SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

ESGOTAMENTO NO TRABALHO

Classificação da OMS para síndrome de burnout passa a valer no Brasil; um terço dos brasileiros trabalha mais do que o tempo máximo determinado pela CLT

Está em vigor no Brasil desde a primeira semana deste ano a mais recente Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma das principais novidades do documento é a inclusão do burnout na lista de doenças ocupacionais.

A síndrome causa sintomas como esgotamento físico e mental em decorrência de situações relativas ao trabalho. No Brasil, ela já era motivo de afastamentos e até mesmo aposentadoria com respaldo do INSS e da justiça. A adoção da classificação da OMS consolida o burnout como uma questão de saúde pública no país.

De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% das pessoas ocupadas em território nacional sofrem com a doença de ordem mental. O país ocupa a segunda posição no ranking mundial de casos. Em entrevista ao Brasil de Fato, Cláudia Osório, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que “já há algum tempo o aumento na frequência de afastamentos do trabalho vem sendo um tema do capitalismo internacional. A OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), vêm apontando os transtornos mentais como um problema de risco no trabalho na atualidade”.

Nas palavras da professora, a gestão por metas – cada vez mais comuns nos ambientes de trabalho – tende a desconsiderar as condições reais da vida e do trabalho. “A tal da política de excelência coloca uma situação em que as pessoas estão sempre devendo em termos de bom desempenho no trabalho”, pontua. Para ela, “o modo de pensar neoliberal do capitalismo é claramente responsável pelo aumento da frequência de depressão e burnout, principalmente. Mas temos também outras doenças (associadas a esse cenário), como infartos do miocárdio, casos de morte súbita nos corredores da empresa, suicídios de executivos na Europa em suas mesas de trabalho. Tudo isso está no mesmo pacote”.

Sintomas

Os sintomas de burnout podem se manifestar de diversas formas e impactam a saúde física, emocional e social. Na lista de sinais que exigem atenção estão a sensação persistente de esgotamento e falta de energia, dificuldade de concentração, irritabilidade e ansiedade. Além disso, pessoas acometidas pela doença podem apresentar alterações no sono, como insônia ou sonolência excessiva, dores de cabeça frequentes, tensão muscular e problemas gastrointestinais. O desinteresse pelas atividades laborais e a perda de motivação também são comuns. Em casos mais graves, o burnout pode levar à depressão, isolamento social e pensamentos suicidas. “Não é qualquer depressão, é um tipo muito específico; por isso, merece a diferenciação. Não são os ossos do ofício. Não é normal que o trabalho leve alguém a um ponto de esgotamento em que um fim de semana não te deixa descansado para retomar na segunda-feira”, alerta a pesquisadora.

O cinismo também é um dos sintomas do burnout. Ele se manifesta em comportamentos de indiferença e descaso pelo trabalho. Com o tempo, essa situação pode levar a uma perda total de sentido na função exercida. “Essa é uma característica que pode até aumentar o preconceito, um tipo de depressão muito focado no trabalho. A pessoa pode ter ânimo para ir ao cinema, estar com a família, brincar com os filhos, e não ter ânimo para trabalhar. É um mecanismo de defesa para a pessoa não desmoronar de vez”, explica Cláudia Osório.

Um terço dos brasileiros trabalha mais do que o tempo máximo determinado pela CLT

No final do ano passado, o Sintrajufe/RS noticiou (https://sintrajufe.org.br/75-dos-trabalhadores-brasileiros-tem-jornada-igual-ou-superior-a-40-horas-semanais/) que três em cada quatro trabalhadoras e trabalhadores brasileiros têm jornada de trabalho igual ou superior a 40 horas semanais. E mais: quase um terço (32,6%) trabalha mais do que o tempo máximo determinado pela CLT, de 44 horas.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad) 2023, referente a 2022, a mais atual disponível, mas retornaram a discussão em um momento no qual ganhou força a pauta da redução da jornada e da escala de trabalho. No Brasil, funcionários contratados via CLT tem jornada de até 44 horas por semana — com possibilidade de duas horas extras por dia. A escala de trabalho não é estipulada pela lei, de forma que as empresas podem distribuir as horas como quiserem. A escala mais comum é a 5×2 — de cinco dias trabalhados, com dois dias de folga. Mas no comércio, por exemplo, uma das escalas mais comuns é a 6×1 — com seis dias de trabalho para um dia de folga. No final de 2024, a pauta voltou à tona por conta de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), que propõe o fim da escala 6×1 (seis dias trabalhados e um de folga) e a implementação da escala 4×3. A PEC também prevê a extinção da jornada de 44 horas semanais, vigente desde 1943, e sua substituição por um limite de 36 horas. O Sintrajufe/RS participou de mobilizações em defesa da redução.

Fonte: Brasil de Fato

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil