O Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais, cidade que fica no interior de Minas Gerais, está denunciando a demissão direta e sem negociação de quase 500 trabalhadores e trabalhadoras pela Gerdau. A usina da empresa na cidade foi fechada sem qualquer diálogo com os trabalhadores, os sindicatos e a prefeitura, denuncia a entidade. O caso aprofunda o processo de desindustrialização do país, o que foi denunciado em protesto realizado pelo sindicato.
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Na última semana, a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizou uma audiência pública para tratar do tema. Foram apresentados dados indicando que as demissões vão significar redução de 7,5% dos empregos do município. Em termos financeiros, 12,7% da massa salarial da cidade será perdida.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais, Elizeu Santa Cruz, disse que a decisão surpreendeu em especial pelo histórico da empresa no município. Segundo ele, pelo menos desde 2012 a Gerdau tem retirado direitos e reduzido salários dos trabalhadores em negociações coletivas. Nessa, os empregados foram, segundo ele, coagidos a aceitar as perdas para que a empresa pudesse manter a planta no município. Um dos trabalhadores disse que eles foram “praticamente expulsos” da usina e que vigilantes “supostamente armados” os escoltaram até a sala na qual foram avisados da demissão.
Também o vice-prefeito, Lourival Ramos de Sousa, esteve presente e chamou de “injusta” a decisão da Gerdau. Ele disse que a empresa não ofertou nenhuma alternativa ao fechamento e afirmou que há outras empresas interessadas na planta da usina. Ele sugeriu que seja feita a transferência para que os empregos sejam mantidos.
Representantes da Gerdau alegam baixa produtividade da planta de Barão de Cocais, que a empresa começou a operar em 1988. De acordo com Guilherme Rangel Mattos, consultor jurídico da empresa, a usina é antiga e tem baixo nível tecnológico. Ele informou que, depois da decisão de fechamento, foram iniciados diálogos com todos os envolvidos e que se busca e minimizar os impactos negativos da decisão. Ele disse que a empresa tem buscado realocar alguns dos trabalhadores em outras plantas da Gerdau.
Estima-se que aproximadamente 487 operários diretos sejam impactados, além de milhares de terceirizados e fornecedores ligados à referida usina. O sindicato aponta ainda que o governo federal já atendeu às demandas do setor siderúrgico, como a taxação do aço chinês em 25%, o que, na visão deles, invalida as razões apresentadas pela Gerdau para a paralisação.

Baixa produtividade é questionada
Dados apresentados pela pesquisadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), Ana Letícia Godoi Silva, contestam alegação de falta de produtividade da empresa. Ela mostrou que, considerados os dados desde 2011, o faturamento da empresa deu um salto nos últimos três anos. Em 2020, esse faturamento foi quase quatro vezes maior do que no ano anterior.
Segundo ela, esse aumento não foi consequência de maior produção, o que poderia resultar em mais postos de trabalho. O faturamento teria aumentado em razão do aumento dos preços do ferro, por causa do represamento da demanda durante a pandemia, e pela desvalorização da moeda nacional diante do dólar.
Nesse sentido, o aumento do faturamento sem aumento dos custos resultou em grande ampliação dos lucros e dos dividendos dos acionistas. Paralelamente, o número de trabalhadores ficou estável de forma que, de acordo com Ana Letícia Godoi Silva, em 2020 cada empregado foi responsável pela produção de quase R$ 1 milhão para a empresa. Ela questionou, portanto, a narrativa de que havia baixa produtividade.
Protesto no final de junho: “não à desindustrialização do Brasil”
Durante um ato público realizado em 27 de junho no centro de Barão de Cocais, apoiado por diversas organizações que manifestaram solidariedade aos trabalhadores, foram relatados casos de trabalhadores que foram escoltados por seguranças e até mesmo induzidos a assinar suas demissões. A situação também gerou indignação devido ao fato de a usina ser considerada um modelo de operação ecologicamente correta na região. Além disso, a usina possui mais de 100 anos e está representada na bandeira do município, sendo de grande relevância para a identidade do povo cocaiense.
Sob o lema “Contra o fechamento da Gerdau em Barão de Cocais e não à desindustrialização do Brasil”, os sindicatos e movimentos sociais presentes no ato ressaltaram que os impactos sociais e econômicos da decisão são consideráveis. Primeiramente, há o impacto direto no emprego, com aproximadamente mil trabalhadores diretos e indiretos com suas fontes de trabalho e renda ameaçadas. Em segundo lugar, prevê-se uma queda significativa na arrecadação municipal, estimada inicialmente pela prefeitura em R$ 4 milhões anuais, somente em impostos diretos, sem contar os efeitos sobre o comércio local e serviços.
Além disso, a presente situação aponta um processo mais grave de retrocessos no desenvolvimento da cadeia produtiva do estado, ameaça à soberania popular e à diversificação da matriz econômica de Minas Gerais, o aumento da minerodependência, dos danos ambientais, os potenciais conflitos socioambientais e as crises hídricas, bem como o ciclo persistente de desemprego e empregos precarizados na região.
Editado por Sintrajufe/RS; fonte: CUT, com informações da ALMG e Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais
Foto: CSP/Conlutas/Divulgação