SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

QUILOMBO ALPES

Grupo armado ameaça o maior quilombo de Porto Alegre e, sem apoio das autoridades, moradores organizam vigí­lias

Desde o final de agosto, os moradores do Quilombo Alpes, o maior do perí­metro urbano de Porto Alegre em termos de extensão, organizaram vigí­lias noturnas para garantir a segurança das 120 famí­lias que vivem no local. No dia 28, a Polí­cia Militar foi acionada para dispersar cerca de 20 pessoas armadas que tentavam invadir a área demarcada e casascuja construção encontra-se paralisada há dois anos devido à falta de repasses do governo federal.

Muitas crianças não estão podendo ir à escola, perdemos o direito de ir e vir , conta uma moradora que pede para não ser identificada por medo de represálias. O risco é total, se eu descer e for fazer uma atividade corriqueira de ir trabalhar não sei se vou voltar viva pra casa . Segundo relatos, dias antes da tentativa de invasão armada, homens circularam de carro pelo local, marcando com um X habitações não concluí­das, financiadas dentro do programa Minha Casa Minha Vida Entidades pela Caixano total são 50 unidades, sendo os Alpes o primeiro quilombo do paí­s a ser contemplado pela iniciativa.

Por se tratar de um lugar de difí­cil acesso, uma das hipóteses é de que os promotores da ação criminosa tenham conhecimento do terreno. Além disso, o entorno é alvo de recorrentes disputas de facções do crime organizado, especulação imobiliária (envolvendo inclusive invasões próximas ao local) e grilagem de terras. O Ministério Público Federal abriu um inquérito criminal para investigar o caso.

A carência de iluminação e de sinalização nas estradas de acesso ao quilombo, além da densa vegetação, são fatores que tornam o local vulnerável. O jogo de empurra das instituições federais, municipais e estaduais em relação às outras necessidades impede o avanço da infraestrutura e, especialmente, da sonhada titulação da terra. Desde 2016, o processo não anda. Nossa principal demanda é pela titulação do território, já cumprimos todas as outras etapas desse processo de reconhecimento por parte do Estado , relata outra moradora. Entretanto, a urgência desse momento é por nossa segurança, todos os órgãos competentes foram acionados para que se façam presentes, especialmente a Polí­cia Federal.

Por se tratar de uma área reconhecida pela União, caberia à Polí­cia Federal agir, mas são a Brigada Militar e a Guarda Civil as que neste momento realizam rondas no perí­metro. O reduzido contingente das corporações diante da área de atuação que engloba bairros populosos como o Cruzeiro, Cristal e Glória impede uma presença mais constante, razão pela qual os quilombolas avaliam a possibilidade de acionamento da Força de Segurança Nacional ou o pedido de designação de mais efetivo das outras instituições.

Estamos falando de um quilombo reconhecido pelo Estado e pela Fundação Palmares. Autuamos a Prefeitura e os órgãos de segurança para dar garantia à vida e à propriedade da comunidade , afirmou o vereador Matheus Gomes (Psol), integrante da bancada negra da capital.

A retomada das obras prometida pela Caixa Econômica e o engajamento para dar visibilidade aos acontecimentos são apontados como fatores fundamentais para distensionar o ambiente. Há 14 anos o assassinato de dois quilombolas dentro da zona de demarcação dos Alpes por questões relativas à especulação imobiliária já evidenciava a vulnerabilidade a que estão expostos os residentes há muito tempo.

Ataques e episódios de violência a pelo menos outros quatro quilombos da cidade somente nos últimos dois anos comprovam as dificuldades enfrentadas pelas populações. Estamos pedindo socorro. Não é justo viver dessa forma. Não vamos deixar esse espaço, mas não queremos viver confinados e com medo , resume uma quilombola.

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: Carta Capital.