diretamente no ambiente de trabalho e na forma de pensar e fazer polí­ticas sindicais.

A programação será divulgada em breve nos meios de comunicação do Sintrajufe/RS.

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: CUT