SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

REFORMA ADMINISTRATIVA

Fim do atendimento público de saúde está na PEC 32? Artigo da reforma administrativa prova que sim: sai SUS, entram “vouchers” de Paulo Guedes

Embora o termo subsidiariedade tenha sido retirado do texto da proposta de emenda à Constituição (PEC) 32/2020, da reforma administrativa, já na CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) sua lógica segue presente no que o governo pretende. A intenção de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro (sem partido), já expressa em diversas ocasiões pelo ministro da Economia, é criar um sistema de vouchers para a prestação de alguns serviços hoje prestados pelo Estado. Assim, os sistemas públicos de saúde e educação, por exemplo, seriam extintos ou privatizados, criando, no caso da saúde, por exemplo, uma espécie de plano de saúde de quinta categoria, acabando com o atendimento universal ou de alta complexidade, portanto alto custo, para todos e todas.

Em abril, em reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu), Guedes defendeu mais uma vez a proposta de vouchers, afirmando que setor público não vai conseguir acompanhar a questão da saúde e que setor privado é a solução . Trata-se, na verdade, de uma profecia autorrealizável: o governo desmonta os serviços públicos, com medidas como o teto de gastos e a reforma administrativa, para depois dizer que eles não funcionam e extinguí­-los. Uma prática já utilizada comumente para privatizar empresas públicas, que Guedes quer agora aplicar a todo o setor de saúde.

150 milhões dependem do SUS

Dados do IBGE de 2019ou seja, de antes da pandemiaapontavam que mais de 150 milhões de brasileiros e brasileiras dependiam exclusivamente do Sistema único de Saúde (SUS). Com as crises sanitária e econômica, a tendência é de que esse número tenha aumentado. O SUS foi uma das poucas salvaguardas, em meio ao negacionismo e às polí­ticas genocidas do atual governo, para impedir que as centenas de milhares de mortes da pandemia no Brasil não fossem ainda maiores.

Em maio, o UOL entrevistou especialistas sobre o tema. A coordenadora do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Carolina Navarrete, lamentou que não haja clareza do governo sobre o que está de fato propondo e sobre como seriam estipulados os valores dos vouchers, o que, de fato, deixa a população sem perspectiva alguma para atendimentos caso o modelo seja implementado. Além disso, conforme Navarrete, se for dividir o orçamento do ministério (R$ 125,8 bilhões) em vouchers, a gente vai jogar dinheiro fora porque o SUS barateia o serviço por ser o dono da própria rede e eliminar intermediários . Com os vouchers, o Estado abriria mão da estrutura de atendimento em especialidades já cobertas pelo SUS. O médico e coordenador do curso de Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também critica a proposta ao UOL: Não faz sentido no Brasil, com um sistema público universal, ficar discutindo assistência à saúde através de voucher .

Precarização do atendimento

Ao UOL, Ana Carolina Navarrete, do Idec, afirmou que o voucher é o mais precário sistema para se pagar por saúde . Em primeiro lugar, porque não há o chamado compartilhamento de risco , no qual a sociedade apoia seus membros que precisam de algum tratamento. No SUS, esse apoio existe, e todo o sistema é acionado para garantir o tratamento de um membro. No voucher, não: A pessoa arca sozinha, é um risco individual. Se o tratamento for muito caro e o voucher não cobrir, o problema é dela , explica a especialista. Além disso, acaba-se com o sistema preventivo, já que a tendência seria de só utilizar os vouchers (limitados) quando a pessoa estivesse doente. Esse papel de prevenção é hoje coberto pelo SUS, por meio, por exemplo, das Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Privatização da saúde está nos planos de Bolsonaro, Clí­nicas e Conceição foram ameaçados

Em outubro de 2020, Bolsonaro publicou decreto pedindo estudos para privatizar as Unidades Básicas de Saúde. O decreto foi revogado pouco depois, por pressão da sociedade, mas demonstrou a intenção do governo de acabar com o SUS, além da desconsideração do papel fundamental das UBSs como porta de entrada para o sistema de saúde pública. O Brasil tem mais de 40 mil UBSs, cujo objetivo é atender até 80% dos problemas de saúde da população que utiliza o serviço público, evitando o encaminhamento para serviços mais caros, como emergências e hospitais.

As tentativas de acabar com as UBSs não são a única ação já aventada ou aplicada pelo governo para acabar com a saúde pública. No amplo plano de privatizações de Bolsonaro e Guedes, estão inclusos, por exemplo, o Hospital de Clí­nicas de Porto Alegre e o Grupo Hospitalar Conceição. Ao mesmo tempo, entre 2019 e 2020, a prefeitura de Nelson Marchezan Jr. (PSDB) fechou mais de 20 postos de saúde em Porto Alegre. O fechamento resulta da mesma agenda, de terceirização e privatização da saúde e de desmontes dos serviços públicos. Nacionalmente, essa polí­tica é sustentada por medidas como a emenda constitucional 95/2016, que congelou os gastos públicos, e pode ser aprofundada pela reforma administrativa que está em tramitação.

Reforma administrativa abre caminho para fim do SUS

Alguns setores comemoraram a exclusão, no substitutivo da reforma administrativa, do artigo que incluí­a na Constituição o princí­pio da subsidiariedade, deixando para o setor público apenas a prestação dos serviços que o setor privado não quisesse prestar. Embora a retirada do termo seja relevante, a transformação do setor público em mero assistente da iniciativa privada continua apontada de outras formas pela PEC 32. A mais clara é o artigo 37-A, que, caso a proposta seja aprovada, será incluí­do na Constituição:

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí­pios poderão, na forma da lei, firmar instrumentos de cooperação com órgãos e entidades, públicos e privados, para a execução de serviços públicos, inclusive com o compartilhamento de estrutura fí­sica e a utilização de recursos humanos de particulares, com ou sem contrapartida financeira.

Esse artigo não mexe apenas na saúde, mas em todo o setor público, abrindo espaço para o aprofundamento das práticas de terceirização, privatização e, no limite, extinção de órgãos e instituições e sua substituição pela iniciativa privadao que, enfim, torna o setor público subsidiário do privado. O artigo 37-A é, assim, um dos sustentáculos para o fim do SUS e a implementação do sistema de vouchers.

Experiências internacionais

Alguns paí­ses já tiveram experiências de implementação de sistema de vouchers na saúde, nenhum caso em uma nação com um sistema universal e forte como o SUS. Mesmo na ausência anterior de um sistema de saúde pública, esses paí­ses não tiveram melhora no serviço prestado e não conseguiram oferecer atendimento de saúde aos mais vulneráveis. No Chile da ditadura de Augusto Pinochet, inspirador de boa parte das polí­ticas de Paulo Guedes, foi implementado sistema de vouchers na educação e, conforme estudo da Universidade do Colorado, as escolas públicas chilenas em regiões empobrecidas passaram a disputar dinheiro público com as unidades privadas e com as estatais localizadas em regiões nobres, reforçando a disparidade educacional entre os estratos sociais.

Sintrajufe/RS lança campanha contra a reforma administrativa

Para combater as mentiras do governo e defender serviços públicos como o SUS, o Sintrajufe/RS lançou, nessa quinta-feira, 10, uma nova etapa da campanha de mí­dia do sindicato contra a reforma administrativa. Veja abaixo o primeiro ví­deo da campanha, que fala, justamente, dos efeitos que a proposta poderá ter sobre o SUS e a saúde dos brasileiros e brasileiras.

Com informações do UOL.