SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

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Sintrajufe/RS publica texto final da série com colegas que ingressaram recentemente por políticas afirmativas na 1ª Instância da JF e no TRF4

Sintrajufe/RS publica texto final da série com colegas que ingressaram recentemente por políticas afirmativas na 1ª Instância da JF e no TRF4

No final de novembro, o Sintrajufe/RS deu início a uma série de notícias com a opinião de colegas negras e negros recém-nomeados no TRF4/JF falam sobre políticas afirmativas e representatividade no Judiciário. Esses e essas colegas são cotistas do primeiro concurso da Justiça Federal da 4ª Região com cota racial depois da resolução 203/2015, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Esse dispositivo define reserva de 20% das vagas a negros e negras para provimento de cargos efetivos e ingresso na magistratura. Confira as duas notícias anteriores AQUI e AQUI.

Aretha de Azevedo Claudionor dos Santos, nomeada no TRF4 pela política de cotas Falta ainda, muito. representatividade no sistema Judiciário. Não parece que a política de cotas esteja completamente refletida nos quadros de servidores e magistrados. Quando a gente tem falta de pluralidade, de pessoas negras, mulheres, PCDs, indígenas, LGBTs, falta de atravessamentos, principalmente entre magistrados, pode-se ter uma Justiça com olhares muito viciados.

Não há como o Judiciário ser neutro, porque é feito por pessoas, não por robôs. Mas ele busca ser justo. Portanto, na interpretação da legislação de uma forma melhor para a população, é necessário que se tenha uma pluralidade de visões. Não estou dizendo que seja injusto, mas se houvesse pessoas com maior pluralidade de vivências, teríamos um Judiciário que ao menos buscasse entender de forma mais efetiva a realidade e as mudanças sociais. As políticas afirmativas viriam para quebrar essa estrutura, para que a gente tenha, minimamente, essa pluralidade de olhar. As cotas, além de serem uma reparação histórica, beneficiam a sociedade como um todo, pois trazem um olhar diferenciado, uma voz diferente das que têm ocupado essa arena todos esses anos.

A solução passa pelas políticas afirmativas, que precisam se fortalecer e ampliar cada vez mais. Não vamos ser ingênuos, políticas afirmativas não vão acabar com o racismo no país, mas pelo menos vão dar um espaço nos locais de poder e decisão para melhorar a vida do povo preto no Brasil. Jorge Gustavo de Oliveira da Silva, nomeado pela Justiça Federal pela política de cotas Negros e pardos representam minoria nos órgãos públicos, e em cargos de mais alto escalão, não apenas no Judiciário. Acredito demais nas ações afirmativas e compreendo a necessidade de que elas existam, não apenas vendo o cenário atual. Eu acredito na igualdade por meio de ações afirmativas, uma vez que temos comprovações de que as pessoas brancas têm melhores condições de ser preparar. Em uma palestra a que assisti, Cristóvam Buarque fazia uma analogia entre jogadores de futebol e estudos; ele falava que o jogador brasileiro ia para fora porque, no futebol, a bola é redonda para todos, e nos estudos não. Eu sofri isso, porque minha mãe não teve condições de me colocar em uma boa escola, depois a gente conseguiu uma bolsa em uma escola particular. Minha faculdade fui eu que paguei, trabalhando.

Existe, sim, uma predominância das pessoas brancas por uma questão cultural das elites que vieram governar e colonizar nosso país. Quando a fala em evolução do Estado, eu gosto de ter o pé no chão, e não pensamentos utópicos. As pessoas costumam criticar a democracia, mas ela está bem melhor do que antes, com a igualdade também acontece dessa forma. Não teremos uma mudança radical da noite para o dia. Quando as pessoas veem que é possível o ingresso, se veem representadas, acredito que, além do efeito prático, tem o efeito informativo, de as pessoas perceberem que aquilo é possível para elas. Isso aconteceu comigo, perdi o medo e fui concorrer pelas cotas. A gente vai lutando contra esses padrões subjetivos do infeliz racismo estrutural, que é visto como se fosse algo comum.