SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

INVASÃO DE PRIVACIDADE?

Exército compra ferramenta para acessar celulares sem explicar motivos

O Comando de Defesa Cibernética do Exército gastou R$ 528 mil, sem licitação, para adquirir uma ferramenta que extrai dados de telefones celulares, mesmo bloqueados. O contrato foi fechado com a empresa TechBiz Forense Digital, no dia 28 de dezembro de 2021. O equipamento tem dezenas de funções e permite, inclusive, recuperar imagens e localizações apagadas e capturar dados de sistemas de nuvem dos aparelhos e de registros em redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram.

A compra foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo, em reportagem publicada na quarta-feira, 3. Os documentos da contratação não especificam quais celulares passariam a ser acessados nem qual é o embasamento jurí­dico para esse tipo de acesso a dados privados da população. Essa é uma ferramenta utilizada normalmente pelas polí­cias Civil e Federal, Instituto Nacional de Criminalí­stica e Ministério Público para destravar telefones apreendidos a partir de decisões de busca emitidas pela Justiça.

Procurado, o Exército não respondeu para que adquiriu o equipamento.

Além de estar fora do escopo de atuação do Exército, chama a atenção o fato de que à frente do Comando de Defesa Cibernética, responsável pela aquisição, está o general Heber Garcia Portella, o mesmo militar designado pelo Ministério da Defesa para a Comissão de Transparência das Eleições (CTE) montada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O general também vem dando vazão ao discurso golpista do presidente Jair Bolsonaro (PL), que vem tentando descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro com ataques já sucessivamente desmentidos. A indicação de Portella à comissão foi feita pelo então ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que será vice na chapa de Bolsonaro.

Em um estudo técnico preliminar elaborado para a contratação, com data de 14 de junho de 2021, o governo alega como justificativa para a aquisição o histórico de demandas apresentadas ao ComDCiber (Comando de Defesa Cibernética) nos últimos três anos . O documento ressalta, porém, que não é possí­vel detalhar as atividades devido ao caráter sigiloso. Todavia, a existência de uma solução seria suficiente para viabilizar o trabalho realizado neste centro .

O documento aponta que a ferramenta atenderá à ciência forense em smartphones em todas as suas etapas: proteção, extração, armazenamento e indexação de dados . No estudo, o ComDCiber ainda argumenta que a empresa TechBiz Forense Digital é a única fornecedora da ferramenta no Brasil e por isso seria impossí­vel fazer uma licitação.

Contrato alvo do TCU

O caso lembra outro acordo celebrado pelo Comando de Defesa Cibernética do Exército com a empresa israelense de cibersegurança CySouce. Esse contrato foi alvo do Tribunal de Contas da União (TCU), que vê no acordo indí­cios de desvio de finalidade para colocar em risco as eleições de outubro deste ano. O caso foi revelado em reportagem do Brasil de Fato e mostra que o contrato também foi selado por Portella, quando ele já tinha sido nomeado para integrar a Comissão de Transparência das Eleições.

A denúncia é apreciada pelo TCU sob o comando do subprocurador-geral do Ministério Público Federal (MPF) Lucas Rocha Furtado. De acordo com Furtado, o acordo teria sido celebrado não com vistas à satisfação de uma finalidade pública, mas, sim, em flagrante desvio de finalidade, com vistas a investigar os supostos riscos e fragilidades do sistema de votação brasileiro .

Em decisão publicada no último dia 27, a Primeira Câmara do TCU decidiu, por unanimidade, considerar o processo do improcedente, encerrar o caso e arquivar os autos.

Fonte: CUT Brasil