SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

LUTO

Gênio da arte brasileira que enfrentou a ditadura e o conservadorismo, Zé Celso morre aos 86 anos

Morreu nesta quinta-feira, 6, aos 86 anos, o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa. Zé Celso, lí­der do Teatro Oficina Uzyna Uzona, foi um revolucionário das artes brasileiras e, com seu teatro, enfrentou o autoritarismo e o conservadorismo, tendo a liberdade como preceito.

O dramaturgo fora internado no Hospital das Clí­nicas de São Paulo na terça-feira, 4, após um incêndio em seu apartamento, possivelmente iniciado por um acidente com um aquecedor. Ele teve 53% do corpo atingido por queimaduras, ficou sedado, entubado e com ventilação mecânica, na UTI.

Trajetória

Zé Celso nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, em 1937, e notabilizou-se pela ousadia nos formatos teatrais que sempre utilizou em suas peças. Ele deu os primeiros passos em sua carreira teatral como amador durante os anos finais da década de 50 e se tornou conhecido por liderar a companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona, onde seus primeiros enredos foram encenados: Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959). Desde¯1982, o Teatro Oficina¯é tombado como patrimônio histórico.

Durante a ditadura civil-militar, Zé Celso perseverou, enfrentando prisões, torturas e exí­lio na Europa e na áfrica, sem jamais deixar de publicar textos revolucionários. Em 1966, a sede do Teatro Oficina foi destruí­da por um incêndio provocado por grupos paramilitares. Para reconstrução do espaço, o grupo levantou fundos fazendo remontagens de antigos sucessos no palco.

Zé Celso ocupou um lugar único no meio teatral ao se tornar o profissional mais longevo em atividade no paí­s. Sua prolí­fica carreira é marcada pela criação de aproximadamente 40 peças notáveis, incluindo obras emblemáticas como O Rei da Vela , de Oswald de Andrade e tornado emblema do movimento tropicalista, Roda Viva , As Bacantes , Os Sertões e a renomada série Cacilda! .

Sem medo de experimentações e com constante desejo de renovação, Zé Celso provocou atores e público, criando um teatro mais sensorial, sempre guiado pela realidade polí­tica e cultura do paí­s. Seus projetos estimulavam os atores ao improviso e o público à participação.

O sonho do Parque do Bixiga

Por mais de 40 anos, Zé Celso travou uma batalha polí­tica e judicial para proteger a área em torno do Teatro Oficina, tombado pelo Instituto do Património Histórico e Artí­stico Nacional (Iphan). No terreno ao lado do Teatro, o Grupo Silvio Santos queriae ainda querconstruir três prédios de até 100 metros de altura. Zé Celso disputou, nas últimas três décadas, o terreno onde seriam construí­dos os arranha-céus: ali, ele queria criar o Parque do Bixiga.

Em 2020, a Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou o projeto de Zé Celso, mas a Prefeitura, então comandada por Ricardo Nunes (MDB), vetou o projeto. Um novo projeto de lei foi levado à Câmara e aprovado em primeira discussão, em 2022, de autoria do então vereador Eduardo Suplicy (PT). O texto não chegou a ser colocado para segunda e definitiva votação, que é exigida antes do envio para promulgação ou veto da Prefeitura. Dessa vez, o nome foi modificado para Parque do Rio Bixiga. A área tem cerca de 11 mil metros quadrados.

Sempre defendeu a democracia e a criatividade

Diversos artistas e personalidades se manifestaram na manhã desta quinta em homenagens a Zé Celso por sua contribuição para a arte brasileira. O presidente Lula (PT) publicou um texto exaltando a criatividade e a defesa da democracia por parte do dramaturgo: foi por toda a sua vida um artista que buscou a inovação e a renovação do teatro. Corajoso, sempre defendeu a democracia e a criatividade, muitas vezes enfrentando a censura. Transformou o Teatro Oficina em São Paulo em um espaço vivo de formação de novos artistas. Deixa um imenso legado na dramaturgia brasileira e na cultura nacional. Meus sentimentos aos seus familiares, alunos e admiradores. A trajetória de José Celso Martinez marcou a história das artes no Brasil e não será esquecida , escreveu o presidente.

Com informações da CUT, do Brasil de Fato, do jornal O Estado de S. Paulo e do portal G1