SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DESTAQUE

Sindicalistas denunciam demissões em massa, redução de salários e suspensão de contratos

Estudo da Fundação Getúlio Vargas, divulgado no último final de semana, aponta que o desemprego no Brasil pode subir para quase 24% em meio à crise do novo coronaví­rus, dobrando a taxa atual. Hoje com 12 milhões de desempregados e 40 milhões de trabalhadores e trabalhadoras na informalidade, o paí­s pode ver ampliada em muito a miséria e a pobreza, em especial se o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e o grande empresariado mantiverem sua polí­tica de priorização dos lucros em detrimento das vidas. O Sintrajufe/RS conversou com dirigentes sindicais de categorias do setor privado que já estão sentido os efeitos da crise e dessas polí­ticas. A preocupação pelos empregos e salários dos trabalhadores e das trabalhadoras é crescente.

Mais de 2,5 mil demissões no setor calçadista do RS

João Batista da Silva, presidente da Federação Democrática dos Sapateiros do Rio Grande do Sul, destaca que a Federação está na luta contra as demissões que estão ocorrendo no setor. Segundo ele, no Rio Grande do Sul já foram mais de 2,5 mil demissões em meio à crise. Para Batista, os patrões do setor de calçados estão se aproveitando da desgraça que está ocorrendo .

Ele aponta que os empresários do setor não estão sequer utilizando as permissões do governo de Bolsonaro para a suspensão de contratos de trabalho ou a redução de salário e jornada: estão optando pela demissão direta, sem qualquer negociação. Diversas empresas, denunciam, não estão abrindo as portas para dialogar com os sindicatos e com a federação, que buscam defender os empregos e as vidas dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Metalúrgicos lutam contra oportunismo dos patrões

A situação dos trabalhadores metalúrgicos não é mais animadora do que a dos sapateiros. Valmir Lodi, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo e Região, afirma que muitos estão sendo forçados a fazer acordos individuais para a suspensão do contrato de trabalho ou para a redução de salário e jornada. Ao mesmo tempo, muitos sofrem ameaças de demissão, enquanto diversas empresas já estão efetivando a dispensa e deixando trabalhadores e trabalhadoras desassistidos.

Conforme Valmir, o sindicato ainda não tem um levantamento completo das demissões, mas ele conta que todos os dias a entidade recebe pedidos de acordo para suspender contratos de trabalho, rebaixar salários ou demitir. Para enfrentar a situação, o sindicato está buscando as entidades patronais para buscar diálogo e procurar segurar os empregos e salários neste momento.

Bancários expostos ao ví­rus

No caso dos bancários, além da manutenção dos empregos e salários, a luta é para garantir a proteção dos trabalhadores e trabalhadoras que seguem atuando nas agências. Everton Gimenis, presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região, afirma que a categoria está passando por grandes problemas. Embora algumas conquistas tenham sido alcançadas, como o afastamento dos trabalhadores que estão nos grupos de risco e a priorização do teletrabalho, ainda há graves dificuldades: dos 450 mil bancários, mais de 200 mil seguem trabalhando nas agências e departamentos. E, como conta o dirigente, as agências são lugares de contágio, muitas vezes ficam abarrotadas, recebem muitos clientes, e os bancários ficam expostos . Por isso, o sindicato está cobrando medidas de segurança, em especial o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs).

Ao mesmo tempo, há que se lutar contra as ameaças de demissão. Também nesse terreno vitórias foram alcançadas: os três maiores bancos privados do paí­s se comprometeram a não demitir durante a crise. Porém, os bancos menores estão demitindo ou tentando reduzir os salários sem negociar com o sindicato. A entidade busca negociar com a federação patronal e diretamente com cada banco, além de atuar pelo fechamento das agências que não cumprem as medidas protetivas. É um momento difí­cil para a categoria, mas nós estamos fazendo de tudo para que o trabalho seja o mais seguro possí­vel , diz Gimenis. E completa: Para os bancos, o lucro vale mais do que a vida, por isso temos que cobrar que os bancários tenham segurança no local de trabalho .

Trabalhadores da agricultura familiar denunciam menor preço para produtores e maior para consumidores

A tentativa de explorar e lucrar com a crise também passa pelos intermediários do setor alimentí­cio. O coordenador geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul, Rui Valença, denuncia que os agricultores familiares estão recebendo menos por produtos como o leite, que, ao chegar ao consumidor, tem os preços cada vez mais altos: Esse aumento para o consumidor não tem justificativa alguma, a não ser o mau caratismo de alguns empresários, seja do setor da indústria, seja do setor do comércio. A gente não tem certeza onde está o problema, mas sabemos que o agricultor está recebendo menos e o consumidor pagando mais , explica.

Além de menos pagamento, esses trabalhadores sofrem com a estiagem iniciada em dezembro e que prejudica a produção. A situação foi agravada pela crise gerada pelo novo coronaví­rus e pela falta de apoio do governo: Os trabalhadores estão fazendo a sua parte, falta os empresários fazerem a sua, não tentar aproveitar o momento para ganhar mais. E falta também o governo fazer a parte dele. As medidas que apresenta para os trabalhadores são muito pouco, não vão resolver o problema. E se sabe que tem recursos pra isso, já que estão socorrendo o sistema financeiro, os bancos. Então não é falta de recursos, e sim de vontade polí­tica , critica Rui.

Bolsonaro e Guedes seguem atacando direitos enquanto desemprego dispara

O problema não é brasileiro, é verdade. Somente nos Estados Unidos, mais de 10 milhões de trabalhadores haviam entrado com pedido de seguro desemprego até o iní­cio de março. A tragédia sanitária se combinará logo mais com uma tragédia social provocada pelo desemprego em massa. No Brasil, antes da crise já eram 12 milhões de pessoas desempregadas e cerca de 38 milhões na informalidade. O drama pode ser visto nas filas que se formam nas agências da Caixa e da Receita Federal atrás dos meios para retirar os R$ 600,00 de auxí­lio emergencial. São urgentes medidas que garantam o emprego e a renda e impeçam um retrocesso social jamais visto, mas nada indica que Bolsonaro e Paulo Guedes têm disposição de tomá-las.