SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

125 MILHÕES DE PESSOAS

Quase 60% dos brasileiros sofreram com insegurança alimentar na pandemia; cenas como a da fila do osso refletem Brasil mergulhado no desemprego e na miséria

Mais de 125 milhões de brasileiros e brasileiras sofreram com insegurança alimentar durante a pandemia, número que equivale a quase 60% da população. A pesquisa, que contempla números entre agosto e dezembro de 2020, foi realizada pelo grupo de pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Polí­tica e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, com sede na Freie Universití¤t Berlin, na Alemanha. Outras pesquisas corroboram essa situação e mostram, ainda, que os casos mais greves estão em crescimento acentuado: segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, há quase 20 milhões de brasileiros e brasileiras passando fome.

Em julho, ganharam destaque nacionalmente cenas gravadas em uma fila do osso na cidade de Cuiabá: dezenas de famí­lias esperavam para receber de um açougue doações de ossos. As doações eram feitas pelos funcionários pela porta dos fundos do açougue e serviam para aplacar as fomes das famí­lias, jogadas à miséria pela crise econômica e pela falta de assistência do governo.

A cena choca, mas não é isolada. O crescimento da miséria e da fome no Brasil aparece tanto quando caminhamos pelas cidades quanto nos números.

Nos últimos doze meses, a inflação chegou a quase 9%, incluindo a disparada no preço de alguns alimentos e das contas de luz. O consumo de carne chegou ao menor ní­vel em 25 anos, fazendo com que muitos recorram, por exemplo, aos ossos como única forma de consumir proteí­na. Em 2020, o consumo de carne bovina caiu 5%, para 36 kg por pessoa. É a maior queda desde 2008 e o 4º ano seguido de redução de consumo, segundo dados compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Ao mesmo tempo, o desemprego segue crescendo, atingindo oficialmente 14,7% da população ativa, quase 15 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Fora os que desistiram de procurar e os informais.

A crise social aprofunda-se com a redução dos valores do auxí­lio-emergencial, que eram de R$ 600 e hoje chegam, em média, a apenas R$ 250. No iní­cio de julho, dados divulgados pelo boletim “Desigualdade nas Metrópoles” (organizado pela Pucrs, pelo Observatório das Metrópoles e pela RedODSAL) apontaram que, no último ano, 283.080 pessoas a mais passaram a viver com um quarto do salário mí­nimo (R$ 275) na Região Metropolitana de Porto Alegre. No primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia ainda não afetava diretamente o estado, 899.092 pessoas viviam com esta renda per capita oriunda do trabalho. Nos três primeiros meses deste ano este í­ndice subiu para 1.182.172 pessoas. Mais de um milhão de pessoas vive com R$ 275 por mês apenas na Região Metropolitana de Porto Alegre.