Relatório divulgado pelo Observatório da Dívida Social, da Universidade Católica Argentina (ODSA-UCA), aponta para o crescimento da pobreza e da fome na Argentina sob o governo de Javier Milei. Porém, o presidente não parece interessado em enfrentar o problema: recentemente, disse que o governo não deve intervir no aumento da fome e que “alguém vai resolver isso”.
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A declaração, dada no final de maio em visita aos Estados Unidos, ocorre em um contexto no qual a Justiça argentina está obrigando o governo a distribuir as 5 mil toneladas de alimentos que Milei mandou estocar desde dezembro, quando assumiu a Presidência. Esses alimentos se destinavam a restaurantes populares e foram retidos em depósitos porque Milei defende que o Estado não intervenha na circulação de mercadorias – nem de comida. Obrigado pela Justiça a iniciar a distribuição, o governo só está destinando aos restaurantes populares alimentos próximos do prazo de vencimento – e muitos desses restaurantes estão, agora, fechados por falta de comida, como conta reportagem publicada na última semana na Deutsche Welle (DW).
“Se as pessoas não tivessem dinheiro para pagar as contas, estariam morrendo na rua”, diz Milei
Enquanto isso, a fome aumenta. Conforme o Observatório da Dívida Social, a pobreza saltou de 41,7%, no segundo semestre de 2023, para 55,5%. Assim, quase 25 milhões de argentinos estão abaixo da linha da pobreza. E 8 milhões, ou 17,5% da população argentina, estiveram até mesmo abaixo da “linha da indigência” – sem meios para sequer custear a “cesta básica alimentar”. Além disso, no terceiro trimestre de 2023, 11 milhões (quase um quarto da população), inclusive mais de 32% das crianças e adolescentes (2,7 milhões) haviam sofrido insegurança alimentar. Com a piora do quadro geral nos últimos meses, esse índice também já deve estar ainda mais alarmante.
Além de reforçar a crença de que “alguém vai resolver” a fome de forma mágica, Milei nega a própria existência do problema: “Se as pessoas não tivessem dinheiro para pagar as contas, estariam morrendo na rua”, disse recentemente.
O discurso – e a política – é semelhante ao que Jair Bolsonaro (PL) apresentava ao Brasil sob sua Presidência, encerrada no final de 2022. Em agosto de seu último ano de mandato, por exemplo, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que, no Brasil, não se vê gente pedindo comida: “Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali, no caixa da padaria? Você não vê, pô”. Em outra entrevista, no mesmo dia, voltou à carga: “Fome no Brasil? Fome para valer, não existe da forma como é falado”. Ele se referia ao relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, divulgado pouco antes, que apontava o crescimento da pobreza e da fome no país, com mais de 33 milhões de brasileiros sem ter o que comer diariamente.
Com informações da Deutsche Welle (DW), do portal Uol e do G1
Foto: Télam