SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DEMOCRACIA

Em coletiva, Sintrajufe/RS anuncia ingresso de ação judicial contra União por acusações de Bolsonaro ao sistema eleitoral

Nesta terça-feira, 6, o Sintrajufe/RS realizou entrevista coletiva – a primeira na história da entidade – transmitida ao vivo da sede do sindicato, para anunciar ingresso de ação judicial contra a União por conta das reiteradas acusações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra o sistema eleitoral. Representando os servidores e servidoras da Justiça Eleitoral no Rio Grande do Sul, o Sintrajufe/RS entende que a categoria está sendo prejudicada e colocada em risco pelas declarações de Bolsonaro, que ameaçam também a própria democracia por colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral. Representaram o Sintrajufe/RS na coletiva as diretores Cristina Viana e Marcia Coelho e os diretores Edson Borowski e Marcelo Carlini, além do advogado Carlos Guedes, do escritório Silveira, Martins, Hübner, que presta assessoria jurí­dica ao Sintrajufe/RS. No final de junho, o Sintrajufe/RS já publicara matéria denunciando que Bolsonaro está tentando usar a defesa do voto impresso como escada para o golpismo.

Na ação, entre outros pontos, o Sintrajufe/RS requer que a União seja condenada a pagar R$ 1 milhão por danos morais e que seus agentes públicosem especial o presidente da República “, em perfis vinculados ao governo, redes sociais, veí­culos de comunicação ou outros meios, se abstenham de divulgar ou fomentar conteúdos que sugiram fraudes nas eleições organizadas pela Justiça Eleitoral. É requerido também que sejam promovidas campanhas públicas informativas sobre a segurança da votação eletrônica.

A ação parte de reiteradas declarações e acusações mentirosas de Bolsonaro no sentido de que o sistema eleitoral vem sendo e será fraudadoBolsonaro nunca apresentou quaisquer provas do que afirma. Em janeiro, o Sintrajufe/RS já publicara nota oficial exigindo a apresentação de provas das acusações. Em suas diversas manifestações sobre as supostas fraudes, Bolsonaro chegou a afirmar que botões de urnas eletrônicas foram colados para impedir que eleitores votassem nele ou em aliados. Neste momento, o presidente e seus apoiadores insistem no voto impresso, quando, por diversas vezes, já foi comprovada a segurança do sistema eleitoral e, consequentemente, das urnas eletrônicas. Essas manifestações contra o atual sistema eleitoral, sob a alegação de fraude, sempre sem qualquer prova, ganham grande repercussão, pois são feitas pelo presidente da República. E quando ele diz que é uma ação orquestrada por quem manuseia as urnas, e afirma que houve adulteração, isso atinge diretamente servidores e servidoras da Justiça Eleitoral, responsáveis diretos pelo preparo de todo o material oficial ligado às eleições no paí­s. Esses colegas ficam ligados a uma ideia de conspiração , fraude , falta de idoneidade , o que vem sendo observado de forma crescente em redes sociais e aplicativos de mensagens.

A ação tramita sob o número 5044913-38.2021.4.04.7100, na 10ª vara federal de Porto Alegre, com a juí­za Ana Maria Wickert Theisen.

Veja a í­ntegra da inicial.



Direção do Sintrajufe/RS destaca defesa de servidores e da democracia

Na coletiva, a diretora Cristina Viana destacou que servidores e servidoras se sentem desrespeitados em seu trabalho pelas falas do presidente. Além disso, essas declarações geram insegurança com relação à democracia. A também diretora Marcia Coelho lembrou que já nas eleições de 2018 foi criado um clima perigoso para servidores e servidoras da Justiça Eleitoral, um clima fomentado por Bolsonaro: foi uma eleição muito pesada , afirmou, e todos os servidores passaram por pressão com relação a seu comportamento e sua dignidade . Ela projetou que os mesmos riscos podem se repetir, de forma ainda mais grave, em 2022, ameaçando também a integridade do próprio processo eleitoral.

O diretor Edson Borowski disse que a ação se trata de uma defesa da integridade fí­sica e da dignidade da categoria, função do sindicato. Também reforçou que se trata, ainda, de uma prevenção quanto a eventuais problemas para as eleições de 2022, já que se repetem ameaças e tentativas de desestabilização da democracia, trazendo grave risco ao paí­s. Desde 1932 , lembrou, a Justiça Eleitoral e seus servidores são pilares para a estabilidade democrática do paí­s .

Após as declarações iniciais, foi aberto espaço para perguntas dos jornalistas que estavam acompanhando a coletiva presencialmente ou de forma virtual. As perguntas trataram de temas como a reforma administrativa, outros ataques do governo e de Bolsonaro contra os servidores e o significado das reiteradas declarações de Bolsonaro contra o sistema eleitoral.

O diretor Edson Borowski afirmou que as falas de Bolsonaro contra o sistema eleitoral têm relação direta com a reforma administrativa, no sentido de que o objetivo do governo é retomar as estruturas de antes de 1930, quando o coronelismo e o apadrinhamento eram a regra. Hoje, defendeu, somos servidores concursados e temos uma Justiça séria e eleições seguras. Cristina Viana lembrou ainda que é importante que a população saiba a importância da estabilidade dos servidores para toda a sociedade, motivo pelo qual devem ser realizadas ações de mí­dia nesse sentido e também ações judiciais que coibam essas manifestações do governo. Marcia Coelho ainda ressaltou que hoje a Justiça Eleitoral é inclusiva, já que a urna eletrônica facilita o voto do eleitor, e, ao mesmo tempo, mais segura e ágil, além de permitir diversas formas de auditoria e conferência das urnas, inclusive por parte dos partidos polí­ticos.

O advogado Carlos Guedes destacou que a ação é uma resposta nacional às acusações de Bolsonaro e esclareceu que o encaminhamento é por uma manifestação oficial do Estado brasileiro, representado pela União. A ação judicial, explicou, é voltada para a União, de forma que veremos de parte do Estado brasileiro uma posição institucional e se a Advocacia-Geral da União (AGU) irá reforçar ou refutar a tese da fraude, desmentindo, na segunda hipótese, o próprio presidente de forma oficial.

O diretor do Sintrajufe/RS Marcelo Carlini afirmou que se trata de um problema de ordem polí­tica, não técnica: Bolsonaro está armando uma justificativa para não aceitar os resultados das próximas eleições. Por isso ele tenta semear um sentimento de que as urnas são previamente fraudadas e as eleições de 2022 já foram fraudadas . Isso, apontou, não pode ser permitido, e o Sintrajufe/RS, como sindicato, tem o compromisso de não aceitar as falsas acusações do presidente, que, como denunciou o dirigente, prepara um golpe. Assim, a ação busca defender a democracia e, ao mesmo tempo, reparar as falsas acusações contra os servidores da Justiça Eleitoral.

Participaram da coletiva os seguintes veí­culos de comunicação e entidades: Brasil de Fato RS, CUT/RS, Fenajufe, Radiocom Pelotas, Sisejufe/RJ, Sintrajusc/SC, Sul21 e TVT. Além disso, houve retransmissão nas seguintes páginas no Facebook: CUT Regional Centro (Santa Maria), Fenajufe, Radiocom Pelotas, Sintrajusc/SC, Sintrajuf/PE e Sisejufe/RJ.

Assista abaixo a í­ntegra da coletiva: