O texto sobre o Instituto Milleniun é o primeiro de uma série que o Sintrajufe/RS publicará, com foco no serviço público e reforma administrativa. O objetivo é fazer um contraponto à manipulação de dados que tem sido divulgada, colocando-nos como “inimigos” do equilíbrio financeiro do Estado.
O Instituto Millenium (Imil) obteve destaque em diversos veículos de comunicação, sites, blogs e redes sociais, nas últimas semanas, a partir de um relatório no qual apresenta números manipulados sobre os serviços públicos no Brasil. A instituição, integrada e financiada por empresários, vem atuando em diversas pautas, com inserção nos governos, nos parlamentos e junto à opinião pública, a fim de aprofundar reformas que retiram direitos e reduzem a participação do Estado em serviços essenciais à população.
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O Millenium atua a fim de criar um ambiente de unificação de ideias e articulação do empresariado, recrutando jovens que defendam pautas como livre mercado e meritocracia e propagando, na mídia em geral, as ideias neoliberais, como redução do Estado, privatização, demonização do funcionalismo.
A incidência de seus integrantes e de suas ideias sobre ações de governos e parlamentares tem levado, cada vez mais, à priorização da agenda do empresariado em detrimento dos interesses da população em geral, como nas reformas trabalhista e da Previdência e, no momento, a reforma administrativa. Por isso, o Sintrajufe/RS prepara uma série com informações sobre o Instituto Millenium, a quem representa, seus interesses e modos de ação. Nesta primeira matéria, explicamos a origem da instituição.
Como surgiu
O Instituto Millenium é um think tank , ou seja, uma instituição que, por meio da produção de artigos, cursos, estudos, busca influenciar e alterar a opinião pública para que essa passe a apoiar mudanças nas políticas públicas e/ou na legislação, favorecendo determinado grupo.
A instituição surgiu em 2005, ainda com o nome Instituto da Realidade Nacional. Em 2006, durante do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, que reúne empresários e políticos neoliberais, foi rebatizado como Instituto Millenium.
De acordo com a coordenadora ainda em 2005, a economista Patrícia Carlos de Andrade , “aluna do mentor de várias figuras do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho “, foi a união de formadores de opinião apoiados por empresários que entendiam que o avanço de suas ideias só ocorreria quando se transformassem de alguma forma em política .
Na reunião de fundação, em 2005, estava presente o atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Naquele momento, ele afirmou que, nas eleições presidenciais de 2002, só haviam sido apresentadas candidaturas estatizantes e que isso precisava mudar.
Integrantes e apoiadores
O Millenium conta com apoio e participação de empresas e empresários. Em seu site, constam como financiadores e apoiadores permanentes Gerdau, Pottencial Seguradora, editora Abril, Évora, Bank of America Merrill Lynch, M&M, grupo RBS, Porto Seguro e Central 24 Horas.
Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Imil sempre teve representantes nos ministérios. São nomes como Everardo Maciel, ex-ministro da Educação, do Interior e da Fazenda; Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda; Marcelo Côrtes Neri, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos; Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda; Paulo Guedes, atual ministro da Economia; e Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda.
Na área de comunicação, o Imil conta com apoio de grupos como Estado e RBS. Atuam ou atuaram junto à instituição nomes conhecidos, como João Roberto Marinho, do Grupo Globo; Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo; Roberto Civita, do Grupo Abril; jornalistas e comentaristas como Pedro Bial, Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Merval Pereira, Guilherme Fiuza e José Nêumanne Pinto.
Comparação de gastos em educação e saúde é pura manipulação para enganar a população: imprensa reproduz a mentira
Saúde e educação são temas sensíveis para a população. Por isso, o Millenium tem centrado suas análises nessas áreas, fazendo comparações manipuladas. Por exemplo: de acordo com o estudo do Imil, em 2019 13,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi utilizado para pagar salários do funcionalismo, enquanto 6% foi investido em educação e 3,9% em saúde.
A educação e a saúde são muito mais do que materiais, livros, remédios, prédios e manutenção. Como dar aulas e tratar da saúde sem trabalhadores e trabalhadoras da educação e da saúde, pessoal da limpeza e administrativo? Os salários não estão em oposição ao orçamento e, portanto, não podem ser considerados à parte, mas incluídos nessas contas. A proposital manipulação pretende que o funcionalismo seja visto como um entrave , e não solução para o atendimento da população.