SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

SAÚDE

Em reunião preparatória ao Encontro Nacional de Saúde da Fenajufe, especialistas e categoria debatem pesquisa de saúde do Sintrajufe/RS, direito à desconexão, saúde no trabalho das PCDs e assédio moral e sexual

O Sintrajufe/RS realizou, nessa terça-feira, 26, reunião preparatória ao Encontro Nacional de Saúde da Fenajufe. A atividade teve debates importantes para a saúde da categoria e, ao final, elegeu os e as representantes do Rio Grande do Sul no Encontro Nacional.

A diretora Cristina Viana abriu a reunião apresentando as painelistas: Virgí­nia Dapper, médica do trabalho e integrante da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS; Jane Maria Reos, médica graduada pela Ufrgs, assessora de saúde do trabalhador do Sindjus; e Alessandra Andrade, diretora do Sintrajufe/RS, especialista em Direitos Humanos.

A diretora Mara Weber conduziu a mesa. Em sua fala inicial, Mara falou da importância da pesquisa de saúde realizada pelo sindicato, que depois seria apresentada por Virgí­nia Dapper. A dirigente lembrou que há um aumento da carga de trabalho, muito associado à introdução intensiva de ferramentas tecnológicas e, assim, à dificuldade de delimitar a jornada de trabalho, um problema que não se resume ao teletrabalho, mas também afeta o trabalho presencial em meio às rotinas estabelecidas. Comentando o contexto de pandemia e trabalho remoto, Mara também falou dos problemas ergonômicos muitas vezes enfrentados em casa e dos recortes de gênero necessários para discutir essas questões, como a sobrecarga imposta às mulheres.

Pesquisa de Saúde

Após a introdução feita por Mara, a médica Virgí­nia Dapper apresentou e comentou alguns dos principais dados obtidos na pesquisa de saúde que o Sintrajufe/RS realizou junto à categoria. A Pesquisa de Saúde Trabalho Remoto Compulsório e Sob Confinamento teve 462 participantes, com respostas obtidas entre outubro de 2020 e março de 2021. As questões abordadas na pesquisa revelaram dados preocupantes, com altos í­ndices de ansiedade (64,5%), saudade de amigos/familiares (46,1%) e exaustão (40,9%), entre outros itens, relatados pelos servidores e pelas servidoras.

A pesquisa revelou a associação das horas diárias trabalhadas com as dores no corpo e também apresentou recortes de gênero, mostrando que as mulheres estão com sobrecarga maior e com reflexos negativos na saúde fí­sica e mental. Ao final de sua apresentação, Virgí­nia destacou a importância de ouvir a categoria para buscar ações que melhorem o cenário e destacou um resumo com alguns dos principais dados: 43,5% identificaram aumento na quantidade de trabalho; 40,5% perceberam aumento na duração da jornada; 35,5% relatou trabalho nos finais de semana; para 44%, há piora nas mesas e cadeiras em casa em relação ao local tradicional de trabalho; as dores pioraram para 52,8%; há maior dificuldade de concentração para 37,1%; houve maior intensidade durante a pandemia de sentimentos como ansiedade, exaustão, impaciência e saudades de amigos e da famí­lia para 80%.

Quando observamos as variáveis a partir das identidades de gênero, os sentimentos de ansiedade (65,4%), exaustão (46,1%) e medo (30,9%) são destaques importantes para pessoas do gênero feminino. Assim como sentimentos de ansiedade (63,2%), impaciência (39,4%) e abatimento (34,2%) para respondentes do gênero masculino. As frequências das dores no pescoço, nas costas, nos membros superiores e inferiores aumentaram mais no gênero feminino. Relatos de dor quase sempre / sempre em Membros Superiores aproximadamente 40% fem. e menos de 20% masc.

Entre os fatores de aumento de trabalho estão, o uso de whatsapp/telefone (55,7%), número de servidores menor que o necessário (49,7%) e cuidados com filhos / pais / familiares / trabalho doméstico (48,2%). Observou-se associação significativa da qualidade da conexão de internet em casa com a presença dos sentimentos de tristeza, saudades dos colegas e exaustão. Com a diminuição da qualidade de conexão em casa, a prevalência desses sentimentos aumenta. O conforto/adequação da mesa para a realização das atividades e acomodação dos equipamentos e materiais de trabalho mostrou-se associado significativamente com a frequência e mudança de dores relacionadas à postura/ergonomia. À medida que a quantidade diária de horas trabalhadas aumenta, a frequência de dores também aumenta com significância estatí­stica. A percepção de piora nas dores no corpo foi relatada por 47.8% entre os que trabalham até 6h e por aproximadamente 62% entre os que trabalham 9h ou mais.

Assédio

Na sequência, Jane Maria Reos falou sobre assédio moral e sexual, cujo enfrentamento vem sendo uma pauta prioritária para o Sintrajufe/RS. A painelista destacou que as mulheres são quem mais sofrem com esses problemas, e denunciou que o mundo é hostil para as mulheres. Reos também lamentou a ocorrência de assédio no trabalho: o trabalho faz parte da nossa identidade, e por isso qualquer violência no trabalho vai afetar nossa saúde fí­sica e mental , explicou, lembrando que 30% das mulheres já sofreram assédio sexual no trabalho. A médica defendeu que é necessário desconstruir o machismo na sociedade, e que lutar pela liberdade da mulher é lutar contra o neoliberalismo, é lutar contra o capitalismo .

Especificamente sobre o assédio no ambiente de trabalho, ela ressaltou a importância de incentivar a denúncia, o que nem sempre é fácil e reconhecer o sindicato como ferramenta de luta, de proteção. Para a painelista, uma denúncia tem efeito dominó, porque encoraja outras mulheres a também denunciarem situações semelhantes. Conforme a médica, as metamorfoses que vêm ocorrendo no mundo do trabalho estão agravando o problema, com a busca do capital por aumentar a produtividade e a consequente pressão sobre os trabalhadores e as trabalhadoras. Internamente nas organizações, a competição funciona como estí­mulo ao assédio, já que as relações passam, muitas vezes, a serem atravessadas pelo medo.

Saúde das pessoas com deficiência

A última painelista foi a diretora do Sintrajufe/RS Alessandra Andrade, que falou sobre a saúde das pessoas com deficiência (PCDs). Ela informou que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% da população mundial tem alguma deficiência; no Brasil, 14,5%, totalizando mais de 24 milhões de pessoas. Para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, defendeu Alessandra, é preciso conectar discurso e prática para combater preconceitos e garantir direitos.

A dirigente lembrou que as PCDs têm expectativa de vida reduzida, em especial nos paí­ses menos desenvolvidos; além disso, pontuou ter uma deficiência causa traumas, e para superá-los é preciso uma sociedade inclusiva. Nesse contexto, ressaltou Alessandra, uma sociedade que já é difí­cil para as pessoas sem deficiência, torna-se ainda mais difí­cil para PCDs: desemprego maior, saúde que precisa de mais cuidados, maior dificuldade para acessar universidades, mais problemas de saúde mental, entre outros obstáculos. Assim, questões que muitas vezes são vistas como vantagens , como a aposentadoria especial, são, na verdade, compensações pelas dificuldades extras enfrentadas cotidianamente: Nenhum benefí­cio conquistado pelas pessoas com deficiência é um privilégio , defendeu.

Após as exposições, abriu-se para o debate das e dos participantes da reunião, que fizeram relatos de suas experiências e questionamentos, reforçando a importância do sindicato no enfrentamento das questões de violência no trabalho e garantia de boas condições a todas e todas, bem como a conscientização da categoria para interromper o caminho de adoecimento vivido no Judiciário e MPU.

Representantes do RS no Encontro Nacional

Ao final da reunião, os e as participantes elegeram, por aclamação, delegadas e delegados que irão representar o Sintrajufe/RS no Encontro Nacional de Saúde da Fenajufe, que ocorrerá em Brasí­lia, em formato hí­brido, nos dias 6 e 7 de agosto.

Veja abaixo os nomes:

Participação presencial:
Camila Thomas Telles
Cristina Viana dos Santos
Lí­dia Schneider da Silva
Sandra Anflor da Silva

Participação virtual:
Alessandra Pereira de Andrade
Carla Nunes Santos
Débora Bicudo Cardoso
José Carlos Pinto de Oliveira
Luciana Krumenauer Silva
Márcia Angelita Coelho