O Sintrajufe/RS realizou, nessa terça-feira, 14, uma transmissão ao vivo pela página do sindicato no Facebook para discutir a pandemia do novo coronavírus e o contexto de teletrabalho atípico em que estão inseridos, neste momento, servidores e servidoras do Judiciário Federal e do Ministério Público da União. Com mediação da diretora Mara Weber, participaram da live o médico do trabalho da entidade Rogério Dornelles; a integrante da coordenação de Educação e Desenvolvimento do TSE, Ana Cláudia Braga Mendonça; a integrante do Comitê de Saúde do TRT1, Andrea Capellão; e o psicólogo, perito judicial e pós-doutorando em Saúde Coletiva Bruno Chapadeiro. A atividade foi retransmitida por diversos sindicatos e federações de dentro e de fora da categoria em todo o Brasil, incluindo a Fenajufe.
Isolamento social e o enfrentamento à pandemia
O médico Rogério Dornelles e o psicólogo Bruno Chapadeiro destacaram reiteradas vezes a importância de ampliar o isolamento social como forma de combater o avanço do vírus. Ambos explicaram que não há como estabelecer um prazo para o fim do isolamento e do distanciamento social e lembraram um estudo recente que indica que períodos de isolamento podem ter que ser alternados com períodos de abertura até 2022.
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Para Bruno, não temos que pensar quando vamos sair dessa, mas quanto vamos fazer para sair dessa . Ele destacou, nesse sentido, a importância do isolamento social e também da massificação dos testes, ainda muito poucos no Brasil.
Rogério concorda que não é possível estabelecer um prazo, mas reforçou que é preciso insistir com o distanciamento social e com o aumento da testagem (ele mostrou-se especialmente preocupado com a grande subnotificação de casos e mortes no Brasil), assim como é urgente o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPI), em especial para os profissionais da área da saúde. Neste momento, só temos duas coisas para nos proteger: o isolamento social e o SUS , definiu o médico.
Adaptação ao confinamento
Bruno levantou outro ponto importante para o debate: o fato de que a crise não pega todos de forma igual . Assim, trabalhadores da saúde e trabalhadores precários, por exemplo, são afetados de forma mais direto e veem-se submetidos a maiores riscos. O recorte de gênero e raça também é importante, como demonstram estudos que apontam, por um lado, que a taxa de mortalidade entre os negros tem sido maior nos Estados Unidos, e, por outro, que as mulheres seguem mais sobrecarregadas com as tarefas domésticas no contexto de teletrabalho.
Assim, além de garantir o direito ao isolamento para todos e todas, é preciso encontrar formas de lidar melhor com o confinamento. Para Rogério, sentimos falta da rua, um problema que se soma ao medo da morte e do adoecimento de familiares e amigos, e tudo isso é agravado pelo presidente, que cria um clima de beligerância e se coloca do lado da morte. É um clima prejudicial para a saúde mental . A alternativa é exercitar a solidariedade, o diálogo, a troca, de forma a não nos sentirmos sozinhos, e procurar momentos de felicidade, não se agarrando apenas ao trabalho: felicidade e saúde mental andam juntas , explicou.
Teletrabalho em uma situação atípica
Integrante da coordenação de Educação e Desenvolvimento do TSE, Ana Cláudia Braga Mendonça ressaltou que, no atual momento, o teletrabalho não foi uma escolha dos servidores e das servidoras, de forma que não houve preparação e adaptação. Ao mesmo tempo, todos estamos exaustos , desgastados mentalmente, de forma que a performance no trabalho também cai. Assim, defendeu, duas ações são centrais para encarar o momento: criar uma rotina e exercitar a empatia.
Andrea Capellão, integrante do Comitê de Saúde do TRT1, acrescenta a disciplina como prática importante neste momento. Ao mesmo tempo, defende, os servidores e as servidoras não devem se sentir culpados por não produzir como antes; afinal, trata-se de uma situação atípica, que envolve dinâmicas próprias dentro de casa. Ela lembrou que o objetivo do teletrabalho normal é aumentar a produtividade, mas, neste caso, os requisitos não se aplicam, já que há um contexto especial que também deve ser levado em conta.
Para Ana Cláudia, o teletrabalho necessita da inclusão, que passa por comunicação, gestão, tomada de decisão, e também pela infraestrutura e acessibilidade. Assim, é importante adaptar o trabalho às necessidades dos trabalhadores. Conforme a painelista, o teletrabalho, quando escolha, pode ser interessante, mas precisa ser sustentável do ponto de vista da saúde mental e da qualidade de vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Todos os painelistas frisaram, ainda, a importância de conseguir separar os horários de trabalho e de lazer. A produtividade é importante, mas a busca por metas, cursos, etc. deve estar combinada com o lazer e o descanso. A mescla entre trabalho e vida pessoal deve ser vista com reserva para que os trabalhadores tenham tempo para si mesmos e não caiam nas armadilhas da autoculpabilização e da sensação de impotência, que podem levar a ansiedade, angústia e depressão.
Foi destacado também o enfrentamento coletivo à crise sanitária e econômica. Para isso, destacou Bruno Chapadeiro, cresce a importância dos sindicatos para defender direitos e proteger vidas. Quando sairmos disso, o que fica? , questionou. A disputa sobre esse futuro já está em marcha e passa por ações individuais e coletivas.
A transmissão teve importante repercussão, chegando a 4,5 mil visualizações. Também houve bastante interação, com mais de 160 curtidas e mais de 300 comentários de diversas partes do país.
Participaram da live, divulgando e compartilhando a transmissão, as seguintes entidades: Fenajufe, Fenajud, Sindjus/RS, SindijuSC, Sisejufe/RS, Sintrajuf/PE, SindjufPA/AP, SitraAM, Sindsemp/PE, Sindjutra/PR, SintrajuSC, Sindiquinze e Abrastt, além de outros sindicatos do Judiciário Federal e Estadual e do Ministério Público.