Em 12 de agosto de 1983, a trabalhadora rural e líder sindical Maria Margarida Alves era assassinada a mando de latifundiários. Ela contava 50 anos; o crime ocorreu na porta de casa, na frente de seu único filho e do marido. O crime segue impune, mas seu legado está vivo. A cada dois anos, milhares de mulheres das cinco regiões do país fazem grandes manifestações em Brasília, na Marcha das Margaridas, nome que homenageia a sindicalista.
Maria Margarida era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, no interior da Paraíba, representando camponeses e camponesas explorados, sem direitos trabalhistas, com longas jornadas nos canaviais, baixa remuneração. O trabalho infantil era comum na região na década de 1980, especialmente na Usina Tanques, a maior da Paraíba na época e contra a qual Margarida movia mais de cem ações trabalhistas.
As lutas
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Caçula de nove irmãos, Margarida Alves vivenciou, na infância, a família ser expulsa de suas terras por latifundiários. Somente depois de mais velha conseguiu completou a quarta série do ensino primário. A pouca escolaridade não a impediu de lutar para que outras pessoas pudessem estudar e, durante sua gestão no sindicato, foi criado um programa de alfabetização para adultos usando os métodos de Paulo Freire.
Entre as lutas travadas pela líder sindical estavam a busca pela contratação com carteira assinada, o pagamento do décimo terceiro salário, o direito das trabalhadoras e dos trabalhadores de cultivar suas terras, a educação para seus filhos e filhas e o fim do trabalho infantil no corte de cana. Isso era uma facada no cofre dos patrões. Eles queriam os trabalhadores escravos, as filhas dos trabalhadores [trabalhando na casa] deles até serem violentadas, seja por eles ou pelos seus filhos, caladas. Foi aí que surgiu a perseguição contra Margarida e contra todos os que defendiam os direitos dos trabalhadores , conta Maria da Soledade Leite, trabalhadora rural que conviveu com Margarida.
Em função de sua luta por direitos, não tardou para que começassem as intimidações à atuação de Margarida. Os próprios trabalhadores contavam sobre as ameaças que ouviam de seus patrões e feitores. Ela costumava dizer que não tinha medo: não tinha medo de agir nem de falar.
Editado por Sintrajufe/RS; fonte: Fundação Perseu Abramo e Brasil de Fato.