SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE

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Sintrajufe/RS conclui curso para qualificar a escuta e acolhimento para questões de gênero e interseccionalidades

Foi encerrado no dia 5 de agosto o curso realizado pelo Sintrajufe/RS para qualificar a escuta e o acolhimento para questões de gênero e interseccionalidades no contexto do trabalho realizado pelo sindicato junto à categoria. O curso teve participação de diretoras e diretores, funcionárias e funcionários da entidade, com a temática “Acolhimento e escuta de situações de violência de gênero no contexto do trabalho no Judiciário Federal e no MPU do Rio Grande do Sul”.

O objetivo do curso, realizado entre julho e agosto, foi buscar o enfrentamento das diversas situações de violência pelas quais colegas passam cotidianamente, mas que têm se revestido de invisibilidade há muito tempo nos locais de trabalho. O curso foi ministrado pela psicóloga, professora da Ufrgs e pesquisadora em Psicologia Social e Institucional Simone Paulon, além da psicóloga e especialista em Saúde Pública Maíra Freitas Barbosa e da psicóloga e especialista em saúde mental Itauane de Oliveira, ambas da equipe externa da Clínica Feminista na Perspectiva Interseccional da Ufrgs.

Foram diversos os temas tratados nos quatro encontros, realizados de forma online: Cultura patriarcal no Judiciário e no MPU: como identificar situações de assédio moral e sexual no ambiente de trabalho e como intervir; violências de gênero e abordagem interseccional (gênero, raça e classe); questões históricas e estruturais da violência de gênero no Brasil; escuta e acolhimento de casos de violência de gênero: o dispositivo do acolhimento como perspectiva ética de escuta; escuta e acolhimento de casos de violência de gênero: plano de formação da base sindical, encaminhamentos e propostas de intervenções.

Veja abaixo os depoimentos de algumas e alguns dos participantes do curso a respeito da importância da atividade:

Alessandra de Andrade, diretora do Sintrajufe/RS

Esse curso de acolhimento partiu da necessidade de estarmos mais bem preparados para atender às altas demandas de casos que têm chegado ao Sintrajufe/RS em tempos de isolamento social. O Sintrajufe/RS já tinha essa preocupação e sempre acolheu esses casos que se relacionam diretamente com a saúde de trabalhadoras e trabalhadores. Com a pandemia, aumentou a procura de acompanhamento para casos de violência doméstica, assédio e até risco de suicídio, pela situação, seja de isolamento, seja de sobrecarga de trabalho.

O curso foi muito importante para nos sensibilizarmos e nos fortalecermos para atender a essas demandas, assim como para estarmos atentos às peculiaridades e às sutilezas que possam envolver uma situação de violência, muitas vezes invisível. A necessidade desse curso foi muito bem acolhida por todos e todas, visto que não só as secretarias diretamente envolvidas participaram, mas também demais membros da direção e funcionários funcionárias do Sintrajufe/RS, pois a sensibilidade nesse tipo de atendimento vem desde o primeiro contato que chega ao nosso sindicato. Ressalto minha satisfação em ver vários homens participando e identificando em si, também, situações em que até pequenas ações de machismo sejam vistas como uma forma de violência. Esse curso foi um marco no nosso trabalho, e colocá-lo em prática vai nos trazer novas experiências e nos direcionar cada vez mais ao aperfeiçoamento dessas ações.

Mara Weber, diretora do Sintrajufe/RS

A formação que fizemos para acolhimento de vítimas de violência de gênero contribui para que tenhamos maior sensibilidade na escuta e na percepção de situações que envolvam violências vividas por colegas da categoria e também fora dela. Temos uma caminhada já no acolhimento de violências no trabalho, mas precisamos entender e qualificar nossa atuação em outras áreas.  A pandemia aumentou essa preocupação pelos relatos que chegaram até nós.  Perceber e buscar ações concretas de proteção às vítimas e combate às violências de gênero faz parte do nosso compromisso de construir uma sociedade não violenta e um sindicalismo que faça a diferença.

Fernanda Pontes, assessora da Secretaria de Saúde e Relações de Trabalho do Sintrajufe/RS

O curso de formação em acolhimento e violência de gênero foi de extrema importância para mim. Ele abordou questões relevantes no olhar que precisamos ter no momento em que acolhemos pessoas que estão passando por dificuldades, seja em situações pessoais, seja em situações relacionadas a conflitos nos locais de trabalho. Um olhar que, necessariamente, passa por uma escuta ativa, empática e isenta de julgamentos ou preconceitos prévios. Além disso, as violências de gênero, muitas vezes sequer percebidas pelas vítimas por serem disfarçadas, veladas e até naturalizadas pela sociedade como algo já enraizado e estruturado culturalmente, é tema que deve ser debatido e refletido por todos. Essa capacitação, para mim, teve um sentido especial, visto que só reforça e fortalece o trabalho que já é realizado na secretaria em que atuo no Sintrajufe/RS, na qual, além dos acolhimentos realizados, buscamos formas de enfrentamento de relações abusivas dentro do ambiente laboral, que podem muitas vezes culminar em situações mais graves, caracterizadas pelo assédio moral e sexual.

Rogério Dorneles, médico da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS

O serviço público, de maneira geral, como vem sendo atacado nos últimos anos, já tem o assédio como uma forma gerencial. Existe um assédio institucional sobre as servidoras e os servidores públicos. Vários jornalistas, governantes, ficam atacando o servidor público como se ele fosse o criador da crise. A gente sabe que não. Tem uma necessidade muito grande de arrancar mais-valia, o que fica bem claro pela política econômica neoliberal, que não vê limites em acabar com as possibilidades de o Estado redistribuir alguma dignidade social para os seres humanos. Então eles atacam o servidor público. Eles usam como forma administrativa o assédio moral, e aí a gente vê um adoecimento muito grande. O assédio passou a ser uma forma normal de administrar o serviço público. Quando começa o assédio, os violentos fazem qualquer tipo de assédio, o assédio moral, o assédio sexual, são formas de agressão, de agredir, de desestruturar para conquistar seus objetivos. Então, fazer um curso nesse sentido, com pessoas acostumadas a lidar com as diversas formas de assédio, nos ajuda, enquanto sindicato, a forjar melhores instrumentos para que a gente possa ajudar as pessoas. Normalmente, o assediador atinge seu objetivo, que é desestruturar emocionalmente as pessoas. E o curso nos deu um instrumental melhor para proteger as pessoas e ajudá-las a recuperar o seu equilíbrio mental.

Simone Paulon, coordenadora do projeto Clínica Feminista na Perspectiva da Interseccionalidade, da Ufrgs

A equipe da Clínica Feminista na Perspectiva da Interseccionalidade, da Ufrgs, que coordenou o processo formativo de 8 horas de aula, realizado de modo remoto, avaliou a experiência como extremamente relevante, tanto para a entidade sindical quanto para a própria equipe que ministrou o curso. Os encontros constituíram uma oportunidade de desenvolver temas como as diversas e, muitas vezes, sutis formas com que a violência de gênero se apresenta nos processos de trabalho, a cultura patriarcal arraigada nas instituições judiciárias brasileiras e as possibilidades de ofertar um espaço acolhedor das denúncias de casos de violência de gênero,  com ênfase no conceito central desenvolvido no  curso de uma “escuta cuidadora”. As psicólogas ressaltaram a importância que assume uma entidade sindical, com o alcance e o histórico do Sintrajufe/RS, colocar uma agenda de combate à violência de gênero entre suas prioridades, especialmente em um momento de desinvestimento das políticas públicas e esvaziamento de instâncias defensoras de direitos humanos que está em curso no país. O interesse e a disponibilidade da/os dirigentes sindicais chamou a atenção das professoras, que destacaram, ainda, a riqueza que a heterogeneidade dos participantes, em termos de gênero, experiências e formações profissionais, trouxe à metodologia utilizada e aos resultados alcançados. A proposta interativa, dialógica e, apesar dos limites impostos pelo ambiente virtual, de trocas que sustentou os encontros contribuiu para que o objetivo de aguçar as sensibilidades e qualificar a escuta e o acolhimento para questões de gênero e interseccionalidades no contexto do trabalho exercido pelo Sintrajufe/RS fosse atingido.

Felipe Neri, advogado, integrante da assessoria jurídica do Sintrajufe/RS

O curso foi muito bom. Foi possível compreender a importância da acolhida à vítima assediada, e, em linhas iniciais, entender a forma mais adequada para essa acolhida.