SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE

“REZAR PARA TER COMIDA”

Com mudança nos programas sociais, 29 milhões de pessoas ficarão sem auxílio; no RS, redução de atendimento será de 76%

Após acabar com o Bolsa Família, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e Paulo Guedes acaba de encerrar o pagamento do Auxílio Emergencial que vem possibilitando que milhões de brasileiros e brasileiras se alimentem com o mínimo. Agora, entra em vigor o Auxílio Brasil, um novo programa social que atenderá 29 milhões de pessoas a menos do que as que vinham sendo atendidas pelo Auxílio Emergencial e pelo Bolsa Família em 2021. Na comparação com 2020, o quadro é ainda pior: 50 milhões de desassistidos. No Rio Grande do Sul, a redução do atendimento será de 76,33%, deixando 1,2 milhão de pessoas que recebiam os benefícios anteriores abandonadas à própria sorte.

O portal G1 entrevistou pessoas que recebiam, nesta semana, pela última vez o Auxílio Emergencial e não terão direito ao novo benefício. Uma delas foi Marileide Inácia, de 57 anos, moradora da cidade de Recife: “É rezar para ter comida na mesa. Natal, Ano Novo e essas coisas, não espero”. Ela explicou que a situação em casa é gravíssima: “Em casa, sou eu e meu marido. Ele já recebeu a última parcela do auxílio, também desempregado. Daqui para a frente, a gente vai ter que contar com a sorte e ajuda de Deus. Sinceramente não sei o que vai ser da gente, estou contando com a esperança de que meu filho consiga um emprego, mas de certeza mesmo [que temos] é só a falta de dinheiro e a dificuldade”. Situação similar, com problemas e dificuldades do mesmo tipo, viverão milhões de famílias esquecidas e ignoradas pelo governo.

A redução no auxílio a brasileiros e brasileiras acontece justamente em um momento de piora na crise econômica e na disseminação da fome e da miséria. Dados do final de 2020, coletados pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), apontam que 116,8 milhões de brasileiros e brasileiras conviviam com insegurança alimentar e havia 20 milhões passando fome – números que certamente aumentaram nos últimos meses, com a redução do valor do auxílio emergencial e com a crise econômica. E que serão agravados mais uma vez.

No Rio Grande do Sul, uma Porto Alegre inteira desemparada

No Rio Grande do Sul, 1,7 milhão de pessoas receberam em 2021 o Auxílio Emergencial; apenas 395 mil receberão o Auxílio Brasil. A redução de beneficiários em 1,2 milhão chega quase ao tamanho da população de Porto Alegre. É como se praticamente todos os moradores da capital gaúcha fossem, de um dia para o outro, jogados à fome.

A situação é crítica desde as grandes cidades até os pequenos municípios. Em Porto Alegre, por exemplo, eram 213 mil os beneficiários; agora, serão 50 mil, deixando desassistidas 162 mil famílias. Em Picada Café, cidade de 5,5 mil habitantes na encosta da Serra Gaúcha, 341 famílias recebiam o Auxílio Brasil, e apenas 15 receberão o Auxílio Emergencial, uma redução de 95%. Em Fagundes Varela, município com 2,7 mil habitantes que fica na mesma região, eram 197 beneficiários, e agora serão 5 – redução de 97%.

Entre as 12 cidades do estado que têm mais de 200 mil habitantes, os números são maiúsculos: 540.686 famílias perderão o auxílio que recebiam. Eram 688.996 beneficiários do Auxílio Emergencial, e serão apenas 148.310 no Auxílio Brasil, uma redução de 78,5%. Veja abaixo a situação nos 12 maiores municípios do Rio Grande do Sul:

CidadeRecebiam o Auxílio EmergencialReceberão o Auxílio BrasilPerderão o benefício
Porto Alegre21310350695162408
Caxias53373882844545
Canoas555931119944394
Pelotas609181015250766
Gravataí462841089935385
Santa Maria41751870033051
Viamão451231131133812
N. Hamburgo37046693630110
São Leopoldo35795875727038
Rio Grande34692706327629
Alvorada38989782631163
Passo Fundo26329594420385