SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

LUTA ANTIRRACISTA

No Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, pesquisa mostra que 86% de mulheres negras com curso superior já sofreram racismo no trabalho

A Organização das Nações Unidas estabeleceu 21 de março como Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Essa foi a data escolhida para a divulgação da pesquisa inédita Mulheres negras no mercado de trabalho , realizada por meio da rede social Linkedin, pela consultoria Trilhas de Impacto, entre os anos de 2021 e 2022, e que mostra que 86% das entrevistadas, todas com curso superior e empregadas, já sofreram racismo no local de trabalho.

A entrevista ouviu 155 mulheres, de 19 e 55 anos, sendo a média prevalente entre 30 e 45 anos. Elas trabalham nas áreas de educação, recursos humanos, tecnologia da informação (TI) e análise de sistemas, telemarketing, relações públicas, administração e comércio; 50,3% das entrevistadas têm ní­vel superior e pós-graduação ou especialização; 13,5% têm mestrado e doutorado; 24,5%, ensino superior completo.

O fato de todas as mulheres entrevistadas terem curso superior completo e estarem empregadas foi considerado importante pela diretora-presidente da consultoria, Juliana Kaizer. “Chamou muito minha atenção que o fato de as pessoas terem ní­vel superior ou pós-graduação não impede que elas sofram racismo. É assustador , disse.

A pesquisadora, também é uma mulher negra, professora do MBA em responsabilidade social e sustentabilidade do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do curso de Diversidade da Escola de Negócios (IAG) da Pontifí­cia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É ainda aluna de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas.

Durante a análise dos dados, a Juliana percebeu que alguns aspectos se repetiam nos relatos e decidiu dividi-los em categorias para melhor compreensão dos resultados qualitativos. Mais de 70% das mulheres relataram que, durante a jornada profissional, precisavam explicar por que o cabelo estava alisado, black ou de outra forma; 68% das profissionais disseram ter sido confundidas, em algum momento, com a faxineira ou moça da limpeza da empresa.

Além disso, mais de 50% das consultadas disseram que a cor da pele e o lugar onde moravam foi perguntado durante as entrevistas online no recrutamento. Elas perceberam que, durante as entrevistas, no processo seletivo, tudo ia muito bem no formato online, com análise do currí­culo, mas que, no momento da entrevista ao vivo, com a câmera aberta, os recrutadores, em geral mulheres brancas, voltavam atrás , contou Juliana.

O fato de 70% das respondentes terem pós-graduação não faz com que subam na empresa: muitas estão há dez anos no cargo, não veem nenhuma pessoa parecida com elas em cargo de liderança, enfim, não se sentem estimuladas . Uma coordenadora de área contou que, todo dia, o lí­der do setor pedia para ela deixar arrumado o espaço pessoal e dos demais colegas. Ela não conseguia entender por que lhe era pedido aquilo. Os colegas iam embora e ela ficava limpando a sala. Até que se deu conta de que estava sendo ví­tima de racismo. Mas demorou, porque ficou mais de um ano nessa situação , explicou Juliana.

Outro dado importante é que as mulheres negras não crescem na carreira profissional no Brasil. Elas podem até crescer em cargos, mas não crescem em dinheiro. Juliana destacou que 52% dos estudantes de universidades federais são negros e questionou por que essa prática não se repete nas empresas, com pessoas pretas em cargos de liderança, ganhando um bom salário. De acordo com estudo do Instituto Ethos de 2020, mulheres negras representam 9,3% dos quadros das 500 maiores companhias do Brasil, mas estão presentes apenas em 0,4% dos altos cargos.

Origem da data

O Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi instituí­do pela ONU em 1966, em memória às ví­timas do episódio conhecido como Massacre de Sharpeville durante o regime do apartheid na áfrica do Sul.

Em 21 de março de 1960, no bairro Shaperville, em Johanesburgo, negras e negros realizavam uma manifestação pací­fica contra a Lei do Passe , que determinava por onde pessoas negras poderiam circular. Em resposta, policiais mataram 69 manifestantes e feriram outros 186.

Com informações da Agência Brasil