Por Virginia Dapper, médica da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS
A data 28 de fevereiro é dedicada ao Dia Mundial de Combate à LER/Dort. Foi escolhida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para conscientizar a população sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort), que incluem as lesões por esforços repetitivos (LER), considerando tratar-se de uma questão de saúde pública mundial que acomete trabalhadores de diversos setores em todo o mundo.
Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, em 2019, quase 39 mil trabalhadores e trabalhadoras foram afastados do trabalho devido a esse tipo de adoecimento, que pode levar à perda de funcionalidade e dificuldade de movimentos, trazendo impactos para a vida profissional e pessoal do trabalhador e da trabalhadora. Mas esses dados referem-se apenas aos trabalhadores segurados.
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Sabemos que a subnotificação é um grave problema e que são notificados apenas aqueles casos que diagnosticados e que têm sua relação com o trabalho estabelecida. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, em 2013, ocorreram mais de 3,5 milhões casos de pessoas com LER/Dort.
As transformações em curso no mundo do trabalho, decorrentes da introdução de novos modelos organizacionais e de gestão, têm repercussões diretas sobre a saúde dos trabalhadores, entre as quais se destacam as LER/Dort. Esse grupo de agravos apresenta algumas características em comum, como o aparecimento e evolução insidiosa, origem multifatorial complexa, na qual se entrelaçam inúmeros fatores causais, entre eles exigências mecânicas repetidas por períodos de tempo prolongados, utilização de ferramentas vibratórias, posições forçadas, fatores da organização do trabalho, como, por exemplo, exigências de produtividade, competitividade, intensificação do trabalho e controle excessivo dos trabalhadores, sem levar em conta as características individuais do trabalhador.
Algumas das categorias profissionais mais atingidas são bancários, metalúrgicos, trabalhadores do setor de alimentação, digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing, trabalhadores da saúde, entre outros.
Entre as doenças que são classificadas como LER/Dort, segundo o Ministério da Saúde, existem: tenossinovites, tendinites, epicondilites, bursites, síndrome miofascial, síndrome do túnel do carpo, síndrome cervicobraquial, síndrome do manguito rotador, cistos sinoviais e lombalgias.
Os sinais e sintomas de LER/Dort são múltiplos e diversificados, destacando-se:
– dor espontânea ou à movimentação passiva, ativa ou contra-resistência;
– alterações sensitivas de fraqueza, cansaço, peso, dormência, formigamento, sensação de diminuição, perda ou aumento de sensibilidade, agulhadas, choques;
Dependendo do estágio da doença, a LER/Dort pode ser praticamente irreversível. Em outras palavras, a pessoa fica incapacitada para o resto da vida, o que tem chamado a atenção da área da saúde por ser uma enfermidade altamente incapacitante.
Uma questão importante é que as mulheres são as mais adoecidas por LER/Dort, e isso se relaciona muito menos às questões físicas anatômicas, mas por questões organizacionaispostos de trabalho menos qualificados, menos acesso aos programas de treinamento, trabalhos destituídos de conteúdo, fragmentados e repetitivos, além de questões sociais, como a dupla jornada de trabalho.
A falta de informação ainda é um forte obstáculo contra a prevenção da LER/Dort. De um lado, a falta de investimento em melhores condições de trabalho, e do outro, o medo de perder o emprego, muitas vezes ocultando a dor até chegar à incapacidade laboral.
A adoção de medidas de prevenção da LER/Dort ainda é vista como sinônimo de gastos por muitas empresas que mantêm ambientes e rotinas inadequadas à saúde dos trabalhadores. Mas o trabalho de prevenção não deve se pautar somente na utilização de mesas e cadeiras ergonômicas e descanso para os pés, mas sim na organização do trabalho e no respeito às características psicofisiológicas dos trabalhadores.
A pesquisa de Saúde 2016/2017 do Sintrajufe/RS mostra a incidência de dores osteomusculares frequentemente ou sempre em membros superiores em 49,6% dos servidores do Judiciário federal no Rio Grande do Sul, um indicativo sério de que são necessárias melhores condições de trabalho para a categoria.