SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

CONTRA O RACISMO

Após novo ataque racista na Liga espanhola, Vini Jr. exige punições

O jogador brasileiro Vinícius Jr. sofreu novos ataques racistas no domingo, 21, em jogo pela liga espanhola (La Liga), e cobrou medidas efetivas. Pelo Twitter, ele publicou: “Quero ações e punições. Hashtag não me comove” e afirmou que “o racismo é o normal na La Liga”. Logo depois, o presidente da Liga, Javier Tebas Medrano, rebateu que o atleta deveria se informar “antes de criticar e ofender a liga espanhola”.

O jogo era entre Real Madrid, clube do jogador brasileiro, e Valencia. Em determinado momento, boa parte da arquibancada começou a gritar “mono” (“macaco”, em espanhol) para agredir o jogador.

Vini Jr. afirmou que “não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. […] Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.

No Twitter, Tebas Medrano enviou mensagem direta ao jogador dizendo que, sobre “o que é e o que pode fazer LaLiga em casos de racismo, tentamos explicar para você, mas você não apareceu em nenhuma das duas datas combinadas que você mesmo solicitou”. Como se o jogador não ter ido a reunões justificasse os episódios recorrentes, sem qualquer punição. “Antes de criticar e insultar a LaLiga, é preciso que você se informe bem, Vini Jr.”, afirmou o dirigente.

Nesta segunda-feira, 22, Tebas Medrano voltou a usar o Twitter para atacar o jogador brasileiro. Negando o óbvio, ele disse que a Espanha e a liga de futebol do país não são racistas. E, numa tentativa de minimizar os episódios, disse que a liga denunciou nove casos de racismo na atual temporada, sendo oito contra o jogador brasileiro, dizendo que o racismo é “extremamente pontual”.

“A cada rodada fora de casa uma surpresa desagradável. E foram muitas nesse temporada. Desejos de morte, boneco enforcado, muitos gritos criminosos” […] “Mas o discurso sempre cai em ‘casos isolados’, ‘um torcedor’. Não, não são casos isolados. São episódios contínuos espalhados por várias cidades da Espanha (e até em um programa de televisão)”, afirmou Vini Jr. também nesta segunda-feira, 22, no Instagram, junto com um vídeo em que se ouvem os ataques da torcida do Valencia. Ele afirma que “as provas estão aí no vídeo. Agora pergunto: quantos desses racistas tiveram nomes e fotos expostos em sites? Eu respondo para facilitar: zero”. O atleta afirma que “o problema é gravíssimo e comunicados não funcionam mais. Me culpar para justificar atos criminosos também não”.

A postura do dirigente não surpreende. Advogado especialista em causas esportivas, ele está no cargo de presidente da liga desde 2013 e jamais adotou postura de combate aos casos de racismo. Espanhol nascido na Costa Rica, já se declarou abertamente como apoiador do Vox, partido de extrema direita espanhol com ligações diretas com o bolsonarismo.

Racistas seguem impunes no futebol espanhol

Como destacou Vini Jr., “o trabalho” da liga espanhola no combate ao racismo se resume, basicamente, à criação de hashtags. Não foi tomada qualquer medida efetiva para combater os ataques reiterados sofridos por Vini em estádios e em outros locais na Espanha. Os clubes envolvidos e os agressores não sofreram qualquer punição relevante.

“Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada”, disse Vini, também em uma rede social. “Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo”, prosseguiu.

Apoios ao jogador

O episódio gerou reações vindas de todas as partes do mundo, vindas de dentro e de fora do futebol, com enorme apoio à postura do atleta brasileiro. Os principais clubes do país se manifestaram denunciando o racismo, pedindo respostas e oferecendo palavras de carinho ao jogador.

Após participar da reunião do G7 no Japão, o presidente Lula (PT) se posicionou sobre o caso e pediu que as entidades responsáveis pelo futebol tomem medidas efetivas: “Eu penso que é importante que a Fifa, a Liga espanhola, as ligas de outros países tomem sérias providências. Não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dentro dos estádios de futebol”.

A diretor-geral da Unesco afirmou “total apoio a @vinijr, alvo de calúnias racistas mais uma vez, com muita frequência. Sei o quão sincero é o seu compromisso e estou com você em sua luta contra a discriminação e a intolerância. A compreensão e a inclusão devem ser reafirmadas no coração de todos os estádios”.

Muitos atletas, brasileiros e estrangeiros, mandaram mensagens de apoio. É o caso do jogador da Seleção Brasileira de futebol Richarlison Andrade: “Sempre fizeram de tudo para evitar que o preto chegasse ao topo… escravizaram, marginalizaram e mataram. Mas nunca vão derrubar quem nasceu para ser grande. A história se esquece dos ratos e agiganta quem luta contra essa gente ruim. Tamo junto sempre, @vinijr”.

Com informações de CUT Brasil e TNT Esportes