Para driblar a fome, que se agravou com a crise econômica prolongada, e fugir da inflação dos alimentos, cada vez mais famílias brasileiras estão consumindo alimentos ultraprocessados, como salsichas, linguiças e macarrão instantâneo. Esses alimentos são mais baratos, mas de baixo valor nutricional, e provocam doenças crônicas nos rins, diabetes, hipertensão, obesidade, desnutrição e câncer.
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A quantidade de produtos processados e ultraprocessados consumidos pode ser medida, em parte, pelo lucro da indústria de biscoitos, massas alimentícias e pães e bolos industrializados, que chegou a R$ 50,44 bilhões no ano passadoum aumento de quase R$ 6 bilhões em relação a 2020 e quase R$ 10 bilhões a mais do que em 2019. Ou seja, em dois anos o lucro dessas empresas aumentou mais de 20%.
A fome também aumentou, assim como a obesidade, estimulada por fatores como a crise econômica, o sedentarismo e a alimentação de baixa qualidade, com pouco consumo de alimentos como frutas e verduras.
A distribuição de ossos de bois chocou parte da população brasileira, e ainda teve gente que quis lucrar ainda mais sobre a fome. Um supermercado chegou a colocar à venda, por R$ 2,99, a pele de frango. A repercussão negativa fez o estabelecimento retirar o produto da prateleira. A carcaça de frango é gordura, imagine o tanto de gordura consumida que aumenta o risco de câncer. A nutrição recomenda preparar alimentos sem gordura para não penetrar na carne. A salsicha também traz esse risco, mas as pessoas compram por ser mais barata do que a carne , diz a nutricionista Sheila Araújo Costa, da prefeitura da capital paulista e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde de São Paulo (Sindsep).
Quase 63 milhões de brasileiros têm renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais, ou seja, sobreviveram com menos da metade de um salário mínimo, de acordo com o Mapa da Nova Pobreza, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou na última semana. A pobreza nunca esteve tão alta no Brasil, desde o começo da série histórica da pesquisa, em 2012.
Sistema de saúde sobrecarregado e precarizado
A médica Juliana Salles, diretora da Executiva Nacional da CUT, afirma que a falta de alimentação adequada com excesso de consumo de comida processada com alto teor de sal sobrecarrega o sistema de saúde pública. Essas doenças poderiam ser evitadas se o governo federal tivesse comprometimento com a Atenção Primária à Saúde (APS). A realidade, porém, é de estímulo à terceirização e redução dos orçamentos da área, impactando diretamente os municípios: Mais de 50% da população passa por insegurança alimentar e a responsabilidade da prevenção de doenças, que inclui a nutrição, é da Atenção Primária, das prefeituras, cujas verbas estão sendo cortadas pelo governo federal, como no caso do ICMS , denuncia a médica.
Ela critica ainda as tentativas de terceirização da saúde pública no Brasil. Juliana se baseia em um vasto estudo da Universidade de Oxford sobre o sistema de saúde do Reino Unido, o National Health System (NHS). Conduzida ao longo de oito anos (de 2013 a 2020), a pesquisa apurou que ao menos 557 pessoas morreram de doenças tratáveis depois que parte de seus tratamentos, antes realizados no sistema público, foram terceirizados. A mesma pesquisa demonstrou que cada aumento de 1% nos gastos com terceirização produz, no ano seguinte, uma alta de 0,29 mortes a cada 100 mil pessoas. O estudo foi publicado no final de junho pela revista Lancet.
Marcha contra a Fome, a Miséria e o Desemprego será realizada em Porto Alegre neste sábado, 9
Neste sábado, 9, às 13h30min, centrais sindicais e movimentos populares realizam em Porto Alegre a Marcha contra a Fome, a Miséria e o Desemprego, com caminhada que sairá do Largo Glênio Peres.
Editado por Sintrajufe/RS; fonte: CUT.