A Fenajufe realizou no último final de semana, nos dias 9 e 10, o Encontro Nacional de Mulheres do PJU e do MPU. Após cinco anos desde o último Encontro, a atividade reuniu, presencialmente ou online, dezenas mulheres que representaram 13 sindicatos de base. O Sintrajufe/RS esteve presente, representado presencialmente pela diretora Arlene Barcellos e pela colega Josiani Evelin Pacheco (JF Santa Cruz do Sul) e, online, pela diretora Cristina Viana e pelas colegas Carolina Passos dos Santos Zeliotto (JF Porto Alegre) e Jusilda Lombardo Pedrollo (JF Santa Maria).
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O Encontro foi aberto na manhã de sábado, com a leitura de um poema da escritora e ativista Conceição Evaristo pela funcionária da Fenajufe Joana Darc. O poema “Vozes – Mulheres” fala de resistência e luta das mulheres, sobretudo das mulheres negras. Em seguida, foram abertos os debates com o painel “Como elaborar uma análise de conjuntura a partir da realidade concreta”, que teve como palestrantes Zilmar Alverita da Silva, mestra em estudos Interdisciplinares de Gênero; Tatiana Oliveira, militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres; e Marilane Teixeira, mestra em Economia, professora e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit – IE – Unicamp).
Zilmar Alverita ressaltou a importância da formação política das mulheres; segundo ela, “não é possível fazer análise de conjuntura sem estudar a metodologia”. Por sua vez, Tatiana Oliveira defendeu que é preciso entender a estrutura para analisar a conjuntura e, nesse sentido, é necessário lembrar que, no Brasil, “somos periferia do sistema capitalista com problemas de saúde, educação e um passado escravocrata, onde ainda existe muita exploração”, e, ao mesmo tempo, “a exploração das mulheres é um elemento estruturante do sistema capitalista”. Em sua explanação, Marilane Teixeira afirmou que a conjuntura é o espaço da análise política, econômica e que, tradicionalmente, é um lugar onde as mulheres não estão.
Na tarde de sábado, foi debatida a atuação das mulheres na própria Fenajufe, tendo como painelistas as ex-coordenadoras Mara Weber, Lúcia Bernardes e Elcimara Souza. Elas falaram sobre suas próprias experiências nas organizações, locais de trabalho e no dia a dia, relatando situações de machismo e assédio que vivenciaram. E reafirmaram o papel da federação como entidade de classe para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Elcimara reforçou que “a luta contra o machismo é fundamental para que as mulheres conquistem igualdade nos espaços. É preciso união entre as mulheres e os homens para combater todas as formas de opressão existentes também no PJU”. Já Lúcia Bernardes relembrou sua participação na construção de vários coletivos da Fenajufe e ressaltou a relevância das discussões temáticas dentro da federação. Por sua vez, Mara Weber apontou que “o Judiciário é extremamente patriarcal. Cabe a nós, mulheres sindicalistas, fazer a luta para mudar. Precisamos sair desse encontro com a visão de que é preciso compreender a profundidade da luta diária unificada. É necessário desacelerar o passo para que todas andemos juntas”.
No domingo, último dia do Encontro, as participantes discutiram ações de boas práticas realizadas ou que podem ser construídas pelos sindicatos de base. Também foi discutida a implementação da paridade na direção da Fenajufe. Os temas foram tratados em grupos previamente divididos. Sobre as boas práticas, as participantes relataram dificuldades que vivenciam cotidianamente como servidoras, mulheres e mães sindicalistas e pontuaram a necessidade de atuação dos sindicatos nessas questões. Um exemplo foi a reivindicação de que os sindicatos criem alternativas para acolhimento de vítimas de assédio e outras formas de violência contra as mulheres.
Uma carta com o mote “Mudar a vida das mulheres para mudar o mundo; mudar o mundo para mudar a vida das mulheres” foi construída pelas participantes contra todas as formas de violência. Em um trecho da carta, as assinantes registram que “no espaço sindical, o machismo se reproduz como em todo grupo social e se intensifica pela disputa por espaço político, manifestada em micro violências cotidianas que tentam deslegitimar a ocupação dos espaços de decisão e poder por mulheres em nossa categoria, em especial nas redes sociais”.
A advogada Larissa Awwad da Assessoria Jurídica Nacional da Fenajufe (AJN- Cezar Brito Advocacia) esteve à frente das discussões sobre a implementação do art. 4º do Regimento Eleitoral da Fenajufe, aprovado no 11º Congrejufe, realizado em 2022. O artigo diz que cada chapa inscrita para a diretoria executiva da Fenajufe deverá contar com, no mínimo, 30% de negros e 50% de mulheres. As participantes do Encontro reforçaram a importância do cumprimento do artigo, que passará a valer a partir de 2025 para a eleição da nova gestão.
A diretora do Sintrajufe/RS Arlene Barcellos avalia que o Encontro “pontuou nesses dois dias de painéis, atividades de grupo e debates a importância da luta sindical na defesa dos direitos das mulheres contra todas as formas de opressão. A luta é permanente para avançarmos e, também, não perdermos espaços que foram duramente conquistados. A carta aprovada no final do Encontro aponta que nosso caminho é o de seguir lutando na defesa intransigente da vida e dos direitos das mulheres trabalhadoras e usuárias do Sistema de Justiça. E os sindicatos têm papel fundamental nessa tarefa”.