SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DITADURA

Lançamento de livro sobre prisão da ditadura militar lota Clube de Cultura, em Porto Alegre na semana em que operação que apagou rastros do massacre no Araguaia completa 50 anos

Na última quinta-feira, 9, o Clube de Cultura, tradicional espaço de debates em Porto Alegre, recebeu o lançamento do livro “Nem Loucos, Nem Mortos”, que apresenta relatos de presos políticos da ditadura militar que estiveram na cadeia de Coronda, na Argentina. A atividade ocorreu na mesma semana em que completou 50 anos a chamada “Operação Limpeza”, na qual agentes da ditadura brasileira ocultaram os rastros do massacre do Araguaia, na divisa dos Estados do Pará, Maranhão e do atual Tocantins.

“Nem Loucos, Nem Mortos” foi publicado originalmente na Argentina, em Espanhol, pela Associação “El Periscópio”, constituída por ex-presos políticos de Coronda. Os textos remetem a fatos ocorridos entre 1974 e 1979, quando 1.153 presos passaram por Coronda, entre eles o brasileiro Flavio Koutzi, referência no Brasil na luta por memória e verdade sobre o período da ditadura. O título, “Nem Loucos, Nem Mortos”, faz referência à aposta dos carcereiros, de que os presos só sairiam de Coronda “mortos ou loucos”.

Em 2023, a obra foi traduzida ao português e, agora, lançada no Clube de Cultura, com organização da Associação Cultural José Martí (ACJM) e do próprio Flavio Koutzi. Além dele, estiveram presentes diversos ex-presos políticos de Coronda, como Alberto Marquerdt, Hugo Borgert, Guillermo Martini, Jose Villareal, Raul Chiartano e Orlando Barquin, membros do coletivo “El periscópio”. Com o Clube de Cultura lotado, foi um momento de reflexão, debates e convivência, com a certeza da importância de manutenção da memória histórica.

Veja abaixo reportagem da TVT sobre o lançamento:

“Operação Limpeza” completa 50 anos

Na mesma semana em que a atividade no Clube de Cultura fortaleceu o resgate da memória, completou 50 anos a operação por meio da qual agentes da ditadura militar brasileira ocultaram os rastros do massacre cometido contra os guerrilheiros do Araguaia. Entre os dias 1º e 10 de janeiro de 1950, cerca de 50 corpos foram desenterrados do local da guerrilha e transportados dentro de sacos pretos em helicópteros da Aeronátuca. Depois, foram reunidos a pneus e queimados.

Movimento armado que combateu a ditadura entre 1967 e 1974, organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Guerrilha do Araguaia foi encerrada com a morte da maioria dos seus cerca de 80 integrantes.

Os relatos sobre o desaparecimento dos corpos foi dado pelo coronel da Aeronáutica Pedro Corrêa Cabral, que pilotou um dos helicópteros, em um processo do Ministério Público Federal. As ações judiciais sobre a Guerrilha do Araguaia, porém, foram arquivadas por conta da Lei da Anistia. Em dezembro do ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino considerou, por outro lado, que a Lei da Anistia não se aplica nesse caso, pois a ocultação de cadáver se prolonga no tempo em atos posteriores à vigência da lei. O tema aguarda decisão do plenário do STF.