SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DIREITOS INDÍGENAS

Protestos de indí­genas se espalharam pelo paí­s em dia de análise do marco temporal no STF; julgamento é suspenso por pedido de vista

Lideranças, ativistas e organizações indí­genas realizaram protestos na última quarta-feira, 7, em todo o Brasil, contra o marco temporal das terras indí­genas. Defendida por ruralistas como estratégia para travar demarcações, a tese jurí­dica seria analisada, no mesmo dia, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Depois do voto contrário do ministro Alexandre de Moraes, o julgamento foi suspenso devido a pedido de vista de André Mendonça.

Com faixas, cartazes e bloqueios de rodovias, os e as manifestantes pedem que o Supremo declare a tese inconstitucional. Nos pontos de interdição, os indí­genas liberaram a passagem de ambulâncias, bombeiros e outros serviços emergenciais. Os protestos ocorreram nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, Espí­rito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Roraima, além do Distrito Federal.

Em São Paulo, um ato reuniu organizações da sociedade civil, artistas e lideranças indí­genas na escadaria do Teatro Municipal, na região central da cidade. As cantoras Daniela Mercury e Zélia Duncan participam da mobilização.

Em Brasí­lia (DF), a votação (depois suspensa) estava acompanhada por milhares de indí­genas de diferentes partes do paí­s, que se reuniram em um acampamento da Articulação dos Povos Indí­genas do Brasil (Apib).

Na rodovia Fernão Dias (MG), região metropolitana de Belo Horizonte, indí­genas Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe da aldeia Katurama fecharam o tráfego durante a manhã desta quarta. Outro bloqueio ocorreu na BR-116, região metropolitana de Curitiba (PR), que liga a capital paranaense a São Paulo. Os manifestantes interditaram o tráfego por duas horas no iní­cio da manhã.

No sul da Bahia, um protesto interditou a BR-101, que liga o Nordeste ao Sul do paí­s. A mobilização começou por volta das 6h, com a participação de moradores das terras indí­genas Barra Velha, Comexatibá, Ponta Grande e Coroa Vermelha.

Em Santa Catarina, a rodovia SC-283 entre Chapecó e Arvoredo foi totalmente interditada. A manifestação foi dos indí­genas das comunidades Toldo Chimbangue e Condá, de Chapecó. Em Mato Grosso do Sul, foram bloqueadas a MS-156, entre Dourados e Itaporã, e a BR-463, no municí­pio de Ponta Porã. E em Roraima, mulheres, jovens e crianças estão em vigí­lia contra o marco temporal.

O que está em julgamento

O STF analisa um recurso que discute a reintegração de posse solicitada pelo Instituto do Meio a Ambiente de Santa Catarina (IMA) contra a Fundação Nacional do índio (Funai) e indí­genas do povo Xokleng. A disputa envolve uma área da Terra Indí­gena Ibirama-Laklanõ, uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, no estado.

Em 2013, o TRF4 aplicou o critério do marco temporal ao conceder ao IMA-SC posse da área. Após a decisão, a Funai enviou ao Supremo um recurso questionando a decisão do tribunal regional.

Se a tese do marco temporal for aprovada, os povos originários só poderão reivindicar a posse de áreas que já eles estivessem ocupando na data de promulgação da Constituição de 1988. Terrenos sem a ocupação de indí­genas ou com a ocupação de outros grupos neste perí­odo não poderiam ser demarcados.

O julgamento no STF começou em setembro de 2021. Além de Moraes, dois ministros votaram: o relator do caso, Luiz Edson Fachin, contra o marco temporal; e o ministro Nunes Marques, a favor. Em seguida, o ministro André Mendonça pediu vista (mais tempo para análise), suspendendo o julgamento.

Com informações de CUT Brasil e G1.