O governo de São Paulo, comandado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas (REP), sancionou uma homenagem a um notório coronel da ditadura militar brasileira. A decisão rebatiza um viaduto que fica em Paraguaçu Paulista, interior de São Paulo, com o nome Deputado Erasmo Dias . A mudança foi repudiada por diversas entidades.
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A homenagem foi proposta em 2020 por meio de projeto de lei do então deputado estadual Frederico D’ávila (PL), aprovada na Assembleia Legislativa de SP, sancionada na última terça-feira, 27, e publicada no Diário Oficial na quarta, 28. Já nessa quinta, 29, O deputado Carlos Alberto Giannaz (Psol) protocolou um projeto de lei para revogar a lei sancionada e entrou com representação no Ministério Público.
Quem foi Erasmo Dias
Ainda antes do início da ditadura, o coronel Erasmo Dias participara, em 1962, de tentativa frustrada de depôr o presidente João Goulart. Em 1964, participou ativamente do golpe. Na década seguinte, foi secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, quando ganhou notoriedade por conta de uma ação violenta contra estudantes, em 1977: em um encontro realizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) que desafiou a proibição de concentração estudantis, na PUC/SP, o coronel apareceu com policiais que perseguiram os dois mil jovens com cassetetes e bombas. Anos depois, Erasmo Dias falou sobre o caso: Não faria nada diferente. Só usamos gás lacrimogêneo para fazer chorar e água fria para esfriar a cabeça: são coisas ótimas para quem está de cabeça inchada , disse o agora homenageado, que mais tarde seria deputado e vereador.
Repúdio
A PUC/SP divulgou nota sobre a sanção da homenagem ao coronel: É inconcebível homenagear-se um eminente fascista que durante a ditadura militar, como secretário de segurança de São Paulo, notabilizou-se pela repressão e tortura física a todos aqueles que erguiam as suas vozes contra o arbítrio. Na PUC-SP ainda são sentidos os ecos da truculenta invasão do campus Monte Alegre, em 22 de setembro de 1977, que deixou sequelas em diversos estudantes, prendendo e humilhando centenas de alunos, professores e funcionários da universidade , diz a universidade.
A Comissão de Defesa de Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns enviou uma carta ao governador defendendo a anulação da lei: Adepto do uso da truculência contra a população civil, os estudantes e os militantes da resistência ao golpe militar, Erasmo Dias, falecido em 2010, ostenta um tenebroso currículo formado a partir das suas posições de comando, quando empreendeu ações de repressão, tortura e morte nos chamados anos de chumbo , ressalta a carta, que relata: Em 1968, como comandante da Fortaleza de Itaipu, na cidade de Praia Grande, assim atuou no encarceramento de jovens que participavam de um congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna. Da mesma forma, em 1970, usou de violência e tortura na repressão a militantes que lutavam contra a ditadura, no Vale do Ribeira. Como secretário de Segurança do Estado de São Paulo, em 1977, coordenou a brutal invasão da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em que policiais militares agrediram e feriram dezenas de estudantes, além de rasgar livros da biblioteca da universidade .
Com informações do portal G1, do jornal O Globo e da Folha de S. Paulo