SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

VIOLÊNCIA

Mortes violentas intencionais no Brasil mantêm tendência de queda em 2022; Amazônia concentra um quinto dos registros

As mortes violentas no Brasil chegaram ao patamar mais baixo em 12 anos, segundo dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A queda manteve uma tendência verificada desde 2018. Foram 47.508 vidas perdidas no conjunto que reúne os crimes de homicí­dios dolosos, latrocí­nios, lesão corporal seguida de morte e mortes por intervenção policial. Uma a cada cinco mortes violentas intencionais no Brasil no ano passado aconteceram nos nove estados da Amazônia Legal. O í­ndice é o mais alto do paí­s, mesmo que a região responda por apenas 13,6% da população brasileira, de acordo com o Censo 2022.

Entre 2020 e 2021, os números de mortes violentas no paí­s caí­ram 4%; em 2022, a redução foi de 1,9%. As mortes por intervenção de agentes policiais chegaram a 6.430, com redução de 1,4%.

A taxa proporcional de mortes a cada 100 mil habitantes no Brasil diminuiu de 24 para 23,4; o paí­s tem 2,7% da população global, mas concentra cerca de um quinto dos homicí­dios no mundo, segundo dados de 2020 do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas.

A taxa de homicí­dios dolososindicador que concentra a maior parte das mortes violentas intencionaisficou em 19,5, com queda de 2,2% entre 2021 e 2022. No 16ª anuário, o Brasil era o oitavo paí­s com mais mortes violentas por 100 mil habitantes do mundo. A edição atual não tem dados atualizados e cita que o paí­s ainda não incluiu informações sobre 2021 e 2022 no banco da ONU.

As informações são colhidas nas secretarias de Segurança Pública e órgãos correlatos nos estados. Para os cálculos de população, são usadas estimativas e o número indicado em 2022 pela edição mais atualizada do Censo Demográfico.

Entre os crimes que compõem o indicador de mortes violentas intencionais, o único que registrou aumento no paí­s foi o de lesão corporal seguida de morte, que passou de 517 casos em 2021 a 610 no ano passado.

Novo arranjo na segurança pública

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que organiza o anuário, a explicação para a queda de mortes violentas no Brasil encontra alguns paralelos fora do paí­s, como o envelhecimento da população, mas a análise se divide em várias hipóteses para a redução.

Um dos principais questionamentos é sobre a ampliação do acesso a armas no governo de Jair Bolsonaro (PL), que creditou a queda de homicí­dios ao aumento do armamento e a repasses de recursos a estados por meio do Ministério da Justiça. O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, afasta a tese e diz que não há, no Brasil, uma polí­tica nacional de segurança pública. Para ele, se as mensagens de Bolsonaro tivessem ganhado tração como polí­tica nacional, os homicí­dios teriam aumentado.

O Fórum tem defendido que a flexibilização de armas, inclusive, impediu uma queda maior dos assassinatos no paí­s. Em 2022, três em cada quatro assassinatos no paí­s foram cometidos com arma de fogo.

Governos, segundo Lima, não podem pensar somente em financiamento e estrutura e gestão da atividade policial. “Gestão de segurança pública é articulação. Ao longo dos anos, muito dinheiro foi investido . No entanto, ele pondera que “não adianta só dar dinheiro a estados e municí­pios sem uma coordenação, um rearranjo federativo”.

Ele considera que os dados evidenciam a necessidade desse novo arranjo. “Quando olhamos chamados do 190, vemos que, basicamente, as Polí­cias Militares estão sendo despachadas para casos de violência contra mulher. Precisam estar preparadas para isso.”

Parte dos esforços polí­ticos também deverão se concentrar nas 9.479 ocorrências de mortes em 2022 que ainda precisam ser esclarecidas. “Boa parte dessas mortes pode ser de homicí­dios, mas é importante ter secretarias analisando questões para além das corporações, que fazem perí­cia, investigação e análise jurí­dica.”

Outra hipótese para a redução de mortes é a migração do crime. Os números de roubos de cargas, em casas e em estabelecimentos comerciais caí­ram, enquanto 208 golpes de estelionato foram aplicados a cada hora no paí­s em 2022. O total chegou a 1,8 milhão de casos. Isso indica, segundo Lima, que quadrilhas estão preferindo modalidades com menos riscos e mais ganhos.

Amazônia Legal

Uma das razões que também pode contribuir para a redução de mortes é a dinâmica do crime organizado. A Amazônia se tornou um campo de disputa, com aumento da violência nos últimos anos em regiões como Norte e Nordeste. Isso porque facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) buscam expandir seus ciclos de domí­nio de produção e escoamento de drogas, com um rompimento agravado entre 2016 e 2017 e consequência nas mortes.

“É um cenário para facções de crime organizado, principalmente as de base prisional, mas também milí­cias, grupos de extermí­nio e por diante. Com o PCC dominando a principal rota de cocaí­na, o CV foi encontrar em Tabatinga [AM], em parceria com a Famí­lia do Norte, a segunda principal rota do paí­s”, afirma Lima.

Com as respostas dos estados do Nordeste apresentando reduções nas mortes violentas, o foco se volta para a Amazônia como principal região em disputa no paí­s. A Amazônia Legal, que havia registrado aumento em homicí­dios na edição anterior da publicação, concentrou, no ano passado, uma em cada cinco mortes violentas intencionais.

O estado mais violento do paí­s é o Amapá, com uma taxa de 50,6 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes, mais que o dobro da nacional, de 23,4 mortes.

A região Norte, no entanto, apresentou redução de 2,7% no indicador. Ela fica atrás do Nordeste, que viu as mortes violentas caí­rem 4,5% em um ano. O Sudeste teve queda de 2%, com São Paulo mantendo a menor taxa do paí­s: 8,4 mortes a cada 100 mil habitantes. Sul e Centro-Oeste tiveram, respectivamente, aumentos de 3,4% e 0,8% nas mortes.

Fonte: Folha de S. Paulo