SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DIREITOS PERDIDOS

Ajuste fiscal de Bolsonaro aumentou as desigualdades e injustiça social, diz Inesc

O Balanço do Orçamento Geral da União (BGU) 2022 explicita que o ajuste fiscal imposto nos últimos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), não trouxe a recuperação da economia e, para piorar, aumentou as desigualdades e injustiça social. Com o estado subfinanciado, os juros altos e a austeridade, a gestão conservadora deixou de herança um quadro devastador para a população brasileira . O documento confirma o cenário de desmonte, que já vinha sendo denunciado por movimentos populares e pela sociedade civil durante toda a gestão anterior.

De acordo com o levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), foram identificados quatro movimentos articulados para que a tragédia fosse colocada em prática. O primeiro deles, foi a desestruturação do Executivo Federal, entregue a forças privatizantes ou fundamentalistas . A lista segue com apontamentos graves, como a percepção de que a gestão bolsonarista atuou para eliminação fí­sica daquelas pessoas, das comunidades e dos povos que não interessam ao projeto fascista e à sua base polí­tica . Por fim, a relação cita a drenagem de recursos orçamentários para alimentar as eleições dos aliados e a incompetência e presença de equipes totalmente despreparadas para os cargos que ocuparam.

Na análise do Inesc, o superávit primário de R$ 54 bilhões registrado em 2022, último ano do governo de Bolsonaro, foi alcançado à custa das mortes por covid-19, da fome, da pobreza e do desemprego. A conclusão é de que o í­ndice expressa a perversidade colocada em prática.

A economista Nathalie Beghin, Integrante do Colegiado de Gestão do Inesc, afirma que a austeridade, aliada a ações explí­citas de desprezo aos direitos humanos e ao meio ambiente, diferencia a gestão bolsonarista de outros momentos polí­ticos da redemocratização também marcados pela austeridade: O desmonte operado expressa um profundo desprezo pela vida. Entendemos que Bolsonaro e sua equipe praticaram uma verdadeira polí­tica de morte. Não é por acaso que mais de 700 mil morreram em decorrência da covid-19. Talvez uma das expressões mais perversas disso tudo é que a gestão Bolsonaro não gastou R$ 159 bilhões autorizados pelo Congresso para enfrentar a covid. É uma expressão numérica da irresponsabilidade do descaso e da polí­tica de morte praticada pelo governo Bolsonaro .

Os números da perversidade

O balanço traz outros dados e comparações que expressam numericamente onde estavam as prioridades da gestão conservadora e o tamanho dos prejuí­zos causados ao Brasil nos últimos quatro anos. Um exemplo, o orçamento secreto destinado a parlamentares que apoiavam Bolsonaro foi de R$ 11,2 bilhões entre 2020 e 2022 em média. O valor é três vezes maior do que tudo o que o governo gastou em alimentação escolar.

Mesmo durante a pior crise sanitária da nossa História, Bolsonaro diminuiu o orçamento da saúde em 8%, tirando R$ 12 bilhões da área. Quase R$ 160 bilhões, autorizados pelo Congresso Nacional para polí­ticas ao longo da pandemia não foram usados pela gestão, enquanto o Brasil via aumentar a falta de emprego, renda e alimentação para uma parcela considerável da população.

Na educação, os recursos caí­ram de R$ 131 bilhões em 2019 para R$ 127 bilhões em 2022. As creches tiveram 60% menos verba. No ensino superior o investimento caiu 18% em termos reais e houve um esforço explí­cito de desfinanciamento das pesquisas. Somente na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní­vel Superior (Capes), a execução financeira despencou quase 40%.

A austeridade e a falta de compromisso com os direitos humanos agravaram a déficit de moradia, setor que perdeu 37% da execução financeira nos quatro anos do governo de Bolsonaro. Ao longo da gestão, os recursos para o transporte coletivo público também foram ladeira abaixo, com uma queda de 65%.

Fome

Os prejuí­zos se acumulam em todas as áreas. No combate à fome, que cresceu significativamente no governo de Bolsonaro, a falta de investimentos explica muito da situação. Ao fim da gestão, o Brasil contabilizava mais de 30 milhões de pessoas em insegurança alimentar, o que não acontecia desde a década de 1990. Jair Bolsonaro não implementou medidas especí­ficas para o tema. Além disso, polí­ticas voltadas às populações que mais sofrem com a fome foram esvaziadas. O desmonte nas ações voltadas a mães e gestantes, crianças a adolescentes, povos tradicionais, comunidades periféricas e famí­lias agricultoras teve impacto direto no aumento da fome.

Nathalie Beghin, pontua que o enfrentamento do problema exige uma abordagem ampla, com envolvimento de diversas áreas. Além do comprometimento com recursos, é preciso garantir acesso à renda, fortalecer a agricultura familiar, e recriar redes de apoio, com restaurantes e cozinhas populares. Se queremos enfrentar os enormes problemas sociais que o Brasil já tinha e que foram agravados pela gestão Bolsonaro, precisamos de recursos e não é pouca coisa. Precisamos de muito recurso , alerta ela.

Futuro

Para se recuperar do prejuí­zo, as áreas desmontadas vão precisar de mais investimentos. O BGU aponta a Emenda Constitucional (EC) nº 126/2022 como uma sinalização positiva de que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pensa assim. O texto, que ficou conhecido como PEC da Transição durante a tramitação no Congresso, aumentou o orçamento de 2023 em R$ 145 bilhões e retirou programas como o Bolsa Famí­lia do teto de gastos. Não é muito, diante do enorme déficit social que caracteriza o Paí­s, mas é um começo para retomar as polí­ticas públicas , avalia o relatório do Inesc.

Mas esse não é o único desafio. O balanço afirma ainda que o paí­s precisa superar a visão econômica predominante focada em corte de gastos públicos, juros altos, regras fiscais restritivas e tributação injusta, que reforça as desigualdades. Segundo Beghin a velocidade de recuperação vai depender da quantidade de recursos alocados no orçamento: Em relação aos retrocessos ocorridos no governo Bolsonaro, eles são profundos e certamente suas consequências irão muito além de um mandato presidencial. Para que os serviços possam ser prestados adequadamente, é preciso recursos para realizá-los, mas também equipes competentes para executá-los. Se as medidas de austeridade continuarem, a velocidade de recuperação será muito mais lenta do que o desejado .

O BGU traz um conjunto de medidas para cada uma das áreas analisadas e que são consideradas prioritárias na superação do desmonte. Elas envolvem recomposição orçamentária, planejamento, participação social e popular e o fim do teto de gastos.

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: CUT.