SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS

Sintrajufe/RS, em parceria com a CUT-RS e outros sindicatos, lança gibi sobre as lutas das mulheres

O Sintrajufe/RS, em parceria com a CUT-RS e outros sindicatos e federações, lançou o gibi Mexeu com uma, mexeu com todas , que retrata as principais lutas enfrentadas pelas mulheres no mundo do trabalho. Os desenhos são do cartunista Fredy Varela, de Caxias do Sul, o mesmo autor das revistas em quadrinhos sobre a reforma administrativa Desenturas da famí­lia Silva e sobre o plebiscito popular.

Com quatro páginas, o novo gibi foi desenvolvido pelo Coletivo Estadual de Mulheres da CUT-RS e pela Secretaria da Mulher Trabalhadora da Central, tendo sido aprovado pela Executiva Estadual, com o objetivo de intensificar o debate sobre temas que afetam a vida das mulheres no trabalho, como violência de gênero, desigualdade salarial, racismo e empoderamento, entre outros.

Fizemos um material que pudesse transmitir, através das palavras e das imagens, as diversas situações que a gente vive, de uma forma que a gente pudesse dialogar com todas as mulheres e categorias. Mulheres trabalhadoras do campo, da cidade, da indústria, do comércio Algo que alcançasse elas com uma linguagem comum , explica a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS e ex-diretora do Sintrajufe/RS, Mara Weber.

A dirigente sindical conta que o gibi busca uma comunicação democrática e inclusiva. Construí­mos um material permanente. Ele serviu para a disputa eleitoral para mostrar qual projeto e quais polí­ticas públicas queremos. Falar da situação terrí­vel que as mulheres estão vivendo e apontar o respeito que queremos , destaca.

Foto Carolina Lima CUT/RS

Cartão vermelho para todas as formas de violência

Mara relata que o material aborda seis eixos que foram definidos pelas mulheres. Uma das questões mais importantes para nós é o combate à violência. O Rio Grande do Sul é o quarto estado que mais mata mulheres no Brasil. E o Brasil é o quinto paí­s que mais mata mulheres no mundo. Para nós, é cartão vermelho para todas as formas de violência. Temos o direito de viver em paz e sem violência , disse.

A violência de gênero é definida como qualquer tipo de agressão, fí­sica, psicológica, sexual, material ou simbólica exercida contra uma pessoa ou grupo de pessoas com base no seu sexo ou gênero, impactando de maneira negativa em sua identidade e bem-estar. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017 uma a cada três mulheres em todo mundo foram ví­timas de violência fí­sica ou sexual durante a vida.


Essa violência não está restrita aos espaços privados. Nos ambientes de trabalho, as mulheres também estão vulneráveis e sofrem muitos ataques. Um relatório elaborado pelo Instituto Patrí­cia Galvão, em 2020, mostra que 76% das mulheres já sofreram violência no trabalho. Quatro a cada dez já foram alvos de xingamentos, insinuações sexuais ou receberam convites de colegas homens para sair.

Ao falar do contexto do Brasil, a diretora da CUT-RS chama a atenção para o papel do governo Bolsonaro (PL) no aprofundamento da violência contra as mulheres. A impunidade incentivada por este governo normalizou a violência contra a mulher. Não foi por outro motivo que os casos de feminicí­dios mais que triplicaram nos últimos quatro anos , argumenta Mara.

Desigualdade no mundo do trabalho

Outro elemento também abordado no gibi é a questão da desigualdade no trabalho. A desigualdade salarial entre homens e mulheres, entre mulheres brancas e negras para funções iguais, é um tema que nos preocupa e, por isso, temos o compromisso da luta pela equidade. Tem uma desigualdade imensa, várias camadas de opressão, camadas de injustiça, que vão se acumulando entre nós , destaca.


Segundo estudo do Instituto Patrí­cia Galvão, uma parcela significativa de mulheres vivencia situações de depreciação das funções que exercem, tendo suas observações desconsideradas (37%), ganhando um salário menor do que colegas homens com o mesmo cargo (34%), recebendo crí­ticas constantes sobre o esforço com que exercem as atividades (29%).

Mais mulheres nos espaços de poder e decisão

A desigualdade na polí­tica também preocupa as dirigentes sindicais da CUT-RS. As mulheres representam 52,49% do eleitorado brasileiro e ocupam apenas 16% das câmaras de vereadores e 12,1% das prefeituras, mesmo havendo uma expressão massiva de candidaturas femininas. Nas eleições de 2020, as candidatas representaram 33,17%, segundo dados do TSE.


Na chefia das empresas, as mulheres ocupam cerca de 37,4% dos cargos gerenciais, mesmo tendo mais instrução, conforme pesquisa do IBGE. É um í­ndice baixí­ssimo ainda mais considerando que somos a maioria na sociedade e a maior parte do eleitorado. Temos que possibilitar o acesso das mulheres a espaços de poder e decisão na polí­tica e no trabalho , defende Mara.

Mais polí­ticas públicas para as mulheres

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicí­lios brasileiros chefiados por mulheres passou de 25% em 1995 para 45% em 2018. Estima-se ainda que só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo perí­odo.


Quase metade dos lares é sustentado por mulheres no paí­s. O acesso a creches e escolas de turno integral faz parte da luta para aliviar a sobrecarga porque ainda somos as mulheres que cuidam tanto de crianças quanto de idosos. Nós ainda somos as cuidadoras da sociedade e, enquanto lutamos para mudar essa realidade, precisamos de estrutura, polí­ticas públicas que garantam esses cuidados, para que a gente possa trabalhar , salienta a dirigente da CUT-RS.

Impacto da Covid-19 na renda e na vida das mulheres

Segundo dados do Ipea, as mulheres foram as mais impactadas financeiramente pela pandemia. Entre junho e julho de 2020, 4,4 milhões de famí­lias sobreviveram apenas com os recursos do Bolsa Famí­lia. As mulheres que sobrevivem do trabalho doméstico tiveram uma restrição. Ou elas perderam a renda ou elas foram as mais expostas à doença porque não saí­ram da linha de frente , aponta Mara.


Outro dado revela que 80% dos profissionais da saúde que perderam a vida na pandemia eram mulheres. Para a diretora da CUT-RS, as mulheres da área da saúde são a maioria e estiveram expostas a mortes, a perdas de parentes e a longos perí­odos longe de seus familiares. Temos que trabalhar no resgaste de polí­ticas públicas com medidas de compensação e construir oportunidades para as pessoas saí­rem dessa situação de muita precariedade .

Mulheres contra discriminação na vida e no trabalho

O racismo, o preconceito LGBTQIfóbico, a discriminação contra mulheres com deficiência e mães atí­picas também são uma realidade que elas vivenciam na sociedade e no mundo do trabalho. Lutamos pelo direito de viver sem discriminação. Existe uma estética neoliberal e quem sai desse padrão estético, cultural, religioso, ideológico sofre , explica Mara.


Estamos vivendo um momento de ascensão de forças e pensamentos neofascistas no Brasil, que aprofunda todas as formas de discriminação, preconceito e violência , alerta. Mara destaca que é preciso combater e construir mecanismos de proteção não só nos sindicatos, mas também na sociedade através da organização das forças democráticas e de polí­ticas públicas que eliminem a discriminação, o preconceito e todas as formas de opressão no mundo do trabalho

Segundo a dirigente da CUT-RS, vimos na eleição a imensa violência de assédio eleitoral em cima de trabalhadores e trabalhadoras. Precisamos combater isso. Assegurar o direito de ter uma posição polí­tica e ser respeitada. Isso não pode interferir no mundo do trabalho e faz parte do amadurecimento da nossa democracia .

Fonte: CUT-RS