O Sintrajufe/RS tem divulgado casos de censura e perseguição a pessoas que manifestam crítica ao governo Bolsonaro. Esses fatos não são isolados nem recentes. Em setembro de 2019, o Sintrajufe/RS inaugurava a exposição Independência em risco: resistênciaDesenhos de humor , em sua galeria a céu aberto e no Salão Multicultural Alê Junqueira, ambos na sede do sindicato. A mostra foi uma resposta à censura sofrida pelos cartunistas na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
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A exposição O riso é risco: Independência em riscoDesenhos de humor , organizada pela Grafistas Gráficos Associados (Grafar), havia sido inaugurada no dia 2 de setembro, na Câmara de Vereadores, e fechada no dia seguinte, por determinação da então presidente da Casa, vereadora Mônica Leal. Ela atendeu a solicitação do vereador Valter Nagelstein (MDB), segundo o qual algumas obras possuíam teor ofensivo contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A censura teve grande repercussão. Mesmo depois de determinação judicial para que a mostra voltasse à Câmara, o que acabou ocorrendo, foi definida uma estratégia de fazer com que os trabalhos chegassem a um número ainda maior de pessoas. Como resultado, houve uma multiplicação de Independência em risco em vários lugares, não apenas no Rio Grande do Sul.
No Sintrajufe/RS, foram feitas reproduções em grande formato de 15 dos 36 trabalhos em charge e cartum. A curadoria é da jornalista e historiadora da arte Rosane Vargas, com produção do chargista e produtor gráfico Leandro Dóro, ambos funcionários do sindicato. A mostra ainda está em cartaz na galeria a céu aberto do sindicato, mas no momento, devido à pandemia, não pode ser visitada.
A inauguração se tornou também um ato político, em defesa da democracia e da liberdade artística e de expressão. Na ocasião, o diretor do Sintrajufe/RS Paulinho Oliveira destacou a importância de receber uma exposição como essacrítica ao governo Bolsonaro e que foi censurada na Câmara de Vereadoresem um sindicato de trabalhadores do Judiciário. A fala se mantém muito atual. O dirigente lembrou o papel desempenhado pela cúpula do Poder no golpe de 2016, sublinhando o simbolismo daquele momento. A arte é resistência , defendeu, admitindo que o ideal seria receber uma exposição de cartuns em uma conjuntura melhor, de avanços de direitos e da democracia, mas que, dada a situação do país, o papel da cultura é essencial para defender a liberdade.
Confira o texto de apresentação da exposição
Risco, riso, resistência
A galeria a céu aberto do Sintrajufe/RS traz a público uma seleção de trabalhos da exposição Independência em risco , fechada pela presidência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre menos de 24 horas depois da inauguração, no início de setembro. Os artistas conseguiram, judicialmente, retomar a mostra no espaço original. Ainda assim, como atos de repúdio à censura, outros lugares, no Brasil e no exterior, receberão reproduções dos trabalhos.
Em tempos sombrios, é preciso resistir, o que nos levou a somar ao nome original a palavra Resistência.
Rir é um ato essencialmente humano; não há comicidade fora daquilo que é propriamente humano , como afirma Henri Bergson. Sobre isso, muito antes e de maneira mais assertiva, Aristóteles sustentava que o bebê só se torna realmente um ser humano depois do primeiro riso.
No entanto, desde a Antiguidade, o riso causa preocupação, é visto como algo a ser mediado, controlado, reservado a determinados espaços e ocasiões. Isso fica ainda mais demarcado com o estabelecimento de uma rígida separação entre cômico e sério , popular e erudito , que remonta à conformação da sociedade dividida em classes e ao fortalecimento do Estado e traz, consigo, uma visão preconceituosa da comicidade, não poucas vezes tratada como expressão cultural menor. Charges e cartuns estão entre as expressões artísticas que conseguem atingir de maneira mais ampla diversos setores sociais. A leveza do risco e a implacabilidade do riso unem-se e formam uma espécie de espelho no qual os que ocupam lugares de poder (político, econômico, jurídico, etc.) veem suas ações e intenções amplificadas e expostas.
Nesta mostra, os artistas unem-se para defender a democracia, denunciar a entrega do patrimônio público e da soberania nacional. Com coragem, não poupam quem quer que seja. Por isso, houve a tentativa de impedi-los de mostrar seu trabalho.
Definitivamente, o poder teme o humor.
Rosane Vargas