SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

LUTA ANTIRRACISTA

Com atividades em Pelotas, Novembro Sindical Unificado Antirracista destaca lanceiros negros

“De Porongos à necropolítica do século XXI: os efeitos do capitalismo sobre o povo negro” é o tema do evento que será promovido em Pinheiro Machado e Pelotas, zona sul do estado, nos dias 14 e 15 de novembro, pelo Novembro Sindical Unificado Antirracista, que reúne várias entidades, como Sintrajufe/RS, Cpers, SindBancários, SindjusRS, Sindicato da Alimentação de Pelotas, entre outras. Conforme a organização, a ideia é começar no Cerro de Porongos, para homenagear os lanceiros negros, que há 160 anos lutaram por liberdade e foram traídos e massacrados no local, no período final da guerra farroupilha.

A visita ao acampamento Lanceiros Negros, no Cerro dos Porongos, localizado no município de Pinheiro Machado, acontecerá no dia 14 de novembro. No 15, a programação contará com palestras,

no auditório do Sindicato da Alimentação (rua Almirante Barroso, 3124, Centro de Pelotas), das 9h às 12h e das 13h30 às 18h. No encerramento, será realizada uma festa no Clube Fica Ahi (rua Marechal Deodoro, 368, Centro de Pelotas), das 23h30min às 3h30min, com a DJ Helô.

Sobre a traição de Porongos

A guerra farroupilha, a mais longa guerra civil do Brasil, foi travada durante dez anos, de 1835 a 1845, entre republicanos e imperialistas. Conforme o historiador Spencer Leitman, entre escravizados e ex-escravizados, os negros chegaram a compor de 1/3 à metade do exército farroupilha.

Conforme o historiador Jorge Euzebio Assumpção, os africanos e seus descendentes não lutavam pelos “ideais farroupilhas”, mas por sua liberdade. A maioria dos cativos incorporados às forças farroupilhas “pertencia” aos imperiais e se engajava aos republicanos levada pela promessa de liberdade ao término do conflito, sonho que jamais se realizou.

Quando ficou evidente que os farroupilhas seriam derrotados e começou a ser desenhado um acordo de paz, uma das exigências do Império foi que os soldados escravizados não poderiam alcançar a liberdade. Secretamente, entre as partes, o líder militar imperial, futuro Duque de Caxias, e o general Canabarro, pelo lado republicano, resolveram o impasse determinando o extermínio dos negros, explica Assumpção.

Canabarro informou a Caxias o local onde acamparia com suas tropas, e o coronel Francisco Pedro de Abreu atacou o acampamento. Antes, o general farroupilha ordenou que os negros fossem desarmados. Os acampamentos farroupilhas eram divididos em três blocos: para brancos, indígenas e negros. O episódio conhecido como traição de Porongos ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844. Estima-se que mais de cem homens negros foram assassinados; dos cerca de 300 sobreviventes, os que não conseguiram escapar para quilombos ou para o Uruguai foram presos e levados para a corte, no Rio de Janeiro.

Assumpção destaca que a principal peça documental desse desprezível acontecimento histórico é a carta enviada por Caxias ao coronel Francisco Pedro de Abreu: “Ilmo. Sr. Regule suas marchas de maneira que no dia 14 às 2 horas da madrugada, possa atacar a força ao mando de Canabarro, que estará neste dia no cerro de Porongos […]. Suas marchas devem ser o mais ocultas que possível seja, inclinando-se sempre sobre a sua direita, pois posso afiançar-lhe que Canabarro e Lucas ajustaram ter suas observações sobre o lado oposto. No conflito, poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro”.

Com informações da Revista Humanitas Unisinos