SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

“CAPITÃO LISBOA”

Torturador que atuou com Ustra na ditadura morre sem ser responsabilizado por seus crimes duas semanas após reinstalação de Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

Morreu em São Paulo, sem ser responsabilizado por seus crimes, o delegado da Polícia Civil de São Paulo David dos Santo Araújo, conhecido como Capitão Lisboa, considerado um dos mais violentos torturadores da ditadura brasileira. A morte acontece apenas duas semanas após ser reinstalada, pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania do governo federal, a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que havia sido interrompida em 2022, no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Araújo era subordinado a Carlos Alberto Brilhante Ustra, então major das Forças Armadas, morto aos 85 anos e primeiro militar condenado pela Justiça pela prática de tortura em 2008. Araújo atuou com Ustra no Destacamento de Operações de Informação — Centro de Operação de Defesa Interna (Doi-Codi), local de práticas clandestinas de torturas, em São Paulo. Delegado aposentado da Polícia Civil, foi processado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos atos de violência que cometeu nas dependências do órgão.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade registra que o Capitão Lisboa atuou de abril a outubro de 1971 no órgão, sendo responsabilizado por crimes de tortura, execução e desaparecimento forçado. Em depoimento na Comissão Nacional da Verdade, em 2013, o policial negou as acusações. Nas acusações ao delegado aposentado constam as mortes de Aylton Adalberto Mortati e Joaquim Alencar de Seixas. Também foi responsável pela tortura do filho de Seixas, Ivan, à época apenas com 16 anos, e mais três membros da família do militante. Em 1981 chegou a receber a Medalha do Pacificador do Exército. Em 2012, como empresário da área de segurança privada, a sede de sua empresa em São Paulo foi cenário de protestos promovidos por movimentos sociais.

Instituída em 1995, a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos analisou cerca de 300 casos de abusos e violências do período militar, reconhecendo mortes e promovendo o pagamento de indenizações às famílias das vítimas. Interrompida em 2022, foi reinstalada no dia 30 de agosto.

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: Agência Brasil