SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

MAIS UMA VEZ

MPT resgata 18 argentinos escravizados na colheita da uva em São Marcos, na Serra Gaúcha

Dezoito trabalhadores foram resgatados em situação análoga à de escravidão em uma propriedade rural de São Marcos, na Serra do Rio Grande do Sul. Todos eles argentinos, foram trazidos ao Brasil da proví­ncia de Misiones para trabalhar na colheita da uva.

A produção era comprada por empresas de Santa Catarina e Paraná e destinada ao consumo in natura e à produção de geleias. Os nomes das fazendas envolvidas e de seus proprietários não foram divulgados.

A operação de resgate foi realizada na última quarta-feira, 31 de janeiro, em uma ação de força-tarefa coordenada pelos auditores-fiscais do trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), acompanhada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) no Rio Grande do Sul e com apoio da Polí­cia Rodoviária Federal (PRF). Os homens resgatados têm entre 16 e 61 anos. O arregimentador dos trabalhadores, também argentino, foi conduzido à delegacia da Polí­cia Federal (PF) de Caxias do Sul e preso em flagrante pelos crimes de redução à condição análoga a de escravo e de tráfico de pessoas (artigos 149 e 149-A do Código Penal).

Reportagem do jornal Extra-Classe aponta que os trabalhadores entraram no Brasil no municí­pio de Dioní­sio Cerqueira, em Santa Catarina, mediante falsas promessas de trabalho, moradia e alimentação. Quando chegaram, conta a matéria, as promessas não foram cumpridas. A fiscalização flagrou os trabalhadores vivendo em alojamentos em condições precárias, superlotados, sem camas suficientes, dormindo em colchões, não havendo também o fornecimento de água encanada para banho e necessidades básicas em uma das casas, além de frestas nas paredes e risco de incêndio pela precariedade das instalações elétricas , conta a reportagem, que também informa que os resgatados estavam no local há cerca de uma semana.

O MTE, com apoio do MPT, já adota os procedimentos de pós-resgate: a hospedagem dos empregados em outro local; o cálculo e a cobrança de verbas rescisórias e valores devidos; o encaminhamento do seguro-desemprego para os resgatados e o custeio do retorno do adolescente à sua cidade de origem. As investigações seguem em curso. Como prestaram serviços continuados a propriedades rurais, terão direito ao pagamento de três parcelas do seguro-desemprego.

Viní­colas e trabalho escravo

O resgate foi realizado em decorrência da operação In Vino Veritas ( No vinho está a verdade ), que visa a apuração de eventuais irregularidades trabalhistas no setor vitivinicultor da Serra. São inspecionados estabelecimentos rurais e viní­colas da região, que concentra a maior parte da produção nacional de uva e vinhos. O objetivo da operação é garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores safristas, tendo em vista a colheita 2024, e verificar as mudanças feitas em toda a cadeia produtiva como resultado de operação realizada há um ano na região, quando foram resgatados 207 empregados de um grupo empresarial responsável pela colheita de três grandes viní­colas de Bento Gonçalves.

As viní­colas Aurora, Garibaldi e Salton assinaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) referente ao caso dos 207 trabalhadores resgatados em Bento Gonçalves em condições análogas à escravidão no dia 22 de fevereiro de 2023. As empresas se comprometeram a pagar R$ 7 milhões por danos morais. A operação também verifica o cumprimento de termo de ajuste de conduta (TAC), que empregadores firmaram com o MPT em março do ano passado, e apura as mudanças realizadas no setor vitivinicultor após uma série de medidas adotadas pelo poder público, a exemplo de encontros, reuniões e palestras realizadas pelo MTE com entidades e produtores rurais ao longo do ano de 2023; e do pacto, proposto pelo MTE e firmado entre representantes das viní­colas, dos sindicatos dos trabalhadores e do poder público, em maio do ano passado.

Com informações do jornal Extra-Classe, do Brasil de Fato e do portal G1

Foto: MTE/Divulgação