Após acabar com o Bolsa Família, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e Paulo Guedes acaba de encerrar o pagamento do Auxílio Emergencial que vem possibilitando que milhões de brasileiros e brasileiras se alimentem com o mínimo. Agora, entra em vigor o Auxílio Brasil, um novo programa social que atenderá 29 milhões de pessoas a menos do que as que vinham sendo atendidas pelo Auxílio Emergencial e pelo Bolsa Família em 2021. Na comparação com 2020, o quadro é ainda pior: 50 milhões de desassistidos. No Rio Grande do Sul, a redução do atendimento será de 76,33%, deixando 1,2 milhão de pessoas que recebiam os benefícios anteriores abandonadas à própria sorte.
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O portal G1 entrevistou pessoas que recebiam, nesta semana, pela última vez o Auxílio Emergencial e não terão direito ao novo benefício. Uma delas foi Marileide Inácia, de 57 anos, moradora da cidade de Recife: “É rezar para ter comida na mesa. Natal, Ano Novo e essas coisas, não espero”. Ela explicou que a situação em casa é gravíssima: “Em casa, sou eu e meu marido. Ele já recebeu a última parcela do auxílio, também desempregado. Daqui para a frente, a gente vai ter que contar com a sorte e ajuda de Deus. Sinceramente não sei o que vai ser da gente, estou contando com a esperança de que meu filho consiga um emprego, mas de certeza mesmo [que temos] é só a falta de dinheiro e a dificuldade”. Situação similar, com problemas e dificuldades do mesmo tipo, viverão milhões de famílias esquecidas e ignoradas pelo governo.
A redução no auxílio a brasileiros e brasileiras acontece justamente em um momento de piora na crise econômica e na disseminação da fome e da miséria. Dados do final de 2020, coletados pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), apontam que 116,8 milhões de brasileiros e brasileiras conviviam com insegurança alimentar e havia 20 milhões passando fome – números que certamente aumentaram nos últimos meses, com a redução do valor do auxílio emergencial e com a crise econômica. E que serão agravados mais uma vez.
No Rio Grande do Sul, uma Porto Alegre inteira desemparada
No Rio Grande do Sul, 1,7 milhão de pessoas receberam em 2021 o Auxílio Emergencial; apenas 395 mil receberão o Auxílio Brasil. A redução de beneficiários em 1,2 milhão chega quase ao tamanho da população de Porto Alegre. É como se praticamente todos os moradores da capital gaúcha fossem, de um dia para o outro, jogados à fome.
A situação é crítica desde as grandes cidades até os pequenos municípios. Em Porto Alegre, por exemplo, eram 213 mil os beneficiários; agora, serão 50 mil, deixando desassistidas 162 mil famílias. Em Picada Café, cidade de 5,5 mil habitantes na encosta da Serra Gaúcha, 341 famílias recebiam o Auxílio Brasil, e apenas 15 receberão o Auxílio Emergencial, uma redução de 95%. Em Fagundes Varela, município com 2,7 mil habitantes que fica na mesma região, eram 197 beneficiários, e agora serão 5 – redução de 97%.
Entre as 12 cidades do estado que têm mais de 200 mil habitantes, os números são maiúsculos: 540.686 famílias perderão o auxílio que recebiam. Eram 688.996 beneficiários do Auxílio Emergencial, e serão apenas 148.310 no Auxílio Brasil, uma redução de 78,5%. Veja abaixo a situação nos 12 maiores municípios do Rio Grande do Sul:
Cidade | Recebiam o Auxílio Emergencial | Receberão o Auxílio Brasil | Perderão o benefício |
Porto Alegre | 213103 | 50695 | 162408 |
Caxias | 53373 | 8828 | 44545 |
Canoas | 55593 | 11199 | 44394 |
Pelotas | 60918 | 10152 | 50766 |
Gravataí | 46284 | 10899 | 35385 |
Santa Maria | 41751 | 8700 | 33051 |
Viamão | 45123 | 11311 | 33812 |
N. Hamburgo | 37046 | 6936 | 30110 |
São Leopoldo | 35795 | 8757 | 27038 |
Rio Grande | 34692 | 7063 | 27629 |
Alvorada | 38989 | 7826 | 31163 |
Passo Fundo | 26329 | 5944 | 20385 |