Na última quinta-feira, 9, o Clube de Cultura, tradicional espaço de debates em Porto Alegre, recebeu o lançamento do livro “Nem Loucos, Nem Mortos”, que apresenta relatos de presos políticos da ditadura militar que estiveram na cadeia de Coronda, na Argentina. A atividade ocorreu na mesma semana em que completou 50 anos a chamada “Operação Limpeza”, na qual agentes da ditadura brasileira ocultaram os rastros do massacre do Araguaia, na divisa dos Estados do Pará, Maranhão e do atual Tocantins.
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“Nem Loucos, Nem Mortos” foi publicado originalmente na Argentina, em Espanhol, pela Associação “El Periscópio”, constituída por ex-presos políticos de Coronda. Os textos remetem a fatos ocorridos entre 1974 e 1979, quando 1.153 presos passaram por Coronda, entre eles o brasileiro Flavio Koutzi, referência no Brasil na luta por memória e verdade sobre o período da ditadura. O título, “Nem Loucos, Nem Mortos”, faz referência à aposta dos carcereiros, de que os presos só sairiam de Coronda “mortos ou loucos”.
Em 2023, a obra foi traduzida ao português e, agora, lançada no Clube de Cultura, com organização da Associação Cultural José Martí (ACJM) e do próprio Flavio Koutzi. Além dele, estiveram presentes diversos ex-presos políticos de Coronda, como Alberto Marquerdt, Hugo Borgert, Guillermo Martini, Jose Villareal, Raul Chiartano e Orlando Barquin, membros do coletivo “El periscópio”. Com o Clube de Cultura lotado, foi um momento de reflexão, debates e convivência, com a certeza da importância de manutenção da memória histórica.
Veja abaixo reportagem da TVT sobre o lançamento:
“Operação Limpeza” completa 50 anos
Na mesma semana em que a atividade no Clube de Cultura fortaleceu o resgate da memória, completou 50 anos a operação por meio da qual agentes da ditadura militar brasileira ocultaram os rastros do massacre cometido contra os guerrilheiros do Araguaia. Entre os dias 1º e 10 de janeiro de 1950, cerca de 50 corpos foram desenterrados do local da guerrilha e transportados dentro de sacos pretos em helicópteros da Aeronátuca. Depois, foram reunidos a pneus e queimados.
Movimento armado que combateu a ditadura entre 1967 e 1974, organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Guerrilha do Araguaia foi encerrada com a morte da maioria dos seus cerca de 80 integrantes.
Os relatos sobre o desaparecimento dos corpos foi dado pelo coronel da Aeronáutica Pedro Corrêa Cabral, que pilotou um dos helicópteros, em um processo do Ministério Público Federal. As ações judiciais sobre a Guerrilha do Araguaia, porém, foram arquivadas por conta da Lei da Anistia. Em dezembro do ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino considerou, por outro lado, que a Lei da Anistia não se aplica nesse caso, pois a ocultação de cadáver se prolonga no tempo em atos posteriores à vigência da lei. O tema aguarda decisão do plenário do STF.