Na quarta-feira, 11, dentro da programação da 1ª Jornada Feminista Plurissindical, foi realizada uma live com o tema Violências de gênero no mundo do trabalho . A atividade aconteceu na sede, sendo transmitida pela página do Sintrajufe/RS no Facebook. A Jornada é organizada pelo sindicato, em parceria com Sindipetro/RS, Sindágua/RS, Semapi/RS, Sindibancários/POA, Assufrgs e Fetrafi.
As representantes das entidades organizadoras fizeram considerações e deram exemplos de violências relacionadas ao trabalho em suas categorias, destacando assédio moral e sexual, racismo, capacitismo, metas abusivas e meritocracia como fatores de opressão, sofrimento psíquico e outras. A mediação foi da diretora do Sintrajufe/RS Ana Naiara Malavolta, que destacou que, de modo geral, mesmo que as mulheres consigam atingir cargos de chefia, estes dificilmente situam-se nos pontos mais altos da hierarquia nas organizações, incluído aí o serviço público. Ela também ressaltou a invisibilidade das mulheres lésbicas e bissexuais mesmo em estudos que tratam de gênero, violência e trabalho.
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A procuradora do Ministério Público do Trabalho da 4ª Região Ana Lucia Gonzalez explicou que o assédio moral, quando assume a forma de assédio institucional, tem um efeito negativo ainda mais abrangente, passa a ser usado como forma de gestão. Um exemplo é o estabelecimento de metas inatingíveis. De qualquer forma, independentemente de como se apresente, as consequências do assédio moral são de responsabilidade do empregador, que tem o dever de manter o ambiente de trabalho saudável. Ana Lucia apontou que o assédio sexual no trabalho é, antes de tudo, uma forma de intimidação usada, principalmente, contra as mulheres.
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A violência no ambiente de trabalho é bastante comum em relação a pessoas com deficiência. Servidora do TJ-RS e judoca medalhista de ouro em Paraolimpíadas, Cristina Mazuhy Xerxenesky afirmou que o capacitismo, preconceito contra pessoas com deficiência, domina os ambientes de trabalho. Isso porque, sustenta ela, as pessoas são vistas antes pelas incapacidades do que por suas potencialidades.
A divisão sexual no trabalho tem impacto na saúde, afirma a médica do trabalho e integrante da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS, Virgínia Dapper. Ela lembra que no Brasil, apesar de as mulheres serem a maioria da população, ocupam apenas 40% dos cargos de chefia e têm salários menores. E o quadro se agrava em relação às mulheres negras. Ao falar sobre assédio, Virgínia ressalta que a relação entre trabalho e adoecimento muitas vezes demora a ser reconhecida pelas próprias mulheres vítimas de violência laboral. Aliás, essa relação também não é feita com frequência pelos próprios médicos, levando a uma subnotificação dos casos. Virgínia alerta, ainda, para a gravidade da síndrome do desamparo assistido, quando a vítima é tão molestada, a ponto de não acreditar que adiante reagir. Para a médica, pesquisas (como as realizadas pelo Sintrajufe/RS) e denúncias são importantes para mostrar que o problema não está na mulher, mas nas relações de trabalho.
É necessário entender o quanto o assédio atinge as mulheres, por exemplo, devido a intersecções como raça ou idade, pois as estruturas identitárias são matrizes de opressão e dominação. É o que defende Suelen Aires Gonçalves, doutoranda de Sociologia da Ufrgs, integrante do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC) e professora universitária. Segundo ela, as construções sociais também trazem consigo padrões ideais, que levam a pensar que uma mulher não poderia estar ocupando determinado lugar ou chefia, ou os obstáculos colocados para mulheres devido não somente a gênero, mas questões raciais e etárias, por exemplo. Suelen entende que, no caso do Brasil, há elementos estruturantes que não podem ser ignorados e que o problema basilar é o capitalismo periférico estabelecido no país. Para ela, é importante pensar que o que adoece é o sistema e este utiliza de hierarquias como as de gênero e raça para se manter e justificar.
As dirigentes sindicais, que foram se revezando na roda de conversa nas provocações feitas às especialistas convidadas, levantaram diversos aspectos de suas categorias funcionais. Foram unânimes em apontar como desafio que os sindicatos se instrumentalizem para que as trabalhadoras os vejam como locais de acolhimento e instrumentos para o efetivo enfrentamento desses problemas. No Sintrajufe/RS, a Secretaria de Saúde e Relações de Trabalho conta com assessorias de saúde e jurídica, especializadas para os encaminhamentos relacionadas aos conflitos nos ambientes de trabalho.
Veja aqui a cartilha ABC da violência contra a mulher no trabalho , do MPT4, que serviu como base ao debate, que continua gravado e disponível para visualização na página do sindicato.