SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

MEDICINA DE ELITE

Diretor do Simers ataca possibilidade de vagas para assentados na UFPel: “não demora os índios vão querer também fazer”; Comissão de Cidadania da Assembleia pode oficiar entidade por fala racista

O Sindicato Médico do RS (Simers) lançou nota criticando a possibilidade de a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) criar vagas para assentados do MST no curso de Medicina, a exemplo do que já vem ocorrendo no curso de Medicina Veterinária. Depois da nota, o diretor de interior do Simers, Luiz Alberto Grossi, deu um passo além, ao afirmar que “essas pessoas que vêm do campo, vêm não muito qualificadas para fazer Medicina”. “Então, certamente nós vamos desqualificar a profissão concordando com isso. Isso vai gerar precedentes. Não demora, os índios vão querer também fazer”, acrescentou em entrevista ao jornal Diário Popular. A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa pretende oficiar o Simers sobre a conduta de Grossi.

Em nota pública, o Simers disse “repudiar a possibilidade de criação do curso de Medicina […] para a população cadastrada pelo Incra”. O sindicato diz que é contrário à expansão de vagas “sem parâmetros e pressupostos que garantam qualidade à formação”. O Simers pede, ainda, uma reunião com a reitoria e a direção da Famed.

Os ataques do Simers começaram depois de uma reunião, em junho, na reitoria da UFPel, com representantes do MST e da Faculdade de Medicina, Psicologia e Terapia Ocupacional (Famed), quando foi abordada a possibilidade de abertura de vagas especiais para assentados e filhos de assentados no curso de Medicina. A Reitoria admitiu a possibilidade, considerando a experiência bem-sucedida do curso de Medicina Veterinária, no qual já estão em funcionamento turmas especiais.

A universidade já formou 139 veterinários e veterinárias oriundos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e tem mais duas turmas em andamento, uma delas com formatura agendada para 2023. O programa atua na promoção da educação para trabalhadores e trabalhadoras do campo.

Assembleia notificará Simers por fala racista

A declaração de Luiz Alberto Grossi foi uma das pautas da reunião ordinária da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, nesta quarta-feira, 5. Conforme a presidente da comissão, deputada Laura Sito (PT), a universidade poder oferecer as vagas é importante para oportunizar formação de qualidade para os estudantes do campo.

“Sabemos que políticas afirmativas também têm uma perspectiva de poder enriquecer a produção de conhecimento, trazer a diversidade e o olhar do campo para a universidade” o que, segundo ela, é fundamental. A parlamentar destacou a gravidade da postura do representante do Simers. “Essa fala, ela não só é infeliz como é criminosa”. Por isso, o colegiado pretende oficiar a entidade a respeito da conduta do seu representante.

Nota do Simers

A reitora da universidade reagiu à nota, dizendo que o Simers ainda não teve acesso a informações que embasassem as críticas. “Percebo uma postura de gratuita contraposição a uma iniciativa que busca enfrentar um grave e histórico quadro de falta de profissionais médicos dispostos a atuar em espaços normalmente relegados”, disse. “Por que o sindicato parte da premissa de que a UFPel se afastará de seu compromisso de construir uma universidade de qualidade e responsável pelos profissionais que forma?”, questiona, pontuando que o propósito da universidade é colaborar com a sociedade através da formação de profissionais tecnicamente capacitados e socialmente responsáveis.

A reitora da UFPel reagiu à nota, dizendo que o Simers ainda não teve acesso a informações que embasassem as críticas. “Percebo uma postura de gratuita contraposição a uma iniciativa que busca enfrentar um grave e histórico quadro de falta de profissionais médicos dispostos a atuar em espaços normalmente relegados” […] Por que o sindicato parte da premissa de que a UFPel se afastará de seu compromisso de construir uma universidade de qualidade e responsável pelos profissionais que forma?”. A nota ainda pontua que o propósito da universidade é colaborar com a sociedade por meio da formação de profissionais tecnicamente capacitados e socialmente responsáveis.

Nota máxima na avaliação do MEC

“Identificamos nessa iniciativa um instrumento para diminuir as disparidades no acesso à educação e na representação de profissionais de saúde em regiões rurais, onde geralmente há escassez de médicos”, justificou a reitora da UFPel, Isabela Andrade, respondendo à entrevista.

Ela invocou os 12 anos das turmas de Veterinária para fortalecer seu argumento. “O rendimento acadêmico e o grau de comprometimento das alunas e alunos destas turmas é algo que encanta e motiva. São alunos dedicados, aplicados e conscientes de seu papel.”

“Recentemente passamos por uma avaliação do MEC, e as turmas especiais de Medicina Veterinária obtiveram a nota 5, ou seja, obtivemos a nota máxima. Reforço, fomos nota máxima”, informou a reitora. E finalizou: “Para aquela minoria da sociedade que costuma fazer julgamentos desprovidos de qualquer base real ou, ainda, premidos por preconceitos menores, este recente resultado é uma demonstração de que as oportunidades devem ser dadas a todas as pessoas”.

Diego Gonçalves, mestre em Política Social e Direitos Humanos e colaborador do MST para políticas públicas, participou da reunião com a reitoria. Segundo ele, o processo exige diálogo com diversos setores da universidade e a iniciativa de se buscar turmas especiais para assentados da reforma agrária vem da necessidade de se levar profissionais a locais considerados de difícil acesso.

Ele disse que ficou surpreendido pela nota do Simers. “Não são turmas para o MST, são turmas para o Pronera. A nota é surpreendente porque o sindicato não sabe o que foi discutido, o contexto do processo e como ele está sendo conduzido, mas já se manifestou antecipadamente com uma nota de repúdio, e isso para nós é grave”, critica. Gonçalves ressalta ainda, o fato de que é “um sindicato dizendo que um programa nacional de educação estabelecido não pode ser executado” e explica: “O Pronera existe desde 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso. Nós não estamos inventando nada, nós queremos avançar”, afirmou.

Com informações de Brasil de Fato, Diário Popular e Agência de Notícias ALRS