A pouco mais de uma semana das eleições, crescem nos grupos bolsonaristas no Telegram os questionamentos às urnas eletrônicas e o discurso de não aceitação de um possível resultado eleitoral adverso para Jair Bolsonaro (PL). A constatação é de um estudo feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo.
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O levantamento foi realizado pelo Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (LABHD/UFBA), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o InternetLab. Os pesquisadores acompanham as publicações em grupos de simpatizantes de Bolsonaro. Os resultados do estudo mostram que, nos últimos 90 dias, uma em cada quatro mensagens (26%) sobre eleições em grupos bolsonaristas no Telegram cita termos relacionados a fraude eleitoral, sendo esse o principal assunto mencionado ao falar sobre as eleições. Ao todo, foram 56,7 mil mensagens compartilhadas de janeiro a 20 de setembro deste ano nos 185 grupos e 524 canais (que funcionam como listas de transmissão) monitorados. Foram registradas menções a fraude em 164 grupos e 293 canais. Os dados exibem, ainda, viés de crescimento dos disparos desde junho até alcançar um pico diário em setembro. Em agosto, por exemplo, foram 7.892 mensagens e, neste mês, já são 5.734.
O teor das mensagens pede que os seguidores “não aceitem passivamente” o resultado da eleição e instiguem as Forças Armadas a atuar em caso de derrota de Bolsonaro. Usuários afirmam que o atual presidente vai vencer Lula (PT) com mais de 60% dos votos válidos. Pesquisas eleitorais, no entanto, mostram que o petista está à frente, com possibilidade de ser eleito no primeiro turno. “Não somos os seguidores de Trump. Eles que não se atrevam a roubar os votos do presidente Bolsonaro, que já está reeleito no primeiro turno”, diz uma mensagem, em circulação em um grupo com mais de 60 mil membros no Telegram. O texto afirma que, se o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, disser em rede nacional que Bolsonaro não saiu vencedor no dia 2 de outubro, ele terá de morar em Cuba.
Especialistas entrevistados pelo jornal O Estado de S. Paulo apontam semelhanças com a forma como foi construída, nos Estados Unidos, a narrativa de apoiadores de Donald Trump que culminou na invasão da sede do Poder Legislativo em Washington, em janeiro de 2021. No Brasil, Bolsonaro vem colocando em dúvida, reiteradamente, a segurança das urnas, em movimentos que aparentam apontar para um caminho golpista, com o não reconhecimento do resultado das eleições em caso de derrota. Os militares vêm sendo parte dessa trama, com a intenção manifesta – e inclusive um plano já pronto – para uma “apuração paralela” dos votos. Uma tutela inaceitável sob um regime democrático.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo e do Correio 24 Horas.