SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

PCD

Palestra sobre acessibilidade atitudinal encerra Fórum em Defesa da Inclusão do TRT4

O Fórum em Defesa da Inclusão, Acessibilidade e Não Discriminação das Pessoas com Deficiência do TRT4 foi encerrado no dia 30 com uma palestra sobre acessibilidade atitudinal. Para falar sobre o tema, estiveram presentes a advogada e escritora Déborah Prates e a ativista sócio-polí­tica Josiane França, integrante do Movimento Brasileiro das Mulheres Cegas e com Baixa Visão e do Movimento Nacional das Pessoas com Deficiência. Ambas são cegas. A mediação da atividade ficou a cargo da colega Gládis Marques, integrante do Núcleo de Pessoas com Deficiência do Sintrajufe-RS. A diretora do sindicato Alessandra Andrade representou a entidade no Fórum.

Déborah Prates ressaltou que a acessibilidade atitudinal está na ordem do indizí­vel, porque mexe com o comportamento e as atitudes das pessoas. Observou também que, do ponto de vista legal, a modalidade de acessibilidade está contemplada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU e pela Lei Brasileira da Inclusão. Tais dispositivos legais apresentam barreiras atitudinais como sendo os comportamentos capazes de impedir a participação social plena das pessoas com deficiência, em igualdade com os demais integrantes da sociedade.

A palestrante destacou que a construção de um paí­s justo e solidário é um dos objetivos trazidos pela Constituição de 1988. Utilizando-se de uma expressão bastante conhecida da ativista norte-americana Angela Davis, segundo a qual “não é suficiente apenas não ser racista, mas necessário também ser antirracista”, a escritora refletiu que o mesmo é válido para os comportamentos capacitistas da sociedade. “O capacitismo é um gênero da espécie preconceito, aplicado às pessoas com deficiência. É necessário que sejamos anticapacitistas, que mudemos nossas ações e atitudes.”

A palestrante falou da sua própria trajetória profissional. Ela atuava como advogada quando foi implementado o processo eletrônico na Justiça Estadual do Rio, completamente inacessí­vel para leitores de telas utilizados por pessoas cegas. Em uma das reuniões do Conselho Nacional de Justiça que discutiram o assunto, um dos conselheiros afirmou que não seria possí­vel devolver a visão aos deficientes visuais, dando a entender que nada poderia ser feito em relação ao assunto. “Os advogados são essenciais para a administração da Justiça, menos os cegos. Eu fui banida da profissão, parei de receber honorários, mesmo com disposições a respeito na Convenção da ONU e na Lei Brasileira da Inclusão”, lamentou. “Essa foi a força do capacitismo na minha vida.”

Atitudes no mercado de trabalho

Ao complementar as falas de Déborah Prates, Josiane França afirmou que só passou a perceber a realidade das pessoas com deficiência quando ficou cega. Estou aqui cega, mas não incapaz. Fiquei cega quando tinha uma filha de oito anos para criar e um recém-nascido. Entrei no hospital grávida e enxergando e saí­ cega , contou.

Josiane é modelo e conta que sempre há um silêncio quando chega aos estúdios. As pessoas não sabem o que fazer e eu também não sabia. Não é motivo para vergonha. Perguntem! As empresas não contratam, segundo ela, porque os empresários pensam que há necessidade de muitas adaptações e custos. É preciso lembrar que as pessoas com deficiência estão na sociedade, trabalham, estudam, fazem doutorado , disse. Em relação à polí­tica de cotas, ela destacou que não basta a contratação. É necessário dar oportunidade para que a pessoa com deficiência ocupe cargos importantes e tenha chances de crescimento.

Na prática, ela sugere receber pessoas cegas no ambiente de trabalho explicando a disposição da mobí­lia e eventuais mudanças. Para cadeirantes, considerar sempre as dimensões e espaços necessários nas construções e móveis. Seria utopia pensar que se pode mudar tudo, acabar com o preconceito e o capacitismo. Mas todos podem ter empatia, imaginar a dor do outro, adotar pequenas atitudes, criar espaços de debate. Peço que vocês se unam nessa luta conosco para que nós sejamos inseridos na sociedade , concluiu.

Assista à palestra no ví­deo abaixo: