No final da tarde de sexta-feira, 20, Dia da Consciência Negra, milhares de pessoas participaram de um protesto em frente ao supermercado Carrefour, no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre. No dia anterior, João Alberto Silveira Freitas, o Beto, 40 anos, havia sido assassinado por seguranças do estabelecimento. Ele era casado e tinha quatro filhos.
A manifestação foi convocada por entidades e coletivos ligados ao movimento negro e também teve a presença de moradores da região, da torcida do Clube São José, time de coração de Beto, de partidos políticos e entidades sindicais, como o Sintrajufe/RS. Boa parte das pessoas presentes eram jovens negros, os maiores alvos da violência no Brasil.
A morte de Beto, um homem negro que foi espancado e morreu por asfixia, causou revolta em todo o país. Menos de 12 horas depois do crime, a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Polícia, responsável pela investigação, afirmou que não se tratava de racismo. Ela não disse como chegou à conclusão, uma vez que também disse que faltava entender o motivo que levou ao homicídio. Fica a pergunta: o mesmo teria acontecido com um cliente branco?
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De acordo com o Atlas da Violência 2020, de 2008 a 2018, os homicídios de pessoas negras aumentaram 11,5%; no mesmo período, a taxa entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda de 12,9%. Os números deixam transparecer o racismo estrutural no país. “Um elemento central para a gente entender a violência letal no Brasil é a desigualdade racial. Se alguém tem alguma dúvida sobre o racismo no país, é só olhar os números da violência porque traduzem muito bem o racismo nosso de cada dia”, diz a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
No início da noite, a área próxima ao Carrefour virou uma zona de conflito. Manifestantes queriam entrar no supermercado, que ficou fechado durante todo o dia. A Brigada Militar utilizou bombas de gás e balas de borracha para dispersar a manifestação.
O assassinato também provocou protestos em outras lojas Carrefour no país. Houve manifestações em unidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.