A edição desta segunda-feira, 15, do jornal Zero Hora traz um artigo do presidente da Fecomércio/RS, Luiz Carlos Bohn, que reforça o discurso de Paulo Guedes, Rodrigo Maia e a tática do governo de jogar o conjunto da população contra os servidores.
No texto, Bohn defende que a conta deixada pela covid-19 está mal dividida e que o caminho é reduzir os salários dos servidores públicos em todas as esferas. Diz que os trabalhadores do setor privado são tratados como brasileiros de segunda linha , ou seja, os servidores seriam os de primeira linha . Mas em que linha estão, então, os grandes empresários, os banqueiros e os especuladores? Estes, sim, têm sido protegidos pelo governo desde o inícioe desde antesda crise, ao contrário da maioria da população.
10 milhões de trabalhadores já tiveram o contrato suspenso ou o salário reduzido na pandemia
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Não se pode esquecer, em primeiro lugar, que a crise já vinha antes da pandemia. Michel Temer (MDB) e depois Jair Bolsonaro (sem partido) prometeram que a reforma trabalhista e a reforma da Previdência iriam salvar o país. Não salvaram nem o país, nem os empregos. As reformas só permitiram que mais recursos fossem destinados ao mercado financeiro e que os grandes empresários incrementassem seus ganhos às custas dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. Diferentemente do prometido, o país continuou com crescimento do desemprego e da informalidade e os indicadores econômicos seguiram caminhando para o colapso. A chegada da pandemia ao Brasil só piorou o quadro, e as medidas de Bolsonaro e Guedes frente ao cenário fizeram acelerar o passo.
Nada de proteção aos trabalhadores, apenas a suspensão de contratos de trabalho e redução de salários (10 milhões de contratos atingidos), um auxílio emergencial insuficiente (R$ 600,00) e, ainda assim, arrancados a muito custo, e descumprimento de promessas sobre investimentos na proteção à saúde em meio a uma pandemia sem controle que já levou a vida de mais de 40 mil brasileiros.
Com Bolsonaro e Paulo Guedes, o colapso do país será inevitável
Os números assustam. No mês de maio, a queda de arrecadação de ICMS no Rio Grande do Sul foi de 27%. O auxílio emergencial para Estados e municípioso mesmo que congela salários de servidores até 2021equivale somente a 40% da perda de receita. O rombo em 2020 deve ser de mais de R$ 900 bilhões.
É certo que muita coisa deve ser feita, mas as medidas tomadas pelo governo em nada colaboram para estimular a economia e impedir a quebradeira geral. Ao contrário, mesmo o aumento do dinheiro disponível aos bancos para empréstimos nem sequer chega aos pequenos negócios por falta de garantias . Basta andar pelas ruas de Porto Alegre para ver centenas de pequenos negócios fechados.
O que se vê é a aproximação de um colapso, com os estados em graves dificuldades financeiras e adotando políticas que punem os servidores, o déficit público explodindo, o aumento do desemprego e da miséria. O governo já escolheu quem pretende salvar e quem deve pagar a conta. Enquanto trabalhadores do setor privado são punidos e os dos setor público são ameaçados, os mais ricos passam incólumes e medidas como a taxação das grandes fortunas, a revogação da emenda constitucional do congelamento de investimentos e o uso das reservas internacionais não são colocadas em pauta.
A política de Bolsonaro, tutelada pelos grandes empresários e especuladores, já está clara: jogar trabalhadores contra trabalhadores, reduzir os salários dos servidores públicos, acabar com a estabilidade, desmantelar os serviços dos quais a população usufrui e no setor privado aprofundar os ataques aos direitos trabalhistas e sindicatos. Assim, é preciso que a atenção seja redobrada: com deixas como essa do presidente da Fecomércio, o confisco salarial, novas “reformas” e as privatizações deverão voltar logo à pauta, exigindo capacidade de resposta dos trabalhadores e do conjunto da sociedade.